Jorge Pereira, professor de Estudos Ingleses e Norte-Americanos na Universidade do Minho, falou sobre a sua tradução e estudo da obra de Frederick Jackson Turner.
O académico Jorge Pereira rumou na passada quarta-feira à Livraria Centésima Página, em Braga, para refletir sobre o livro “O Significado da Fronteira na História Americana”. Acompanhado pelo professor Jaime Costa e de um representante da editora Book Cover, apresentou a primeira tradução para língua portuguesa do clássico de Frederick Jackson Turner.
O ensaio original, primeiro publicado em 1893, surgiu com o propósito de reforçar a cultura singular norte-americana. Para Turner, a ideia da América foi construída a partir da fronteira: o deslumbramento com um território inóspito, livre das constrições e poderes europeus, que convidava os aventureiros e os excluídos do velho mundo a criar uma sociedade melhor que as anteriores.
O professor Jaime Costa lembrou Ralph Waldo Emerson, que caraterizou os Estados Unidos da América como um espaço para um homem-novo, um pensador em relação constante com a natureza. O autor pertencia ao transcendentalismo, corrente filosófica que se fundamentava na bondade inerente do indivíduo e do meio natural. Deste modo, as pessoas dão o seu melhor quando são autossuficientes, libertas das amarras concebidas pelas instituições da sociedade.
Os textos de Emerson foram uma influência para Turner, que assim acreditava na democracia e no individualismo como valores basilares da identidade americana. A sua Tese da Fronteira surgiu num momento em que os Estados Unidos da América deram a sua fronteira como fechada, com os territórios conquistados ou adquiridos que se estendiam da costa este a oeste do continente. Enquanto os Estados Unidos da América surgiram numa revolução desejosa de quebrar os laços com a Europa, Turner julgava que a historiografia do seu tempo tratava o país “como um prolongamento da existência europeia”, segundo Jorge Pereira.
Jaime Costa referiu que as pessoas na Nova Inglaterra, região fundacional dos Estados Unidos da América situada no Nordeste, começaram a pensar na democracia como um espaço de igualdade de género e racial. Esta era uma perspetiva não-ensaiada e não-aceite na Europa, “onde um camponês não podia ascender em classe social”. O processo de americanização passava então, para Turner, pela clarificação intelectual do mythos americano. De acordo com o dicionário Collins, o mythos é um agregado de atitudes e de comportamentos que caraterizam um grupo ou uma sociedade particular.
A formação de um mythos americano ajudou a obter uma coesão na compreensão do mundo, moldando nos americanos uma perspetiva pessoal da realidade diferente das existentes na Europa. Jaime Costa referiu que “a questão do mito é importante, porque a evolução parte da rejeição dos saberes mitológicos”. No caso dos Estados Unidos da América, refere-se à rejeição dos saberes mitológicos europeus, formados milénios antes pelas várias civilizações do mar Mediterrâneo.
O mythos americano forma-se em parte nos valores consagrados pela Declaração de Independência dos Estados Unidos, de “que todos os homens são criados iguais, com certos direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a busca pela felicidade”. Para o professor Jaime Costa, “a América salvou da morte e da fome muita gente. Surgiu como uma nova oportunidade para aqueles que não encontravam o seu espaço na sua terra de origem”.