Os candidatos à direção da AAUM confrontaram-se pela última vez na sexta-feira. O financiamento das campanhas e da AAUM e a relocalização do Enterro da Gata foram os temas mais quentes.
A cinco dias das eleições para os órgãos sociais da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), os candidatos à direção esgrimiram os últimos argumentos. Num debate organizado e moderado pelo ComUM, as divergências de opinião entre Nuno Reis, da Lista A, e Rui Miguel Silva, da Lista B, foram notórias.
A relocalização do Enterro da Gata, o financiamento das campanhas e a cultura foram alguns dos temas que motivaram discussões mais acesas entre os concorrentes. Por outro lado, questões relacionadas com o alojamento e a segurança levaram a uma relativa concordância entre os dois, apesar de não terem deixado de lançar críticas às listas adversárias.
Forum Braga é a opção mais viável para o Enterro, mas não a única
A Alameda do Estádio Municipal de Braga vai deixar de ser o palco do Enterro da Gata devido às obras de alargamento da Academia do Sporting Clube de Braga. Os dois candidatos concordam com o facto de o Altice Forum Braga ter a dimensão mais adequada para acolher o evento a partir deste ano, mas as convergências ficam por aqui.
Nuno Reis desafiou Rui Miguel Silva a apresentar outras alternativas para o local do certame. O representante máximo da Lista B sugeriu o Estádio 1º de Maio, que já foi utilizado para este efeito no passado, e o parque de estacionamento do Estádio Municipal, por ser “três vezes maior que a Alameda”.
Perante a desconfiança do candidato da Lista A sobre a existência e as condições deste último espaço, Rui Miguel Silva utilizou o telemóvel com o intuito de comprovar a veracidade da sua afirmação. Já Nuno Reis esclarece que a localização do Enterro da Gata é um dossiê que ainda não está fechado, mas que o tenciona fazer em breve. “Gostávamos muito de começar o novo ano já com um novo local para o Enterro da Gata. Neste momento não é possível”.
Sedes da AAUM. Requalificação ou construção?
Se os dois candidatos não têm dúvidas em afirmar que são necessárias obras de manutenção na sede da AAUM de Azurém, o mesmo não se pode dizer em relação ao edifício que existe em Braga. Rui Miguel Silva admite a hipótese de requalificar este espaço, mas também não nega a existência da construção de uma nova sede. Ainda assim, considera que algo tem de ser feito rapidamente porque se encontra em “condições medíocres”.
Para o candidato da Lista B, os grupos culturais são os mais prejudicados. “Os grupos culturais têm uma necessidade grande e urgente de ter um espaço com condições físicas, de segurança e também de acessibilidade que seja digno”.
Por seu turno, Nuno Reis é mais perentório, descartando a hipótese da requalificação do espaço já existente. Adianta ainda que há algumas opções para a nova sede da AAUM, mas acredita que o descampado popularmente conhecido como ‘Iraque’, junto ao campus, “é o melhor espaço para a sede da AAUM”.
Alojamento universitário preocupa as duas listas
A escassez, as condições e os preços do alojamento universitário são questões que têm ganho cada vez mais força ao longo dos últimos anos. Rui Miguel Silva considera que falta “reivindicar mais e lançar propostas” junto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. “Não conseguimos financiar o alojamento, não o conseguimos construir”. O candidato da Lista B exige que se faça mais “pressão política”, expressão utilizada várias vezes ao longo do debate, em diversos temas.
Nuno Reis acusa Rui Miguel Silva de não ter medidas concretas, aludindo ao facto de a lista adversária não ter apresentado o manifesto. Salienta também os dois estudos que a AAUM fez, onde identificou os problemas associados ao alojamento, e que é preciso “efetivar as medidas” que estão pensadas. Uma delas passar por construir residências universitárias através da reabilitação de espaços públicos.
Candidatos propõe medidas para combater atraso nas bolsas
Mais de metade dos alunos ainda não recebeu o resultado relativo às bolsas de estudo da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES). Nuno Reis justifica o atraso com um “erro detetado na interoperabilidade dos dados nos serviços financeiros da DGES, que não permitia que os estudantes apresentassem as suas declarações de rendimentos”. O candidato da Lista A sublinha que já tinha alertado para este problema e que é necessário “apresentar medidas construtivas no sentido de identificar problemas informáticos mais cedo”.
Já Rui Miguel Silva propõe a criação de um Gabinete de Apoio Jurídico na AAUM, alertando para a gravidade desta questão. “É uma situação grave. Isto só prova que a Ação Social, mesmo ao nível do estado central tem falhado bastante”. O candidato da Lista B aproveitou a situação para voltar a falar da importância da Ação Social e da necessidade da redução do valor das propinas, que têm sido pontos-chave na sua campanha.
Transportes. Da criação de passes à entrada dos TUB no campus
O candidato da Lista B defende a existência de um passe para os transportes da AAUM por ser “mais eficaz para o quotidiano dos alunos” e a diminuição do preço mensal do serviço, que ronda os 44 euros. A proposta de Rui Miguel Silva passa por baixar para valores cifrados entre os 20 e os 35 euros.
Por seu turno, Nuno Reis sublinha que desde que o serviço de transportes foi criado, em 2013, a AAUM “nunca aumentou um cêntimo, apesar do aumento do preço dos combustíveis”. Além disso, salienta que já houve reuniões com os Serviços de Ação Social da Universidade do Minho (SASUM) em relação à possibilidade de haver passes sociais. “A ideia é que exista um sistema integrado de dados que permita que as senhas de transporte sejam compradas com cartão de estudante”, sendo extensível para outros serviços, como cantina, ginásio e reprografia.
Sobre a possibilidade dos Transportes Urbanos de Braga (TUB) entrarem no campus de Gualtar, Nuno Reis alerta que já foi feito um estudo em que a Reitoria coloca alguns entraves. Já Rui Miguel Silva considera que poderia ser benéfico para os alunos a existência de várias paragens dentro do campus.
Apelo à prevenção para aumentar a segurança
Ultimamente, a violência e a falta de segurança em zonas próximas da Universidade do Minho tem sido um tema recorrente. O candidato da Lista B exige que haja “um conhecimento maior, mais eficaz e mais efetivo” para que as pessoas se sintam “mais seguras extra-campus”. Invoca ainda a possibilidade de haver sistemas de videovigilância.
O líder da Lista A reuniu-se esta semana com o Comando Distrital da PSP de Braga e com responsáveis da Universidade do Minho, da autarquia e das juntas de freguesias de São Vítor e Gualtar. Nuno Reis adiantou que vai haver um aumento do policiamento e de medidas de prevenção, de forma a fomentar a segurança pública.
Financiamento das campanhas e da AAUM motivam discórdia
Rui Miguel Silva explica que o financiamento da campanha é feito pelos membros da Lista B. “Não é financiado por mais ninguém. Eu imprimo os meus cartazes em casa”. Acusa a Lista A de “falta de transparência”, aludindo ao facto de os adversários não terem dado a conhecer os parceiros que pagam a campanha.
Nuno Reis lembra que, perante a lei, não é obrigado a fazê-lo, mas que, se for essa a vontade dos estudantes, respeitará a decisão. Responde ao concorrente, dizendo que a Lista B “falar de transparência é quase motivo de comédia”, voltando a salientar a ausência de manifesto dos oponentes.
Ambos consideram que a AAUM tem de ser clara nas suas contas e apresentar uma sustentabilidade financeira, mas voltam a discordar quando falam dos fundos que a associação dispõe neste momento. Rui Miguel Silva afirma que, segundo o relatório periódico, “a Associação Académica tem em caixa 46 mil euros e está a pagar um empréstimo neste momento. Falta saldar por volta de 128 mil euros”.
Nuno Reis refuta a acusação do concorrente e diz que o candidato da Lista B tem “ideias vagas e infundadas sobre o assunto”. “A AAUM nunca recorreu a empréstimos bancários. Não faço a mínima ideia onde foste buscar o valor”
Revisão dos estatutos, ambiente e cultura
O concorrente da Lista B defende o fim da eletividade censitária, que considera ser algo do “século mais do que passado”. Já Nuno Reis lembra que os estudantes podem fazer as propostas que entenderem, mas que “um candidato [aos órgãos sociais] deve ser sócio da AAUM e pagar as suas quotas”.
No que diz respeito às questões ambientais, Rui Miguel Silva aplaude a medida de se utilizarem copos reutilizáveis, tal como aconteceu na Receção ao Caloiro, mas lembra isso não chega. Considera que é preciso potenciar a reforma de alguns edifícios pertencentes à universidade porque “consomem um grande nível de energia, poluem e produzem grandes quantidades de dióxido de carbono”.
Nuno Reis adianta que estão a ser implementadas algumas medidas, em colaboração com os SASUM e a Universidade do Minho, dando o exemplo da reciclagem nas residências. No que toca à cultura diretamente ligada à AAUM, o candidato da Lista A acusa Rui Miguel Silva de ter uma “perspetiva demagógica” no apoio aos grupos culturais e de falta de conhecimento do que acontece com os núcleos de Teatro e de Música.
Já o candidato da Lista B alerta para as dificuldades financeiras que os grupos culturais passam e diz que Nuno Reis “só trabalha para rankings, para folhas excel”. Esta afirmação surge depois do responsável máximo da Lista A ter desafiado o adversário a explicar como se avaliam os rankings na cultura, depois de Rui Miguel Silva ter dito que queria que a UM fosse também nº1, a nível europeu, nesta área, como acontece no desporto.
Entre várias provocações e insinuações, os dois candidatos consideram que as listas que encabeçam são bastante distintas e que podem servir os estudantes de forma totalmente diferente. Nuno Reis procura o segundo mandato consecutivo e continuar o “bom trabalho” desenvolvido até agora, já Rui Miguel Silva pretende acabar com o que diz ser “o ciclo vicioso na AAUM”. A campanha para as eleições termina este domingo e o sufrágio acontece na terça-feira.