Todos nós conhecemos a história de Robin Hood: o herói de collants, com refinados skills no arco e flecha, que roubava aos ricos para dar aos pobres. Um fora da lei que se tornou num clássico cinematográfico e que conquistou o coração de um numeroso e diverso público. Pois bem, Otto Bathurst decidiu pegar na lenda medieval pela orelha, virá-la ao contrário e abanar para ver se caíam moedas… mais moedas…
Robin Hood, ao contrário das versões anteriores, conta o percurso de vida de Robin de Loxley (Taron Egorton), um jovem nobre apaixonado, que é destacado para combater em nome da Igreja, o seu regresso a Nottingham e a sua gradual transformação em herói.
Penso que houve uma busca desesperada pela modernidade e inovação por parte da equipa criativa: desde o guarda-roupa aos efeitos especiais, negligenciando o argumento, que revelou fragilidades ao nível da coerência e imprevisibilidade. A magia do romance entre Robin e Marian esvoaçou por entre as chamas, as motivações de Robin surgem repartidas pelos cantos escuros do cenário, o próprio humor rastejou sem tocar na grande generalidade dos espectadores e o desfecho foi conseguido com uma certa porção de displicência. Em contrapartida, o uso da câmara lenta foi brilhantemente utilizado e os ângulos de ação foram explorados de modo inteligente.
O elenco, ao nível de individualidade, é fabuloso, já enquanto conjugação de talento não funcionou. Atenção, a echarpe azul petróleo e as marcas no rosto conferem a Jamie Foxx muito charme, não menosprezando os musculados ombros de Taron Egorton no casaco de cabedal da Zara ou a camuflada pronúncia de Jamie Dornan (sejamos francos, depois das 50 Sombras de Grey é impossível desassociá-lo do erótico bilionário que gosta de chicotes e tem um jato e atribuir-lhe o papel de voz do povo fraco e miserável).
O filme, na sua globalidade, é uma espécie de estilização do clássico: muito barulho e pouco conteúdo. Construído para a emoção momentânea, desprovida de senso e de fácil consumo. O Robin que conhecemos e adoramos consegue disparar uma flecha a 832 metros, montado num cavalo a galope, sufocado por vegetação, e ainda assim acertar no copo de shot com que o soldado Zé brinda Urra. No entanto, numa sala de cinema cheia, a dez metros da audiência, o moderno motor da revolução, Robin, foi incapaz de acertar no meu coração… talvez tenha acertado no senhor sentado na fila B, no lugar 11, que transpareceu genuíno rejubilo quando cortaram uma mão, decapitaram uma criança, esfaquearam um padre ou quando a Marian surgiu com os lábios vermelhos e o seu decote pronunciado.