No passado sábado à noite, durante cerca de três horas, os presentes no Fórum Braga respiraram e dançaram música portuguesa.
Numa semana que se prevê repleta de comemorações devido à Final Four da Taça da Liga – mais uma vez a disputar-se no estádio Municipal de Braga –, a organização optou por dar início às festividades oferecendo aos bracarenses dois concertos de dois dos artistas mais estimados da cena musical nacional: António Zambujo e Miguel Araújo.
António Zambujo e a sua banda, composta por cinco elementos, “abriram o baile”. O artista revisitou temas dos seus diversos álbuns, desde os mais clássicos, como “Apelo”, até aos mais arrojados. O cantor sabe melhor do que ninguém “brincar” com os estilos musicais: ao fado, consegue acrescentar um toque de jazz, um pingo de bossa-nova ou um cheirinho de samba, sem que ninguém estranhe.
A audácia seduz o público, que adere imediatamente à fusão de géneros. O contrabaixista e diretor musical, Ricardo Cruz, não é alheio a esta originalidade que resulta e encanta. A associação do clarinete (por José Couto) e da guitarra portuguesa (por Bernardo Couto) deram uma nova vida à “A Casa Fechada”. Também os temas “Canção de Brazzaville” e “Flagrante” realçam a versatilidade da banda. O público não resistiu aos toques de samba e soltou o pezinho.
“Abandonado” pelos seus músicos, foi a sós, com a sua viola, que o intérprete cantou a sua versão de “Menina estás à janela” e de “Não é tarde, nem é cedo”, com a ajuda do público. Mas o seu cúmplice Miguel Araújo não o deixou a sós em palco por muito tempo. Foi de uma forma descontraída e como se estivessem “em casa” que interpretaram o badalado “Pica do 7” e o recente “Catavento da Sé”, tema do último álbum de Zambujo, intitulado “Do Avesso”.
Para o final deste primeiro concerto da noite, a banda regressou para, entre outros, os incontornáveis temas “Zorro” e o acelerado “Reader’s Digest”.
Após um breve intervalo, foi a vez de Miguel Araújo animar o público presente. E era mesmo animar o objetivo da banda, já que o alinhamento dos temas demonstrou a clara vontade de criar um ambiente de festa popular, com trompetes e acordeão a sobressaírem. O décor em palco, com simulador de poste elétrico, com luzes coloridas e piscantes, realçaram esse efeito.
Longe do universo mais tranquilo e intimista ao qual nos tinha habituado, descobrimos um Miguel Araújo e 11 músicos “ligados à eletricidade” – em consonância com a decoração.
Momento encantador foi o instante de partilha da banda com o percussionista Luís Mega Beça, residente no concelho, que comemorou em palco os seus 50 anos de carreira – e cuja energia se mantem intacta, notável no tema “Contamina-me”.
Para abrandar o ritmo frenético, Miguel Araújo não podia deixar de cantar os emblemáticos e tão aguardados “Recantiga”, “Ainda estamos aqui”, “1987”, “Será Amor”, “Os maridos das outras” ou “Anda comigo ver os aviões”.
Mas foi em clima de festa, tal como iniciou, que terminou a noite. Primeiro com a divertida e animada “Dona Laura” que pôs a sala a dançar, depois com o “D. Zambujo” a regressar ao palco.
A cumplicidade existente entre os dois amigos é claramente visível e contagiosa. Em ambiente animado e de franca brincadeira entoaram-se e dançaram-se as músicas “Rancho Fundo” e “Romaria das Festas de Santa Eufémia”.
Com as duas bandas em palco a encerrar a noite, ficou “Flagrante” que os comparsas vão continuar a atuar em conjunto para a o maior prazer dos portugueses.