Noventa minutos. Este é o tempo que um jogo de futebol pode demorar. Acrescentamos mais 15 minutos de intervalo e mais uns extras em cada parte. Ao todo, podemos passar duas horas dentro de um estádio a ver uma partida de futebol. Há pessoas que se deslocam para o recinto desportivo mal as portas abrem, outras que entram para ver o aquecimento dos jogadores (é o meu caso), há também quem chegue em cima da hora e ainda quem vá para o estádio quando o jogo já está a decorrer. Nenhuma destas situações pode ser condenável.
Agora, existe uma que, para mim, causa confusão: sair antes da partida ter terminado. Acontecem imprevistos e, aí, sou totalmente a favor que os adeptos abandonem o recinto mais cedo. Contudo, a famosa desculpa de sair mais cedo para não apanhar trânsito não me convence. Por vezes, também se justificam com o facto de a equipa estar a ganhar por uma vantagem confortável ou por se encontrar a perder e o tempo da partida ser escasso.
Imaginem um portista que saiu do estádio antes do golo do Kelvin, ao minuto 92, para evitar uma fila na autoestrada. Como se terá sentido? E um adepto do Manchester United que saiu antes do tempo extra da final da Liga dos Campeões frente ao Bayern de Munique, em 1999, porque já não acreditava na reviravolta? Pior. Em Istambul, na final da Liga dos Campeões entre Liverpool e AC Milan, será que algum apoiante do emblema inglês abandonou o estádio ao intervalo quando o seu clube estava a perder por três golos frente à melhor equipa da Europa na altura? Se houve adeptos assim, o desfecho destes três jogos foi um castigo merecedor.
Uma partida de futebol é um espetáculo que tem de ser respeitado como um teatro na Broadway. Ninguém sai antes de acabar, para não perturbar os atores ou quem está a assistir, e, sobretudo, ninguém insulta quem está a dar o máximo para satisfazer o espetador. Aqui, o futebol tem um passo de gigante para percorrer. Coloco no topo da lista o tema do racismo.
Assisti, no último Inter de Milão vs Nápoles, a mais um caso que envergonha o desporto, quer no país italiano, quer no resto do mundo. O defesa central da formação napolitana, Kalidou Koulibaly, foi vítima de cânticos racistas durante toda a partida. O speaker, alertado por elementos do Nápoles, pediu que terminassem com os cânticos, mas nada aconteceu.
O treinador da equipa do sul de Itália, Carlo Ancelotti, no final da partida, ameaçou que, da próxima vez, a sua equipa vai abandonar a partida. A liga italiana castigou o emblema de Milão com dois encontros à porta fechada e proibiu a entrada de uma das claques do Inter com mais uma partida. Muito pouco, a meu ver.
Estes atos são os mais mesquinhos que existem. Insultar uma pessoa por ser de cor de pele diferente coloca a sociedade doente e, neste caso, enfraquece o futebol. Este desporto, como diz o analista Luís Freitas Lobo, deveria ser “só para quem ama verdadeiramente o futebol”.