O artista português Rafael Toral celebrou os 25 anos do seu álbum Wave Field, recriando um ambiente envolvente e quase surreal sugerido pelo seu som.

Foi no Gnration, na passada sexta-feira, que Rafael Toral trouxe a Braga o seu segundo álbum da carreira, Wave Field. Recentemente reeditado pela discográfica americana Drag City, em vinil, o álbum foi alvo de inúmeros elogios, destacando-se a eleição da Amazon como um dos melhores 100 álbuns de 1998, ano do seu lançamento nos EUA, e também, de acordo com o jornal Expresso, como um dos melhores álbuns portugueses de 1995.

Partindo do som de uma Fender Jaguar, Toral explora as infinitas possibilidades do som, não na sua interpretação clássica de acordes, ritmos e solos, mas antes nas potencialidades desbloqueadas pela manipulação elétrica do mesmo som. Assim, numa sinfonia de reverberação e feedback, Toral consegue criar todo um ambiente imersivo, que não é possível de cronometrar porque cria o seu espaço próprio, um mundo dinâmico em que flui.

Nas palavras do próprio Rafael Toral, álbum “é como se se pusesse um tema de rock numa misturadora, e se fizesse um batido, até ficar líquido.” Durante a interpretação na íntegra do trabalho, o artista recorreu ao sistema de som sorround da Blackbox do Gnration e à passagem de um vídeo, em loop, de uma paisagem rural portuguesa, focado na sua rede elétrica, ajudando a criar o ambiente hipnótico que se instaurou completamente na sala.

O caráter introspetivo da música ambiente está muito presente nesta peça de Toral, mas o que o torna surpreendente é a constante presença do som que, apesar de não ser intrusivo, não cai a nenhum momento para segundo plano na mente do ouvinte, que é absorvido pela repetição de texturas sonoras, mas que é subitamente confrontado com variações penetrantes e inesperadas.

O som único que o artista lisboeta consegue produzir neste álbum é a concretização de uma ideia que surgiu “num concerto em Cascais de uma banda que abriu para os Nirvana [Buzzcocks] e onde não se percebia nada, aquilo [a acústica] não podia estar pior, mas depois comecei a achar interessante”, explicou o músico. Assim, e tendo como ponto de partida o rock, o objetivo do artista foi produzir, de facto, um som envolvente e ambiente, mas num registo sujo e mais caótico do que aquele normalmente associado a este tipo de música.

Desde então, a carreira de Rafael Toral tem sido marcada pela exploração do som, sendo que trabalha atualmente com instrumentos de produção própria, e cuja utilização é um misto de controlo e improvisação, aproximando-se, neste sentido, do mundo do jazz.

Tendo inclusive colaborado com os Sonic Youth, Rafael Toral afirma-se como um dos mais originais e pioneiros músicos portugueses.