Dois anos depois do lançamento de I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful Yet So Unaware of It, The 1975 terminam o ano de 2018 com A Brief Inquiry Into Online Relationships. Este álbum da banda de Indie Rock é extremamente versátil em termos de géneros musicais, pois impele a uma atenta audição e expele uma profunda adoração por parte dos fãs e críticos.

Apenas a um mês do final de 2018, a 30 de novembro, os britânicos The 1975 apresentaram um álbum sobre o mundo tecnológico em que vivemos. No entanto, o propósito desta coletânea não é tanto condenar o avanço da tecnologia, a constante difusão de informação e o crescimento das redes sociais como meios influenciadores, mas sim aceitar a realidade que nos rodeia e debatê-la.

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O projeto é objeto de comparação a OK Computer dos Radiohead, lançado em 1997. Este último, analisado hoje, mostra-se como uma espécie de previsão do futuro ao qual chamamos presente. Os Radiohead construíram um conceito que representa o medo da iminência de um mundo gerido por computadores e a forma como a sociedade ficaria fragilizada pelo poder das máquinas em evolução.

Com isto, os The 1975 apresentam uma descrição desse futuro que o trabalho de 1997 tanto temia. Esta narração da realidade na qual vivemos atualmente toca em assuntos como a política moderna, a nossa relação com a tecnologia e, sobretudo, toda a experiência millennial.  Também menciona a ambição maníaca, a constante dúvida pessoal e ansiedade, e a obsessão pela “etiqueta” que, de certa forma, gere o funcionamento das redes sociais e que nos leva a considerar uma espécie de desligamento temporário ou até permanente do mundo virtual.

Este álbum é semelhante ao seu antecessor em termos de estilo, pois ambos conjugam uma variedade de géneros musicais ao longo das suas faixas. A Brief Inquiry Into Online Relationships conta com a tradicional vibe de Indie, Pop e Rock, e vai também ao eterno Jazz, dando até lugar ao chamado “bubblegum Pop”. Apesar de não ter uma narrativa coerente e ordenada, este trabalho revela um maior propósito do que os anteriores, no sentido de pretender transmitir uma mensagem com maior impacto para os seus ouvintes.

Após a usual introdução, o álbum inicia-se com “Give Yourself a Try” que, por entre os instrumentais que conjugam guitarras que nos parecem arranhar a cabeça e uma animada bateria a acompanhar, nos leva ao tema do suicídio. A canção é uma saudação ao cantor Ian Curtin, da banda Joy Divison, que tirou a sua própria vida aos 23 anos. Nesta faixa, o vocalista dos the 1975, Matty Healy, faz uma retrospetiva à sua vida, apercebendo-se daquilo que poderia ter feito melhor e aquilo que faria de diferente se tivesse a oportunidade.

Num gesto contraintuitivo de produzir algo que representasse a diversão que está diretamente ligada à música Pop, surge uma demonstração do chamado “bubblegum Pop”, a faixa “TOOTIMETOOTIMETOOTIME”, que se tornou num dos maiores sucessos do álbum. A melodia maioritariamente instrumental da canção seguinte, “How To Draw / Petrichor”, presta uma homenagem à infância dos membros da banda, ao “som de ser jovem”, como diz Healy.

Com uma batida que parece estar em constante crescimento, “Love It If We Made It” aponta para horrores do “mundo real” com os quais somos bombardeados todos os dias e que temos o instinto de normalizar. O tom baixa quando nos é apresentada a primeira balada do álbum, “Be My Mistake”, que nos fala do sentimento de culpa, da dificuldade em nos apercebermos aquilo que realmente queremos em determinado momento da nossa vida e de como estamos propensos a cometer erros antes de tomarmos a decisão correta.

Como que estando a ouvir dois lados de uma conversa, “Sincerity Is Scary” demonstra a tendência que existe em sermos sarcásticos em vez de sinceros. Numa melodia que mistura uma forte batida, com tons de Jazz e aquilo que se assemelha a um coro de igreja, a letra mostra-nos o potencial que existe nas coisas quando somos sinceros em relação a elas.

“I Like America & America Likes Me” usa a voz como instrumento, através da utilização do auto-tune. A faixa pretende transmitir o som da América aos ouvidos do vocalista. “The Man Who Married A Robot” ou melhor dizendo, a versão moderna de “Fitter, Happier” do álbum dos Radiohead, consta de um poema romântico recitado pela versão masculina da Siri. Esta narração fala sobre um homem solitário que se apaixona online, tocando sobretudo na solidão causada pelo vício da internet.

A décima faixa, “Inside Your Head”, fala sobre o enorme desejo que temos, muitas vezes, de saber aquilo que vai na cabeça das pessoas de quem gostamos. Outro dos grandes sucessos do álbum é “It’s Not Living (If It’s Not With You)” que, através de uma melodia de “power Pop” que inspira à alegria, aborda o vício da heroína. Esta canção tem a sua inspiração na batalha do vocalista da banda contra esse mesmo vício.

O álbum encerra-se com um quarteto de baladas capazes de encantar qualquer ouvido, começando com “Surrounded By Heads And Bodies” que se inspira no tempo de Healy na reabilitação. “Mine” surge como uma surpresa no trabalho e uma prova das capacidades da banda enquanto compositores e músicos. Na perspetiva de produzir algo sublime, esta canção submerge no Jazz e em todo um potencial e harmonia de uma faixa retirada de um clássico da Disney.

Segue-se “I Couldn’t Be More In Love”, talvez a faixa com os vocais mais intensos, que parecem transmitir um sentimento de desespero. Aqui, novamente se juntam os vocais dos típicos coros da igreja norte-americana que completam a melodia de uma forma inesperadamente perfeita.

Por fim, “I Always Wanna Die (Sometimes)” transmite a sensação de ser algo que sempre existiu, uma espécie de clássico que ressoa em quem ouve. Este tema é de tal forma pessoal e intenso que termina o álbum de uma maneira majestosa, que pode possivelmente levar muitos às lágrimas.

Em suma, A Brief Inquiry Into Online Relationships serviu para provar o talento nato dos The 1975 no mundo da música. Não só para transmitir mensagens, mas também para elaborar uma montanha russa de géneros musicais capaz de chegar a qualquer tipo de audiência. A capacidade da banda, nomeadamente, da dupla de compositores Matty Healy e George Daniel, de fazer de assuntos e problemas da sociedade em que vivemos atualmente música para os nossos ouvidos, no seu sentido literal, é notável. Todos os jovens procuram por algo em que acreditar, algo que lhes dê a esperança de que o mundo possa ser um lugar melhor, e é neste tipo de música que eles a encontram.