Depois da melodia trágica do último episódio da primeira parte, “Moments of Vision”, a série de Michael Hirst, Vikings, continua a explorar os mundos inexplorados em cada personagem, mas desilude no rigor histórico e no enredo.
Vikings sempre foi uma série dedicada a explorar as entranhas e interiores das personagens que apresenta: os conflitos por amor, por ganância, por ambições, por crença religiosa e sonho. Por um lado é verdade que o enredo se começa a tornar mais previsível, sobretudo depois da morte do protagonista Ragnar Lothbrok, com alguns críticos comparando, inclusive, alguns dos desenvolvimentos da última temporada como semelhantes a uma telenovela. E não estão errados, na minha opinião. Mas também é verdade que a série poderia ter sido bem mais afetada (negativamente) por este acontecimento do que foi. Até porque considero que Ragnar morreu na altura “certa”.
Vikings é uma obra de arte, do ponto de vista visual. É-o no trabalho de câmara impressionante, nas imagens que nos marcam, personagens e histórias que nos fazem girar em torno de si num magnetismo que não é fácil de extinguir, o que também se deve grandemente ao repertório excelente de atores que a série mantém e ao qual adiciona novos membros, sendo a prestação que considero mais marcante a de Alex Høgh no papel de Ivar the Boneless.
A banda sonora da série, de Trevor Morris e Einar Selvik é, como sempre, de tirar a respiração. Juntamente com alguns temas do grupo Wardruna, o sangue parece ferver-nos nas veias. Com os filhos de Ragnar de costas voltadas entre si, o slogan desta segunda parte da temporada, “Descend into darkness”, torna-se, simultaneamente, uma “Descent into madness”, com cada personagem central seguindo caminhos muito diferentes, mas esperados: são a extensão natural das personagens no ambiente e nas circunstâncias que têm, mas são também acontecimentos inéditos no mundo de Vikings.
A sede por sangue e os conflitos que marcaram a segunda parte da 4ª temporada e a primeira parte da 5ª encontram águas mais brandas, mas a tensão e a ambição crescem, e o rumo das diferentes personagens está de novo a aproximar-se gradualmente e irá com certeza colidir, sobretudo considerando que o último episódio da temporada está intitulado de “Ragnarok”: o fim do mundo, segundo a antiga mitologia nórdica.
As personagens saxãs seguem um rumo algo previsível, mas penso que ainda terão o que revelar, sobretudo Judith, que parece estar a perder a noção dos limites que separam o seu filho mais novo e Wessex desse fim do mundo que se aproxima, bem como o próprio Alfred. Será que o rei caminha na direção do que, historicamente, lhe deu o título de “O Grande”? (Apesar de, na verdade, a vertente histórica da série ter vindo a deixar muito a desejar.)
As aventuras de Floki na Islândia estão a tomar um rumo ligeiramente mais interessante e Kattegat o rumo mais incerto, arrisco-me a constatar, de sempre. Sentimos a dor. O abandono. E o medo. Todas as personagens parecem remar incessantemente contra a maré, estando simultaneamente perdidas no seu rumo.
Odin abdicou do seu olho para obter conhecimento. Ragnar afirmou, no primeiro episódio da série, que daria muito mais. E os filhos de Ragnar o que dariam, cada um? E do que estarão dispostos a abdicar na luta pelo sonho individual que, tal como Ragnar, têm? E o que representam esses sonhos, para eles mesmos e para o futuro?
Título original: Vikings – Season 5 Part 2
Argumento: Michael Hirst
Elenco: Katheryn Winnick, Clive Standen, Gustaf Skarsgård, Alexander Ludwig, Moe Dunford, Alex Høgh, Marco Ilsø, David Lindström, Jordan Patrick Smith, Jonathan Rhys Meyers
Canadá/Irlanda
2018