Numa altura tão conturbada da sua vida, Ariana Grande conseguiu, num espaço de seis meses, chegar ao álbum Thank U, Next. Transpôs todos os sentimentos para a música, alcançando um projeto bem sucedido e incomparável.
No primeiro lugar está o single “Imagine”. Com um registo R&B, a artista sonha com um mundo onde tudo gira à volta do amor, da cumplicidade e onde não existem preocupações. No fim da faixa, há uma parte bastante interessante e cativante onde o registo normal se altera e Grande mostra as capacidades da sua voz, atingindo as notas agudas pelas quais é conhecida.
Num registo mais melancólico e calmo, surge “Needy”. Sem grandes alterações no ritmo, a voz prevalece em relação à música de fundo. Em termos de letra, aborda o desejo de sentir algum amor e afeto, e o facto de ter as emoções instáveis. No entanto, no fim, é acrescentado o som de uma harpa, que rompe com todo o registo, fazendo lembrar a sua antiga música “Moonlight”.
Se há temas imprevisíveis para uma música, a “NASA” é um deles. Ao usar este nome, Ariana Grande quer dizer que precisa de espaço de um certo homem para conseguir ter tempo para ela própria, porque tal como as estações espaciais da NASA invadiram o espaço sideral, esse homem invadiu o dela. Acredita que esta distância só irá trazer benefícios à relação, tal como aprofundar a paixão e a intimidade. Refere-se ainda a si própria como “estrela” nos dois sentidos da palavra – estrela Pop e as estrelas propriamente ditas que são observadas pela NASA.
Numa fase em que já passou por bastantes relacionamentos, e todos eles com bastante influência na vida da artista, “Bloodline” transmite a ideia de que não procura nenhum relacionamento sério, apenas alguém com quem passar o tempo e divertir-se. Por isso diz “don’t want you in my bloodline”, ou seja, não procura, para já, ninguém para construir uma família. Esta ideia de diversão e liberdade é ainda mais transparente através do estilo aproximado ao Reggae.
Apesar disto, esta fase também teve consequências más que deixaram a artista mais triste. Isto reflete-se na quinta faixa do álbum, “Fake smile” que tem tanto de Hip-Hop como de um registo mais calmo. Fala sobre a sua vida pessoal e a forma como sente a obrigação de esconder as suas preocupações com um sorriso, daí dizendo que é falso. No entanto, a artista quer mudar isto e deixar de fingir, não se preocupando com o que as pessoas e, principalmente, os media irão dizer.
Na oitava posição do projeto surge “Ghostin”. Uma interpretação possível é que Ariana Grande se dirige a ela mesma como se fosse outra pessoa. Fala sobre a tristeza profunda, neste caso quando há uma zanga grave entre o casal e chora em vez de o deixar. Diz que sabe que magoa essa pessoa quando chora, mas que juntos irão ultrapassar esta fase, pois considera-se uma rapariga forte. Muito melancólica, chega aos nossos sentimentos e faz relembrar de certas alturas em que nos tenhamos sentido assim, mesmo por outras razões.
De seguida aparece “In My Head” que é uma música dirigida a Pete Davidson. A ideia central é que tinha uma imagem errada da pessoa, pois via-o como um anjo quando na verdade ele era o diabo. Via-o como a melhor pessoa no mundo, mas era tudo na sua cabeça. A própria introdução é a gravação daquilo que um dos seus melhores amigos, Doug Middlebrook, diz que se apaixonou pela versão de uma pessoa que criou na sua mente e que a única coisa que pode mudar é ela própria. É uma faixa bastante interessante pois mostra-nos este lado mais pessoal, dando-nos a capacidade de perceber como ficou afetada neste momento da sua vida.
O segundo single a integrar o álbum é “7 Rings”. Tem um sucesso comparável ou até maior do que a canção “Thank U, Next”, pois revolucionou completamente o estilo habitual da artista. A história que motivou o tema e o nome da faixa foi o facto de um dia ter comprado sete anéis de noivado para ela e para as suas amigas, por isso diz “bought matching diamonds for 6 of my bitches”. Aborda imensos assuntos sobre a sua vida pessoal e amorosa, tal como a terapia, a decisão de usar as suas finanças para ajudar os seus amigos e mimar-se com aquilo que gosta. É uma música completamente inspirada no Hip- Hop e o seu começo cativa logo o ouvinte, devido ao ritmo calmo e por ser uma adaptação da música “My Favorite Things”, da banda sonora de Música no Coração.
Ainda em “7 Rings”, Grande faz uma das afirmações mais polémicas, em que diz que com todas as coisas más por que passou poderia ficar deprimida e desmotivada mas que, em vez disso, se tornou mais ousada e vanguardista na forma como intervém na música e na sua vida pessoal. No entanto, uma das grandes surpresas do single, foi o rap que fez no fim. Isto só comprova que a artista é realmente versátil, atraindo assim público que anteriormente a poderia ver como uma cantora banal de Pop.
O terceiro single, “Thank U, Next”, que deu o nome ao álbum, foi um grande sucesso por ter sido a primeira canção lançada a seguir a Sweetener. Ode à sua vida amorosa passada, onde menciona Big Sean, Ricky Alvarez, Pete Davidson, e, por fim, Mac Miller, quem considera um anjo. Mesmo tendo tudo acabado, foi capaz de aprender algo com cada relacionamento, tornando-a uma pessoa melhor. Afirma que, de momento, encontra-se em paz, que tem tentado fazer uma introspeção de modo a valorizar-se mais, tentando aproveitar o tempo com os amigos e dando a entender que conheceu uma pessoa nova. Com isto, é correto dizer que esta faixa é também uma ode ao amor próprio. Por isso agradece, e diz “next” como que a expressar que está pronta para uma possível relação.
Por último, surge “Break Up With Your Girlfriend, I’m Bored”, onde mostra o seu lado mais sexy, algo que também transpareceu no álbum Dangerous Woman. No videoclipe, Grande beija um clone dela própria, simbolizando este amor próprio e mostrando que a artista está numa fase de descoberta do outro, tal como acontece numa relação. Reforça a ideia anteriormente transmitida em “Thank U, Next”, de que está numa relação com si mesma: “I met someone else, we having better discussions (…) her name is Ari”. É uma canção bastante diferente do seu estilo normal, pois toma uma posição provocadora, que não é habitual da sua parte, mas mesmo assim favorece a sua voz e as suas capacidades.
As faixas que menos se destacaram foram “Bad Idea” e “Make Up” que, num conjunto tão forte, acabam por ser de menor qualidade. A admiração de Grande pela cultura japonesa é bem transparente em “Bad Idea”, havendo várias pequenas frases ou palavras ditas em japonês. Consequentemente, é uma música muito mais mexida do que as outras, caracterizada por aquela alegria da cultura japonesa. Já no caso de “Make Up”, o registo Hip-Hop, aproximando-se do Trap, faz com que seja bastante cativante. No entanto, o conteúdo lírico e o facto de não haver grandes alterações no decorrer da música faz com que não seja tão forte.
Para concluir, é importante salientar que o espaço de tempo em que a artista lançou Thank U, Next em relação a Sweetener é bastante curto, não sendo habitual os artistas o fazerem. Com isto, Ariana Grande deduz-se que estará sempre pronta para novos desafios, provando a artista de qualidade que é.
8/10
Álbum: Thank U, Next
Artista: Ariana Grande
Data de Lançamento: 8 de fevereiro de 2019
Editora: Republic Records