O Clube dos Poetas Mortos é o enlace harmonioso entre a subjetividade implícita nos versos e a
objetividade da morte. Se não aprecias poesia e temes a morte este filme é aquilo que procuras! Dá a conhecer o entusiasmante mundo das palavras e inspira os espectadores a viver. Viver, não no seu sentido lato e inverosímil, mas no seu ritmo desafiante e sonhador.
O filme marcou a década de 80 pelo consenso que gerou e pela sua temática paradigmática. Robin Williams, no papel de um professor de inglês, advoga o poder que a poesia, a beleza, o romance e o amor têm nas vidas dos seus estudantes. Ilumina a mente daqueles que o ouvem, luta contra o conformismo educacional, contra a subjugação às expectativas dos outros e o medo do desapontamento.
John Keating coloca os professores numa posição delicada: todos gostaríamos de chegar a uma aula de Português e rasgar o capítulo relativo à Lírica Camoniana, subir para cima da secretária e olhar para a Lídia à beira do rio de Fernando Pessoa de uma outra perspetiva; ou recorrer ao grito bárbaro yawp ao acertarmos a função sintática de “sentado” antecedido de um verbo copulativo.
O filme realizado por Peter Weir e escrito por Tom Schulman conta a história de um grupo de jovens que frequentam o secundário na Welton Academy, em Vermont, um colégio privado. Tradição,honra, excelência e disciplina são os quatro pilares educacionais desta instituição que sucumbe as verdadeiras e apaixonantes ambições dos seus estudantes. Neste cenário idealista e, no entanto, retrógrado surge a figura cativante do professor Keating ou como ele prefere ser docemente chamado Oh Captain! My Captain! que os desafia a confrontar as obrigações e a escrever com autenticidade o seu próprio conhecimento do mundo, tornando as suas vidas extraordinárias.
Ao contrário do que parece ser evidente, este filme não é apenas sobre poesia, jovialidade e educação. É sobre a morte. O título é, à partida, uma premonição desta face inevitável da humanidade, deixando evidente a dualidade interior e a dificuldade em ter a coragem de assumir o nosso próprio percurso.
As cores outonais, os planos estáticos de paisagens ou objetos e os ângulos adotados conferem subtileza e elegância às ações. A música deixa a história respirar: é leve e, por vezes, remete para uma origem clássica. O argumento é fabuloso. Foi, aliás, galardoado com o óscar de Melhor Argumento Original. Contudo, a própria ausência de argumento, isto é, as cenas silenciosas, tomadas como um momento reflexivo e pessoal, são brilhantemente conseguidas. O filme recebeu mais três nomeações nas categorias de Melhor Ator Principal (Robin Williams), Melhor Realizador e Melhor Filme.
Sinto que estou a adotar uma escrita poeticamente fluida, mas terei de abordar uma questão que não me deixou indiferente: os cortes de cabelo. O risco ao lado e a franja a descair para o rosto não correspondem à virilidade da força das palavras dos protagonistas.
A poesia é a personificação do mundo: as nossas palavras e ideias são o instrumento de mudança e a nossa voz constitui o veículo da liberdade. Isto dos sonhos e da vida, cujo o único limite é a morte, é muito bonito, mas amanhã acordarei cedo para ir para as aulas, terei de continuar a fazer a cama e não comprarei um carro pois isso implicaria estudar o código de estrada. De resto, permanecerei à espera da adaptação cinematográfica com o Paul Walker.
Título original: Dead Poets Society
Realizador: Peter Weir
Argumento: Tom Schulman
Elenco: Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke
EUA