Atualmente, o crescimento de rappers femininas no mundo da música é cada vez mais evidente. Num meio composto por um conjunto imenso de grandes artistas, Dreezy claramente se destaca, pois foge um pouco à norma daquilo que, até hoje, nos foi apresentado. Terá cometido um grande erro ou será esta a fórmula para o sucesso?
“Because I’m a female, I feel like I can play with both parts”, confidencia a artista, justificando a mistura equilibrada que executa entre o Rap e o R&B no seu novo projeto, Big Dreez. A difusão de estilos é realizada de um modo extremamente racional, contribuindo para que não haja quebras e que entre no ouvido como algo nada estranho, contudo, inovador. Esses dois lados da moeda são transcritos na própria escolha de capa para o álbum.
O lado esquerdo estabelece a ponte para o R&B, onde podemos ver a artista extremamente produzida a beber um copo de champanhe, de vestido, com botas de cano alto, totalmente preenchidas com brilhantes, e um grande colar ao peito. A cor predominante neste conjunto é o rosa, geralmente associado ao universo feminino e a alguma delicadeza. No lado direito, a artista encontra-se vestida com roupa desportiva, a comer noodles instantâneos. Apesar desta versão de Dreezy mostrar o seu lado mais descontraído, não há descuido na escolha da cor mais predominante, o laranja, que transcreve momentos de criatividade e de alcance de sucesso.
A presença de noodles na capa remete-nos para a primeira faixa, “Chicken Noodle Soup”. Apesar da menção pôr de imediato água na boca, na realidade, a canção fala sobre o retorno da artista ao ativo (“You already know this Dreezy, we back in this bitch”), como também reflete sobre o que andaram a dizer dela (“askin’ me stupid shit like who my competition”) e estabelece uma comparação da mesma com outros artistas (“Y’all in 2018, we in 2020”).
Seguindo a mesma lógica, Dreezy em “Play Wit Ya” enumera tudo aquilo que possuí, provocando todos os seus inimigos, (“My F for Fendi, your F is for fail”). Desde produtos de marcas mundialmente conhecidas (“Rockin’ some shit that I can’t even spell”), a uma legião de fãs (“President of the bad bitches”) e a interesses amorosos (“Hot but he can’t get my number”).
A grande maioria das faixas que compõem este álbum tem a mesma temática, pois abordam tudo aquilo que a artista conquistou na sua carreira. “Where Dem $ @”, “Chanel Slides”, “Cash App” e “Rip Aretha” correspondem a claras enumerações.
“Showin Out” inicia a vertente R&B. Os primeiros 14 segundos da canção compreendem, apenas, a conjugação de um baixo, de um solo de guitarra e de meros estalares de dedos, sendo que a voz da artista surge após a combinação destes componentes. Durante esta composição, o tema do amor é abordado, nomeadamente a capacidade que a entrada de uma pessoa na nossa vida consegue levar ao esquecimento do passado. (“Took my ex out the picture, we cropped it. / Treat me like a queen”).
Mantendo a temática geral anteriormente descrita, Drezzy conta, em “Love Someone”, outra tipologia de história de amor. Descreve uma relação fracassada e a esperança contínua para com alguém que não nos ama (“When you love someone / You feel that they can’t do no wrong”). Esta é uma situação onde tudo o que acontece nos remete para quem amamos e onde, apesar das diversas provas de possível insucesso, os sinais nos passam ao lado (“God showed me signs a thousand times / But I wouldn’t let go”).
Em “Ecstasy”, Dreezy alia-se a Jeremih, onde os artistas estabelecem entre si um diálogo. Contudo, fazem-no através de um discurso extremamente provocador e sugestivo (“How ‘bout later you come over to my spot? / Do anything you want me to”). De qualquer das formas, sendo que o título da música se resume a uma droga conhecida por amplificar sensações e provocar alucinações, este discurso pode ser visto como algo que parte apenas do imaginário de um dos participantes do mesmo. Esta perspetiva aparenta ser comprovada no momento em que nos é questionado “Can we live in our dreams?”.
Apesar da questão não ser respondida na sua totalidade, qualquer pessoa que goste de música que descreva situações reais ou que possua a capacidade de transportar para um outro mundo poderá encontrar neste álbum um escape da realidade.