Mais um ano, mais um ranking das escolas portuguesas. E, uma vez mais, os estabelecimentos privados saem por cima. No entanto, os resultados das instituições públicas melhoraram ligeiramente face às privadas, comparativamente aos anos anteriores. No horizonte, as escolas públicas têm outros problemas para resolver.
No último ano, os professores mereceram grande atenção por parte dos meios de comunicação e da sociedade em geral. Greves, manifestações, pedidos ao governo, etc. Todos os dias uma notícia nova. No dia anterior à divulgação dos resultados do ranking, uma nova greve encerrou “mais de 90%” das escolas, como garantiu Mário Nogueira, líder da Federação Nacional dos Professores (Fenprof).
Desta vez, a responsabilidade não recaiu sobre os professores, mas sim sobre os funcionários. Porque sem funcionários a escola não funciona e os alunos ficam sem aulas. Mas afinal que escola é esta? Até quando este clima de tensão? Alguém já pensou nos alunos? Uma greve aqui, outra ali. Reivindicações para cá, manifestações para acolá. E no caminho estão milhares de crianças e jovens a quem ninguém dá voz. Mais: que ninguém escuta.
Não faz muito tempo que foi noticiado pelo Público que os jovens portugueses estão “cada vez mais exaustos, tristes e medicados”. Ir para a escola é para muitos uma obrigação. De uma forma muito simples e rápida, o ensino em Portugal funciona assim: o professor ensina a matéria que está nos livros, o aluno ouve e depois decora para que no momento da avaliação consiga mostrar tudo o que sabe e obter um bom resultado.
O teste acaba e o que sabe perde-se, muitas vezes, no pensamento. E eu pergunto-me: é para isto que que os adolescentes andam anos e anos na escola? Para provar a alguém que têm uma boa capacidade de memorização? Alguma coisa tem de mudar. O ensino português também precisa de sair à rua. Tomemos o exemplo da Finlândia – sim, esse país que serve sempre de exemplo –, onde o sistema de educação está a ‘anos-luz’ do nosso. Por lá, há uma preocupação para que os alunos, acima de tudo, se sintam bem. Por cá, as prioridades são outras.
As aulas duram 90 minutos e os intervalos 15. Nas salas, os estudantes são confrontados com métodos de ensino pouco interativos, o que faz com que a grande maioria dos alunos não goste de estar na escola. Além disso, acrescem os trabalhos de casa. E, assim, lá se vai metade do dia.
Aprender não devia ser uma obrigação, mas um gosto. Atualmente, os bons resultados impostos pelas escolas são o que mais importa. Diretores e professores pretendem alcançar um bom lugar no ranking e os alunos devem cumprir com esses objetivos.
Muita coisa se discute nas instituições de ensino, mas pouca gente se preocupa verdadeiramente com os estudantes. E, enquanto ninguém lhes der uma oportunidade para falar, eles permanecerão calados. Os alunos vão continuar a ser peões para as escolas chegarem onde querem e os seus interesses serão relegados para segundo plano.
Os professores têm o direito a manifestarem-se e a lutarem pelos seus direitos porque se alguma coisa não está bem é necessário agir. Mas é preciso começar a ver além e olhar mais para dentro das instituições. Há outros problemas nos nossos estabelecimentos de ensino que devem ser trazidos para a sociedade. É preciso reinventar a escola portuguesa e a mudança passa também pelas mãos dos professores.
Olhemos menos para os rankings e mais para o bem-estar dos nossos jovens. O importante é motivá-los, fazer com que se sintam bem naquela que é, por vezes, uma segunda casa. Os profissionais do futuro constroem-se no presente.