É um erro assumir que qualquer invenção tecnológica tem apenas um lado da moeda. As vantagens de uma nova tecnologia sempre trouxeram duas vertentes. Se por um lado significam inovação, por outro transmitem medo e insegurança. Nunca podemos olhar para uma tecnologia apenas pelo seu lado positivo ou negativo. Os meios de comunicação não são exceção.
Os mais céticos reagem sempre da mesma forma: olham para algo novo como um perigo. Foi assim quando surgiu a imprensa, a rádio, a televisão e a internet. Mas não nos podemos esquecer das duas faces da moeda.
Há por aí velhinhos que têm como única companhia uma televisão ligada. Por entre programas que dão voz a Mário Machado ou a uma chamada do amigo Marcelo, existem os ‘canais de informação’. Canais estes que transmitem a imagem de um país violento e rapidamente a solidão desaparece e dá lugar a um novo amigo: o medo. O receio de serem o idoso da história que passa em rodapé.
O medo é, também, facilmente instaurado nas redes sociais. O lugar onde todos temos voz e onde a partilha de informação – correta ou distorcida – faz-se mais rápido do que nunca. Facilmente se marca uma greve e com ela nascem comentários de ódio.
Contudo, nunca podemos esquecer o outro lado da moeda. Este ano um ovo chegou às redes sociais. Em 10 dias era a publicação com mais gostos do Instagram e 48 horas mais tarde batia o recorde de publicação com mais gostos em todas as plataformas online. Aquilo que parecia apenas mais um meme era uma campanha sobre saúde mental com ênfase na pressão das redes sociais.
No jornalismo também se faz mais do que instaurar o pânico com o sensacionalismo. Apesar do Buzzfeed ter despedido 15% dos seus jornalistas, mesmo que muitos acreditassem que o futuro passava por lá, o The New York Times apresentou este ano uma receita operacional líquida de 55 milhões de dólares (cerca de 49 milhões de euros). Anunciou também o acesso grátis a três milhões de estudantes. Uma nova geração de consumidores de jornalismo nasce e é graças ao atual saldo que se cria um investimento nessa mesma geração.
“O The Post é uma instituição crítica com uma missão crítica. A minha administração do The Post e o meu apoio à sua missão, que permanecerá inabalável, é algo de que mais me orgulharei quando tiver 90 anos e rever a minha vida, se tiver a sorte de viver tanto tempo, independentemente de quaisquer complexidades que este cria para mim” é esta a opinião de Jeff Bezos sobre o jornal que comprou em 2013.
Por cá, o jornalismo independente continua a crescer. O Fumaça – “projeto de jornalismo independente, progressista e dissidente que não se submete a organizações partidárias, religiosas, económicas, financeiras, desportivas, culturais ou sociais, nem às suas agendas” – ganha mais uma bolsa, no valor de 175 mil euros, atribuída pela Open Society Foundations. Esta é a segunda atribuída pela fundação. Para além disso, um membro da equipa foi um dos vencedores da primeira edição das Bolsas de Investigação Jornalística concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian. O jornal garante, assim, a sua sustentabilidade financeira até metade de 2020.
O mundo da comunicação ainda está a descobrir-se. Entre ovos que batem recordes por causas maiores nas redes sociais e meios de comunicação que, finalmente, estão a adaptar-se ao séc. XXI chegaremos a algum sítio.