Fahrenheit 11/9 é o mais recente documentário político do realizador Michael Moore onde são discutidos alguns dos tópicos mais controversos da história política dos Estados Unidos da América, dando especial atenção à ascensão ao poder de Donald Trump. Talvez pelo fator surpresa e pelo caos instalado após a vitória de Trump, Moore decide brincar com o título ao colocar a data das eleições 11/9, que contrasta com a data do evento mais trágico dos EUA 9/11, dia da queda das torres gémeas, como forma de comparar a sensação de horror que ambas as datas fizeram sentir.
Após apresentar aquilo que seria o cenário esperado para as eleições de 2016 Moore remata para o início do documentário com a frase emblemática “How the fuck we get into this?”, que demonstra o sentimento de surpresa sentido pelo mundo ao ser anunciada a vitória de Trump. Durante a longa-metragem são tecidas fortes críticas ao atual presidente: este é acusado de ter chegado ao poder de forma duvidosa, de ser tão monstruoso ao ponto de tratar a sua própria filha como um mero objeto sexual, bem como de alimentar uma forte corrupção, mesmo antes de ter chegado à presidência.
Ao longo do filme é-nos relatado o caso crítico da cidade de Flint, terra natal do realizador, onde este denuncia a contaminação da água, feita em 2014, sob a presidência do senador Rick Snyder, sendo que nem mesmo Barack Obama se livra de ser indicado como um cúmplice para esta tragédia. Tudo começa quando o senador decide mudar a fonte de água natural, limpa e potável que abastecia a cidade para um rio extremamente poluído, algo que veio afetar a saúde dos seus habitantes, constituídos maioritariamente pela etnia negra, uma minoria nos EUA, de forma permanente.
A abordagem feita a este tema concretiza uma forte crítica social, uma vez que esta foi uma atitude apoiada por Trump, ignorada por Obama, e que tem como o único objetivo gerar lucro à custa das condições mínimas de vida dos seus moradores, demonstrando o carater racista e egoísta do governo. É também no desenvolvimento deste tema que é realizado um dos momentos mais cómicos e comentados do filme, sendo este a ida de Moore à casa do senador Snyder, na qual se faz acompanhar de um camião carregado com a água deFlint e com a qual rega o jardim do senador, como um ato de vingança.
Surge também como tema os tiroteios feitos em escolas, resultantes das políticas liberais americanas no acesso às armas. Para ilustrar isto são acompanhados os protestos dos professores, que exigem melhores condições e mais proteções, bem como os protestos dos alunos, que se unem e se revelam fortes opositores a estas medidas. Esta nova geração é apontada como a principal vítima destas tragédias e, por isso, demonstram o maior interesse em reverter esta situação, inspirando outros jovens a ganhar a mesma coragem e a lutarem pelos seus direitos. É neste sentido que o fim do filme nos apresenta os jovens como o futuro e os autores das primeiras mudanças.
Apesar da importância de todos os temas apresentados, considero que a principal falha deste documentário passa exatamente pela diversidade de assuntos abordados, fazendo com que falte unidade e coesão, tendo como resultado a enorme facilidade com que o espectador se possa sentir perdido, levando-o a perder o interesse, a desviar a sua atenção dos pontos fulcrais e até a gerar confusão. Além disto, o uso do exagero e dramatismo foram excessivos, pelo que muitos consideram este um ponto de vista radicalista.
A caracterização de Donald Trump e de Melania Trump valeram a Moore uma nomeação para pior ator e pior atriz secundária, respetivamente. Esta nomeação deve-se ao facto de que estas personagens, que deveriam ser as principais, padecerem de uma enorme falta de definição.
Esta obra cinematográfica é ainda alvo de criticas por comparar Trump a Hitler, estabelecendo numa primeira frase uma associação entre a Alemanha e os EUA, sendo que ambas se afirmavam enquanto nações desenvolvidas e astutas, mas que na verdade fizeram a pior escolha na decisão mais importante de um país. De seguida, compara as ações que ambos fazem enquanto presidentes, destacando o discurso de ódio e racismo que ambos proferem.
Assim, apesar de esta não ser a melhor obra cinematográfica de Michael Moore é bastante educacional e elucidativa, sendo a sua visualização uma vais valia para o bom entendimento de alguns dos negócios mais obscuros da América.
Título original: Fahrenheit 11/9
Realização: Michael Moore
Argumento: Michael Moore
Elenco: Jim Acosta, Roger Ailes, Brooke Baldwin
EUA
2018