Toast To Our Diferences marca o regresso da banda britânica de Drum & Bass, Rudimental. O terceiro álbum de estúdio soa curiosamente como se tivesse sido feito para alcançar o maior número possível de ouvidos, sendo que o grupo tem promovido este projeto como uma fusão transcultural, com a intenção de destacar músicos de várias origens diferentes para estimular a união.

Contando com a colaboração de artistas dos mais diversos países, desde o Zimbabué até à Jamaica, o álbum joga com a Eletrónica, com o Jazz e com o Hip-Hop. O Reggae, obviamente, também tem muita influência, com contribuições de Chronixx, Protoje e Kabaka Pyramid.

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Toast To Our Diferences é, inegavelmente, o álbum mais político da banda até agora, aproveitando os tempos polarizados que se vivem. “Hey, I want to live in a leaderless world” é a linha de abertura, cantada pela artista Shungudzo, na canção que dá nome ao álbum. A energia é positiva e contagiante e a batida fácil de acompanhar, o que nos faz querer continuar a ouvir.

“These Days” apresenta o que deve ser um dos piores versos de Macklemore, o que, como qualquer pessoa que tenha prestado atenção ao rapper sabe, é realmente muito mau. Enquanto isso, expõe a mesma melodia com uma batida de dança entediante e repetitiva.

Por sua vez, “Last Time” possui um dos elementos sonoros mais interessantes de todo o álbum, uma bateria ao estilo dos anos 80. Infelizmente, a batida é imediatamente estragada pela cantora Raphaella, que repete de modo quase frenético a frase “We don’t live forever”.

“Summer Love” é a pior e mais desnecessária canção do álbum. A produção é decente, Rita Ora canta como se preferisse estar noutro lugar e a batida não traz absolutamente nada de novo. Três ingredientes que, uma vez juntos, conseguiram criar a canção mais genérica de sempre.

Existem alguns destaques mais positivos, como é o caso de “Sun Comes Up”, que é marcada por tons subtis de melancolia que emanam delicadamente da guitarra acústica. Enquanto que a batida latina oferece um sabor exótico para animar a música, a voz de James Arthur aqui foi uma boa escolha e acaba por funcionar como mais uma fonte de equilíbrio. É uma dicotomia perfeita que sugere coisas melhores do que o álbum parece oferecer.

“Thula Ungakhlai” é um interlúdio fantástico de 48 segundos de duração, que utiliza cantos africanos acapella intercalados com o refrão da música “These Days”.  A expressão é da língua zulu e traduz-se para “Não chore”. Drum & Bass e vocais sintetizados são características proeminentes do álbum e funcionam particularmente bem em “Dark Clouds”, outra grande canção, com um refrão quase infundido que contrasta com os versos lentos e inspirados no Reggae.

“No Pain”, que conta com Maverick Sabre e Kojey Radical, é uma autêntica jam influenciada também pelo Reggae. Sabre e Radical lamentam o sofrimento humano e falam da tragédia da Grenfell Tower, em Londres, em 2017. Apesar do tema, a letra da canção vai de encontro à mensagem de união e paz que o álbum pretende passar, sendo uma bonita homenagem que provoca um efeito de profunda calma e relaxamento.

De uma forma geral, Toast To Our Diferences parece ter como objetivo principal reunir as pessoas. Provavelmente deveria ter saído no verão, com toda uma energia “feel good” contagiante e ritmos ensolarados, prontos para serem tocados durante um churrasco em família. É um bom exemplo de celebração da música. No entanto, perde por ser demasiado longo e demasiado ambicioso. Dezenas de convidados recebem o microfone durante as 16 faixas da versão deluxe, o que faz com que o conjunto pareça mais uma playlist compilada à pressão do que um álbum coeso. É inegável que os Rudimental são eminentemente capazes, mas esta é uma ocasião em que menos poderia ter sido mais.