Cerimónia aconteceu no Salão Nobre da Reitoria da UMinho, na passada sexta-feira. No dia anterior, o ICS recebeu os laureados para um debate sobre Cidadania, Religião e Cultura.

A Universidade do Minho atribuiu o título de doutor honoris causa a Álvaro Laborinho Lúcio e a Frei Bento Domingues, na passada sexta-feira. A cerimónia contou com a presença de várias personalidades nacionais, incluindo o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.

O título honorífico de doutor honoris causa é concedido a pessoas eminentes que se tenham destacado pela sua reputação, mérito ou ação na sociedade. Para o reitor Rui Vieira de Castro, estas duas personalidades têm em comum “o compromisso com a procura da verdade”, “a procura de um futuro coletivo melhor” e a “grande atenção e sensibilidade ao outro, que faz com que atuem com um elevado sentido de comunidade”.

No discurso, o reitor explicou “que a Universidade está comprometida com o bem público e quer-se profundamente imbricada com os múltiplos contextos em que opera” e que a “interação com a sociedade supõe um duplo movimento, não apenas da Universidade para o seu exterior, mas também do exterior para a Universidade”.

Os novos doutores honoris causa

Álvaro Laborinho Lúcio é licenciado em Direito e Mestre em Ciências Juridico-Civilísticas pela Universidade de Coimbra. Atualmente, é juiz conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça.  O laureado mostrou a sua preocupação com a educação, afirmando que as crianças são “encharcadas de tal maneira com competências” que nunca se chega a “saber quais são as suas capacidades”.

Para o novo doutor honoris causa, a escola é “o lugar privilegiado para promover uma indispensável relação virtuosa entre as várias ciências”. Laborinho Lúcio finalizou com a ideia de que “é preciso voltar o ensino do avesso, concebendo a escola de baixo para cima, partindo dos alunos e das alunas”.

Frei Bento Domingues decidiu, aos 19 anos, entrar para a Ordem dos Pregadores, instituição que conta com mais de 600 anos em Portugal. Esteve exilado no Porto e em Roma. Para o laureado, “a religião tem uma função social e as sociedades religiosas têm uma função na vida pública.”

Ao longo do discurso, disse que nunca se seduziu por “qualquer carreira académica ou extra académica”. O que o motivava era “uma questão de fidelidade” à vocação dominicana: “testemunhar, comunicar, dar aos outros o que de Deus e dos outros recebi”, acrescentou.

Segundo Frei Bento Domingues, “está em causa a decisiva questão da unidade da família humana e do seu futuro. A cultura da indiferença anti-cultura – comandada pelos poderes da divisão e da guerra está aliada à prepotência do dinheiro”. Relembrou ainda que o “Papa João XXIII abriu um caminho de liberdade e de paz para todos os seres humanos” e que o Papa Francisco veio “para escutar e intervir a favor de todos, a começar pelos mais ofendidos”.

Laureados em debate sobre Cidadania, Religião e Cultura

A sala de atos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho abriu as portas a mais uma tertúlia, na passada quinta-feira. Em colaboração com o Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade, a sala recebeu Álvaro Laborinho Lúcio e Frei Bento Domingues para debaterem o tema Cidadania, Religião e Cultura.

Na palestra, foram debatidas questões como a intergeracionalidade e a crescente vaga de populismo. Frei Domingues começou por responder a uma provocação para a qual o próprio contribuiu – a 14 de fevereiro de 2018 escrevia na sua coluna semanal no jornal Público: “Este arcebispo propõe: já que não as deixam entrar pela porta, sugiro que entrem pelo telhado!”

“A primeira coisa que há a fazer é escutar”, disse o frade, mantendo a interrogação sobre a impossibilidade de as mulheres serem nomeadas como padres e bispos na comunidade cristã. O colunista, que escreveu sobre o assunto, resume a sua defesa ao carácter sensível e profissional que revê no papel da mulher, tanto na celebração como na igreja. “A religião tem as suas pancadas”, rematou, lembrando opiniões contrárias à sua e que tornam essencial cada vez mais “a capacidade de escutar”.

Cátia Barros/ComUM

Com ambos os convidados a pronunciarem-se, foi Laborinho Lúcio, reconhecido pelo seu envolvimento com a educação infantil e presidência da Assembleia-Geral da Associação Portuguesa para o Direito dos Menores e da Família, quem enquadrou a realidade – “seguindo uma perspetiva marxista, instalamos uma classe dominante que é a do adulto e uma classe operária que é a da criança, a do adolescente e a do velho”, apelidando a solidariedade adjacente ao processo intergeracional de “uma ideia hipócrita”.

Com 76 anos, declara que “é a partir do estatuto, enquanto adulto” que se afirma “o conceito intergeracional”. “A partir do momento em que o velho passa a idoso, passamos a ser uma categoria”, acrescentou.

Laborinho Lúcio adverte que a representação do populismo o fascina. “Quando chego ao ismo, estou já atraído pelo pópulo”, disse ainda. Tomando como aliada a ideia de Frei Bento Domingues– o combate só é possível com “a união na diferença” por forma a dar origem a “uma pedagogia para que nasça um oprimido e não uma que desenvolva um opressor” –, Laborinho acredita que “a questão não é evitar, mas questionar”, lembrando que, neste caso, é preciso “procurar microespaços de pertença”.

José Brás e José Duque