O primeiro dia das Jornadas da Comunicação contou com uma conferência do académico Sérgio Denicoli e com uma conversa entre várias figuras da comunicação social.

As fake news, a guerra de audiências e a importância da imagem no jornalismo foram alguns dos temas abordados no primeiro dia das XXII Jornadas da Comunicação. A palestra “A Desinformação na Comunicação Digital” e o painel “Desinformação: Influência e Combate” ocuparam a tarde desta terça-feira.

Julio Magalhães, diretor-geral do Porto Canal, Sandra Sousa, jornalista da RTP, Márcia Galrão, assessora do Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, e Hugo Delgado, fotojornalista da agência Lusa, marcaram presença numa conversa moderada pela docente Felisbela Lopes.

Márcia Galrão admitiu que com as redes sociais a assessoria tinha um grande desafio. “A curta janela de tempo que temos para reagir, porque no espaço de uma hora a notícia foi emitida por 20 redações. Três anos depois, ainda se partilham nas redes sociais notícias que já desmentimos”, referiu. O diretor geral do Porto Canal acrescentou que no jornalismo o tempo também é um obstáculo, até porque “as notícias ponderadas perderam o seu lugar, porque as notícias são logo publicadas nas redes sociais”.

Debateu-se, também, até que ponto a informação convergia para o entretenimento, relembrando que “Gente que não sabe estar”, de Ricardo Araújo Pereira, é uma rubrica de um telejornal. Atendendo à necessidade que há de liderar as audiências, Sandra Sousa considera que “a informação é o produto mais barato”.

Outro tema debatido foi o acompanhamento constante dos políticos e a maior preocupação com a imagem pública que daí advém. Hugo Delgado admitiu que “o fotojornalista tem o poder de manipular a informação”, mas Júlio Magalhães acrescentou que atualmente “todos têm esse poder”.

A tarde contou, ainda, com a palestra “A Desinformação na Comunicação Digital”, na qual Sérgio Denicoli falou sobre o fenómeno das noticias falsas, a partir das análises efetuadas pela sua empresa de comunicação, a AP Exata. A título de exemplo, o investigador abordou o caso da eleição de Jair Bolsonaro no Brasil e a estratégia da extrema-direita em Portugal.

Para Sérgio Denicoli, o método destes movimentos passa pela criação de várias páginas nas redes sociais, com conteúdos falsos para condicionar os visualizadores a adotar uma determinada ideia. “Esse discurso não é focado em situações reais, prendem-se com fake news, com o intuito de persuadir alguém”, explica Denicoli.

Também esclareceu como estes conteúdos são, por vezes, emitidos por perfis falsos, em que bots de inteligência artificial se apresentam como pessoas humanas. Nas mais recentes eleições presidenciais no Brasil, 72% dos botsidentificados pela AP Exata eram pró-Bolsonaro, com os restantes a apoiar as mais diversas fações presentes na disputa. “Foi uma estratégia bem planeada, com hierarquia, havia uma ciência”, comentou.

Esta quarta-feira realiza-se a segunda parte das XXII Jornadas da Comunicação. O último dia conta com nomes como Sara Antunes de Oliveira, editora de Sociedade do Observador, Alfredo Cunha, fotojornalista, e Vasco Ribeiro, membro da Comissão Científica de Mestrado em Comunicação e Gestão de Indústrias Criativas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.