O infame rapper norte-americano Lil Pump lança o seu segundo projeto Harverd Dropout. O artista procura revigorar o seu estilo sonoro com escolhas de produção mais modernas e refinadas, o que acaba apenas por ferir o artista e salientar a vulgaridade das suas faixas.
Proveniente da vaga dos ditos Soundcloud Rappers, Gazzy Garcia, conhecido como Lil Pump, atingiu a sua popularidade em 2016, ao atingir cerca de 100 milhões de streams na plataforma. Um ano depois, o jovem lançou uma mixtape autointitulada, que catapultou o seu sucesso para um nível viral com êxitos como “Gucci Gang” e “D Rose”.
No projeto Lil Pump, com 15 faixas distribuídas ao longo de uns meros 35 minutos preenchidos por batidas estridentes e distorcidas até níveis absurdos, ergueram-se letras parvas, excêntricas e ridiculamente simples onde o norte-americano discursava, no seu característico vocabulário limitado, sobre drogas, mulheres e dinheiro. Quase como um regresso à era de bling Rap, foi precisamente este aspecto Do It Yourself, exótico, cru e enérgico dessa mixtape que atraiu críticas positivas e bastantes fãs. Pareceu então natural que o álbum que se seguisse pedisse tanta capacidade cerebral da audiência como o primeiro.
Esse disco chega só em 2019, após ter sido revelado aos poucos durante o ano anterior. O título inspira-se no meme feito quando os fãs de Garcia mencionaram que o artista saiu da prestigiosa Universidade de Harvard para “salvar o mundo do rap”. Essa teoria já estava esquecida e desacreditada, até que a própria universidade convidou o rapper para dar uma palestra após o lançamento de Harverd Dropout.
Talvez, por isso, o mais jovem orador da história de Harvard, com apenas 18 anos, apresenta no seu novo álbum composições muito mais produzidas, quase livres da constante repetição de versos e palavras que preenchiam trabalhos anteriores. Em qualquer outro artista, isto poderia ser visto como algo bom. Porém, acho que é quando Lil Pump tenta ser um rapper normal que se destaca melhor que não o deve ser.
As músicas continuam bastante curtas, mas perderam a sua objetividade e diretividade. As batidas parecem reduzidas no espectro ou algumas vezes produzidas de mais. Tudo isto realça mais o papel de Pump, que fica prejudicado pelo holofote, revelando ainda mais as suas lacunas como artista.
O resultado geral é uma falta gigantesca de sinergia durante o álbum. Faixas como “Fasho Fasho”, “Off White”, “Too Much Ice”, “Be Like Me” ou “Stripper Name” matam o ímpeto e acabam por servir quase como filler, com muitos dos esforços colaborativos de outros artistas a caírem por terra.
Mas é em momentos como “Butterfly Doors” que se nota o quão este refinamento está a danificar a música de Pump. A mistura está excruciantemente baixa, e o instrumental é simples mas nem por isso exuberante. No meio dela, o artista parece apenas estar de passagem.
Este esforço extra na produção acaba por ser bem aplicado em outros momentos, principalmente quando utilizado em tandem com o estilo do artista, como em “I Love It”, “Esskeetit” ou “Racks On Racks”.
Precisamente ao não fugir da sua área de conforto é quando Lil Pump consegue os melhores resultados neste projeto, como em “Multi Millionaire”, “Vroom Vroom Vroom”, “Nu Uh” e “ION”. Estas faixas primam por não procurarem reinventar a roda e por permitirem ao rapper fazer parte de momentos onde o instrumental simplesmente toma conta da música, com uma presença vocal que procura ajudar a carregar a energia e não dominá-la.
Em conclusão, verificam-se neste projeto questões colocadas após o primeiro lançamento de Lil Pump na indústria. Será que o jovem consegue ser versátil noutros estilos mais ligados ao Hip-Hop? Será que as colaborações com artistas mais experientes ou produtores de maior relevo irão trazer novas paisagens sonoras ao catálogo do artista? Será que a produção básica e algo pateta de Pump vai beneficiar de maior refinamento?
A resposta é não a todas. Isto porque Lil Pump é parvoíce, juventude e sobretudo uma manifestação sónica da catarse ambígua do ser humano. E enquanto o seu projeto anterior era aquilo que dizia ser, embelezado pela sua funcionalidade e simplicidade, Harverd Dropout acaba por ser tão moderno e concretizado como um tupperware sem fundo.
3/10
Álbum: Harverd Dropout
Artista: Lil Pump
Data de Lançamento: 22 de fevereiro de 2019
Editora: Warner Bros. Records