Francisca Salema, mais conhecida pelo nome artístico Sallim, lançou no final de janeiro o seu segundo álbum. A Ver o Que Acontece é uma fusão de estilos, que resulta simultaneamente da procura e da afirmação de identidade da artista.

O projeto abre com “Primavera Nova”, uma faixa que nos transporta para dias radiantes e com flores a desbrotar. Ouve-se a voz numa melodia singular abraçada por teclas, braguesa e flauta, sendo o exemplo perfeito da diversidade que Sallim traz. É precisamente esta diversidade que torna o álbum tão intrigante, com uma atribuição incerta ao género Indie Pop.

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“Outra Vez” faz pensar e interrogar sentimentos. “O que é que eu sinto porque é que eu sinto” é o mote da canção. O sentimento é o que torna uma música numa canção e, se há capacidade de deixar o ouvinte a pensar e a interrogar o mesmo que a artista, então estamos perante uma canção.

“Quarto Sem Coisas” e “Bom P’ra Mim” surgem num tom mais melancólico e nostálgico, mas ainda assim de forma leve e clara. Se na primeira ficamos com uma sensação de mau estar próprio, na segunda Sallim traz uma ideia de superação pessoal e deixa-nos com o entendimento de que o “medo de estar errada não vai trazer nada”.

“Não Vale a Pena Pensar” surge numa versão de Sallim mais virada para o Eletrónico. As harmonias, contudo, fazem oposição com o género e simultaneamente a ponte para o tema “O Dia Todo”. Somos levados pelos medos existenciais de se estar a exagerar determinadas situações de forma simples e graciosa pela voz doce da artista, que é o complemento perfeito para a melodia fluída e leve da canção.

“Mais Ninguém” dá a conhecer o lado de sonhadora da artista lisboeta. “Sempre tão desatenta” e “a inventar vazio” é como Sallim se mostra nesta faixa. A utilização da flauta ajuda na viagem retratada, de certa forma, ao “mundo da lua”.

 

Em “Se Não Acontece” somos postos frente a frente com um medo e simultaneamente uma necessidade: ficar sozinha. Segue-se “A pensar Em Ti”, um cover de Kridinhux que faz contraponto com o que foi cantado anteriormente, mostrando a procura por uma outra pessoa. A faixa mais ritmada e alegre volta a trazer o tom primaveril da abertura do álbum.

“Hoje Fico Em Casa” é a ultima canção do projeto, sendo também a mais curta. A artista canta o medo de morrer e a espera por ideias para as canções, apesar de saber que “a festa nunca para”. A utilização do piano confere um tom mais dramático e teatral a este tema.  

De forma delicada e airosa, Sallim utiliza a sua voz em tons pastel para levar quem a ouve por uma viagem de auto-descoberta. Dos dias bons aos maus, das dúvidas e questões existenciais às superações, a artista consegue, com letras simples e claras, retratar-se e retratar as suas relações.