A jornalista do Observador partilhou com os alunos a sua visão face à desinformação nos meios de comunicação, nas Jornadas da Comunicação.
Sara Antunes de Oliveira marcou presença, esta quarta-feira, na qualidade de oradora, no painel “Desinformação: mensagem e meios”, inserido no programa das XXII Jornadas da Comunicação. Em entrevista ao ComUM, a editora de Sociedade do Observador falou da sua visão quanto ao tema abordado na conferência, da carreira e do percurso académico.
A ex-jornalista da SIC considera que a “massa crítica” tem um papel cada vez mais decisivo no combate à desinformação porque o número de pessoas interessadas em “fazer passar informações falsas” aumentou significativamente nos últimos tempos. Além disso, Sara Antunes de Oliveira atribui importância à formação que teve na Universidade do Minho, no curso de Comunicação Social – agora designado Ciências da Comunicação –, na medida em que lhe permitiu ser mais “disciplinada e metódica” no desempenho das suas funções.
ComUM: No contexto do debate “Desinformação: mensagem e meios”, de que forma considera que a desinformação influencia e é influenciada pelo jornalismo?
Sara Antunes de Oliveira: O jornalismo tem de cumprir sempre a sua função e, no momento em que a desinformação é usada por empresas, pessoas e instituições, o jornalismo precisa de agarrar os valores que definem a sua missão com garras ainda mais apertadas. Penso que os jornalistas têm que estar cada vez mais atentos e duvidar cada vez mais. Eu costumo dizer que o jornalismo questiona, dúvida, escrutina e tem que fazer isso sempre, cada vez mais, para garantir a veracidade da informação que chega e trabalhar sobre ela. Tudo isto porque há dez anos não tínhamos tantas pessoas tão interessadas em fazer passar informações falsas.
ComUM: Nos dias que correm, qual o papel do espírito crítico no combate a essa desinformação?
Sara Antunes de Oliveira: Eu acho que a massa crítica é fundamental no jornalismo, hoje ou em qualquer outra altura. Ter massa critica nas redações e em relação ao que se passa à nossa volta é tão fundamental ontem como hoje. Aquilo que me parece é que há uma falta cada vez maior de massa crítica num setor da sociedade que engloba grande parte dos nossos leitores. Li um estudo, publicado pelo Diário de Notícias, que dizia que a esmagadora maioria da população não sabia identificar uma notícia.
É isso que eu quero dizer com falta de massa crítica. Não quer dizer que as pessoas não se interessem ou não se envolvam. Talvez, hoje, envolvem-se no espaço virtual muito mais do que se envolviam antes no espaço físico. Faltam pessoas educadas para a informação, no sentido de perceberem e serem capazes de avaliar o que é de um órgão de comunicação credível e o que não é. A falta de massa crítica, nesse sentido, é altamente prejudicial.
ComUM: A Sara abandonou a SIC e assumiu a editoria de Sociedade no jornal digital Observador. Quais são os maiores desafios que encontra nesta função?
Sara Antunes de Oliveira: A minha mudança para o Observador foi uma mudança a todos os níveis. Mudei de meio: era jornalista na SIC e passei a ser editora de Sociedade Internacional no Observador. De repente, há uma equipa para gerir, estratégias para pensar, ideias para ter e tudo isso é muito complexo. Gerir pessoas é sempre um desafio gigante, mas isso também me tem permitido lidar de uma maneira mais próxima com as perspectivas que os meus colegas têm, nomeadamente dentro da minha equipa, daquilo que acontece no mundo, às quais devíamos prestar atenção.
Tudo isso é altamente desafiante. Isso não só me abre horizontes e áreas de trabalho, mas também me obriga a falar com pessoas que trabalham especificamente naquela área e essa interação faz-me aprender todos os dias. Para mim, isso é extraordinário!
ComUM: Como recorda o seu percurso na Universidade do Minho?
Sara Antunes de Oliveira: Sempre com muita saudade… Fui muito feliz aqui! Eu frequentei o curso antigo: a minha licenciatura teve cinco anos e no final fui estagiar. Eu era super chata, não gostava de nada, achava tudo muito teórico e queria mais cadeiras práticas. Mas reconheço que muitas das cadeiras que eu nem sequer percebia porque é que tinha foram fundamentais, pois obrigaram-me a ser uma pessoa disciplinada e metódica. Nós tínhamos uma cadeira que se chamava Métodos de Investigação, eram dois anos e aquilo era difícil.
A verdade é que aquilo nos ensina a pegar numa enorme quantidade de informação, trabalhá-la e arranjar forma de a comunicar. Criei processos mentais que me permitem atingir determinadas tarefas com mais facilidade. Eu acho que, não só me deu conhecimentos que são fundamentais para um jornalista, mas também me ensinou a ser perseverante e a querer saber sempre mais. Isso será sempre útil!
Ana Sentieiro e Margarida Lopes Silva