O realizador britânico, Steven Knight, criador de “Coisas Belas e Sujas” (2003) – que lhe rendeu a sua indicação a um Óscar – e de “Senhores do Crime” (2007), “Redenção” (2013) e “Locke” (2014), aventurou-se por novos caminhos e se a intenção era criar um filme original, com Serenidade conseguiu-o! Porém, esta afirmação tem um lado pejorativo.
Serenidade leva-nos para uma pequena e isolada ilha paradisíaca com o nome de “Plymouth”. A história desenvolve-se, essencialmente, em torno de Baker Dill (Matthew McConaughey) um ex-militar condecorado que procura esconder-se do mundo depois de sofrer traumas de guerra. Dill é dono de um barco e ganha a vida a levar turistas em pequenas excursões de pesca ao atum. Porém, tem o sonho de capturar um peixe grande demais para o seu barco, algo que o compromete muitas das vezes. Certo dia, a sua ex-mulher Karen (Anne Hathaway), encontra-o e implora para que mate o atual marido (papel de Jason Clarke), um homem rico, poderoso e abusivo, que a agride e maltrata o seu filho Patrick, fruto da sua ex relação com Dill.
Temos os ingredientes para mais um romance: o drama e suspense a caracterizarem o início da história. Porém, Steven Knight foi ousado, até demais, revirando o rumo que a história tomava para uma outra realidade inesperada, a ficção-científica. É de concordar que percebemos, desde logo, que a narrativa da história é pobre e com personagens muito superficiais e que Knight tinha que ter alguma carta na manga para nos surpreender.
Com muita confusão à mistura, finalmente, situamo-nos na “realidade” em que o Serenity se insere: um videojogo criado por Patrick. E é mesmo ele que acaba por matar o padrasto e percebemos que Plymouth Island é um mundo concebido como refúgio para manter a imagem do pai viva, depois de este ter sido abatido na Guerra. O grande peixe que atormenta a cabeça do pai, o Justiça, é a forma como Patrick pensa que o pai o pode ajudar a libertar-se do terror que vive em casa. É aqui que o filme ganha a sua melhor dimensão e forma, surpreendendo todos.
O filme tem um teor qb de sexualidade, ou não fosse um filme com Matthew McConaughey (Baker Dill), que é a personagem central e, consequentemente, a mais trabalhada, não da forma que esperávamos e como o ator merecia, porém cumpre com o objetivo do papel que lhe foi atribuído. Anne Hathaway que protagoniza Karen, de facto, combina bem com McConaughey, mas neste filme vê-se alguma artificialidade no seu papel. É certo que podemos culpar o próprio enredo por esta prestação, contudo, a forte presença e postura da atriz mantem-se. Diane Lane, em semelhança a Djimon Hounsou, tem um papel secundário e vive muito graças à personagem de Baker Dill e isto acaba por desfavorecer os atores. Jason Clarke, marido de Karen (Anne Hathaway), destaca-se pelo o seu papel de vilão, com uma excelente prestação.
No que toca à fotografia: era de se esperar mais. Ao invés de aproveitarem o espaço, uma ilha paradisíaca, optaram pelo o simples. E por esta razão fica a sensação que se podia ter feito muito mais com o trabalho visual. A banda sonora conta com 19 faixas todas compostas por Benjamin Wallfish. Acaba por passar despercebida, o que se torna bom. Quase só compostas por instrumentais, as músicas enquadram-se bem na narrativa.
Serenidade é um filme que divide opiniões. Se a originalidade fosse tudo, certamente, estaríamos perante um excelente filme. Porém, o próprio enredo demonstra muitas falhas e a história acaba por ser confusa para o espectador. Este filme é, claramente, um “desperdício de elenco”.
Título original: Serenity
Realização: Steven Knight
Argumento: Steven Knight
Elenco: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Diane Lane
EUA
2019