A nova série de Laurie Nunn – Sex Education – conta, apoderando-se de algum drama e de alguma comédia, a história de um jovem, Otis, cuja mãe é uma terapeuta sexual. Por um lado, esta realidade aparenta assustar o filho. Por outro, ajuda-o a entrar noutro patamar na relação que estabelece com os seus colegas.
Durante toda a série é representada uma escola secundária tipicamente americana dos anos 80. Compreende todos os grupos de estudantes que podem existir, desde os bullies – mean girls, que procuram denegrir tudo e todos, aos frustrados com a vida (por exemplo, adolescentes que tentam alcançar o orgulho dos pais, mas que, independentemente do esforço que coloquem nessa tarefa, nunca parecem consegui-lo. Outro exemplo é o caso de jovens homossexuais que têm medo de admitir a sua sexualidade devido ao ambiente em que cresceram), os alternativos, que passam praticamente despercebidos, e os nerds, tipicamente humilhados.
Para além disto, há uma preocupação na representação concreta da época, bomber jackets, polos às riscas, pontas do cabelo pintadas, denim on demin e calças à boca de sino são alguns dos exemplos de vestuário que podemos encontrar. Ademais, a edição de imagem apresenta – nos um certo nível de luminosidade e de contrastes que nos transportam para o período indicado.
O nome da série pode conduzir a uma ligação imediata a programas demasiado explícitos. Contudo, apesar de surgirem algumas cenas um pouco agressivas, a série aborda o tema do sexo com bastante respeito e procura sempre transmitir ensinamentos essenciais. Para além disso, o conjunto de piadas enquadradas permitem falar sobre o tema com alguma leveza.
Aprender a comunicar o que sentimos e queremos, a ter paciência e calma, a não objetificar os outros (“She is not an object! You keep describing her as inanimate objects, but she is a person”), a conhecer-nos primeiro antes de permitirmos a nossa entrega aos outros e a nos aceitarmos (“Everyone has bodies. It’s nothing to be ashamed of”; “Look, I’ll be hurt either way. Isn’t it better to be who I am?”), são algumas das lições que podemos retirar ao longo dos episódios.
Uma das personagens mais marcantes da série é Eric, o melhor amigo de Otis, um jovem homossexual que, devido à sua orientação, é alvo da maldade humana. Eric pertence a uma família religiosa e sente que nunca poderá ser ele próprio, mesmo junto dos seus. Decide abandonar a sua fé por ver a religião como uma entidade castradora. Para além disso, é maltratado diariamente pela forma como se veste, tratamento que culmina numa cena de extrema violência e aumenta a opinião de que um ser superior que nos protege, de facto, não existe.
A série está repleta de clássicos musicais dos anos 80 e alguns projetos originais punk. I Can’t Stand the Rain de Ann Pebbles começa a tocar quando Eric aplica maquilhagem após ser forçado a removê-la. Descreve a sua tristeza – “I can’t stand the rain ‘gainst my window” – e a vontade de voltar ao passado, à infância onde tudo era mais fácil – “Hey windowpane, do you remember? How sweet it used to be.”
Love You So Bad de Ezra Furman, começa a tocar no background, enquanto Otis e Eric estão a caminho da escola. Esta música fala sobre realidades partilhadas por alguns jovens – paixões intensas (“You know I love you so bad”), contudo, passageiras; faltar às aulas (“Like the kid skipping class in the bathrooms”) e fazer coisas que os fazem sentir rebeldes (“Sneaking cigarettes underneath the football bleachers / Like the kids growing up to be criminals”).
Um aspeto bastante interessante de Sex Education é que esta série conta com um painel muito heterogéneo de atores. Desde Asa Butterfiled conhecido pelo seu papel em Hugo e The Boy in the Striped Pyjamas e Gillian Anderson, atriz catedrática, cujo um dos últimos papeis foi em The Spy Who Dumped Me. Há também um conjunto imenso de atores no início de carreira como Ncuti Gatwa (Eric Effoing), Emma Mackey (Maeve Wiley), Kedar Williams-Stirling (Jackson Marchetti), Aimee-Lou Wood (Aimee Gibbs) e Connor Swindells (Adam Groff).
Para todos aqueles que procuram uma série para passar o tempo e para dar umas valentes gargalhadas Sex Education é a escolha certa. Nunca perde o caráter educativo e reflexivo, mas contém algumas cenas explícitas, dirigindo-se por isso a adolescentes com alguma maturidade.
Sexo: entidade castradora ou libertadora?
Título original: Sex Education
Realização: Kate Herron, Ben Taylor
Argumento: Laurie Nunn
Elenco: Ncuti Gatwa, Emma Mackey, Kedar Williams-Stirling
Reino Unido
2019