Baseada na série de banda desenhada Dark Horse de Gerard Way e Gabriel Bá, The Umbrella Academy é uma das mais recentes apostas da Netflix.  Um dia, em 1989, 43 mulheres dão à luz sem terem estado grávidas no dia anterior. Este extraordinário fenómeno chama a atenção do bilionário excêntrico Sir Reginald Hargreeves, que decide adotar sete das crianças que nasceram nesse dia. Seis delas imediatamente revelam poderes peculiares que levam a que Hargreeves use as crianças como uma espécie de mini exército que combate o crime, excluindo a sétima criança, atribuindo-lhes apenas números de acordo com a relevância do seu poder.

A série começa com a reunião dos irmãos, 17 anos depois do ultimo deles ter abandonado a casa onde cresceram, tendo em conta que dois deles partiram em circunstâncias bem diferentes dos restantes. O motivo do encontro é a morte de Sir Reginald e é a partir deste evento que se desenrola o resto da história que conta com a revelação de algo que forçará os irmãos a combater juntos mais uma vez.

Apesar de tudo indicar que esta série seja mais uma típica história de super heróis, na realidade é bem mais complicada do que isso. The Umbrella Academy explora as consequências de uma infância abusiva, onde nunca se conheceu o amor paternal e se teve um robot como mãe. Os adultos disfuncionais em que se tornam as sete crianças peculiares possuem traços realistas e com os quais nos podemos relacionar. O abuso e mentiras de Sir Reginald, que são revelados ao longo da série, dão-nos a entender a relação dos sete irmãos com os seus poderes e o porquê de serem quem são atualmente. Para além disto, revela bastante sobre a intimidade entre os irmãos, que em certos casos não existe e, noutros casos em particular, existe em demasia. O final desconstrói um pouco a ideia de que a relação familiar entre os sete é distante e indiferente, ideia em que o decorrer dos episódios nos pode levar a acreditar.

Em meio de todo um misto de emoções, a ação é algo muito marcante nesta série. Com seguimentos ampliados pela banda sonora com músicas como “Istanbul (Not Constantinople)” e “Run Boy Run” que marcam duas das melhores cenas de ação.

Também de realçar é o uso das cores. Nas cenas situadas na mansão da família o uso de cores melancólicas e um tanto baças reflete o vazio e o rancor presente. Já em cenas mais emocionais, as cores são realçadas para salientar os sentimentos que se pretendem transmitir. A série aposta num jogo entre as cores e a música para intensificar as sensações e manter o espectador atento. A singular excentricidade de cada personagem, ainda que com um toque particular às suas personalidades, é ainda outro fator que contribui para a intensidade e originalidade da história.

Saliento ainda uma das partes mais importantes da série: por mais sombria que possa parecer, a comédia é algo presente em todos os momentos. Seja em cenas emocionais, cenas de ação ou mistério, haverá sempre um comentário ou uma expressão que fará o espectador rir e tornará momentos pesados um pouco mais leves.

Há no entanto algumas falhas que podem ser apontadas. Por um lado, a série começa com uma intensidade que se vai perdendo um pouco ao longo dos episódios e que reacende apenas nos dois últimos, levando alguns a acreditar que The Umbrella Academy podese ser muito mais curta. Por outro lado, seria interessante se algumas das sub histórias fossem mais exploradas, tendo em conta o potencial tanto dos atores como do trauma dos seus personagens. Mas isto é algo que poderá ser corrigido e melhorado se a série for renovada para uma segunda temporada.

De destacar o papel de Aidan Gallagher (Cinco) que, com apenas 15 anos, conseguiu encarnar um dos personagens mais complexos da série e possivelmente aquele com as cenas mais desafiantes. E o papel de Robert Sheehan, que nos tinha já conquistado na série Misfits e retorna no papel da personagem mais atormentada e emocionalmente traumatizada, ampliada pela sua performance

The Umbrella Academy estende-se por 10 episódios com cerca de 50 minutos cada um. Desconstrói a ideia dos típicos super-herois dando-nos uma versão mais humana e próxima dos mesmos, enrolada num choque de fantasia e ficção cientifica que poderá impressionar até os mais cínicos.