O professor da área de Relações Públicas participou nas Jornadas da Comunicação, na passada quarta-feira.

Vasco Ribeiro foi um dos convidados do painel “Desinformação: Mensagem e Meios”, inserido nas XXII Jornadas da Comunicação da Universidade do Minho. Em entrevista ao ComUM, o professor da área de Relações Públicas da Faculdade de Letras da Universidade do Porto falou da sua experiência profissional como assessor de imprensa e como diretor/coordenador de comunicação.

O doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho afirma que, em Portugal, existem “as melhores formações quer em jornalismo, quer em saídas de comunicação estratégica”.

 

ComUM: Sendo um profissional da área da Comunicação, quais são os maiores desafios com a desinformação?

Vasco Ribeiro: É preciso combatê-la, isso para mim é o essencial. Como alguém que trabalhou sempre na promoção de marcas, produtos, serviços e personalidades, o trabalho e a afirmação dos valores dessas marcas, produtos e serviços é feito pela positiva e nunca pela negativa. E quando há desinformação nós temos de ser pró-ativos no combate a essa realidade.

 

ComUM: Os estudantes de Comunicação crescem a ouvir que um bom RP tem que ter amigos no jornalismo. Como é que isso funciona no mundo real?

Vasco Ribeiro: É verdade. É um dos vértices da operação de um assessor de imprensa. Temos a produção de conteúdos, dos conteúdos dados saem notícias, organizamos eventos e os jornalistas vêm cobrir esses eventos. O vértice de relacionamento é um vértice importante. Eu nunca fui jornalista na minha vida, graças a Deus. Estudei comunicação e fui assessor de imprensa, depois relações públicas e por aí fora. Os contactos criam-se, não temos de brotar nem nascer desses contactos. Vamos trabalhar para uma determinada instituição e criando esses próprios contactos, sendo que estes são o relacionamento.

 

ComUM: Como assessor, qual é a relação que tem com os jornalistas?

Vasco Ribeiro: É uma relação de saber que cada um tem o seu papel. Não tem de ser de amizade nem de confronto. Eu sigo um interesse, o jornalismo tem outro. Por isso, cada um cumpre a sua função. Por vezes, é de tensão, outras vezes é de cordialidade, umas vezes é de cumplicidade, outras vezes é de conflito. Está mais que descrito até na teoria das fontes. É essa é a relação que se tem.

 

ComUM: Durante o painel em que foi orador afirmou que está cada vez ligado à direita do que à esquerda. Porquê?

Vasco Ribeiro: Isso tem que ver com o meu crescimento. Eu sempre fui muito de esquerda e tive uma educação de esquerda, mas cada vez mais percebo que o papel da família é importante. A família multifuncional não tem de ser uma ditadura heteronormativa, mas sim uma família nas suas diferentes dimensões. Uma sociedade não se recai tanto no indivíduo como a esquerda defende, mas cada vez mais no papel de uma família que seja tradicional ou alternativa.

 

ComUM: Foi assessor de imprensa e, posteriormente, coordenador do Gabinete de Imprensa da Bancada Parlamentar do Partido Socialista na Assembleia da República durante o XVIII Governo Constitucional (entre 2009 e 2011). Seria assessor de imprensa de outro partido?

Vasco Ribeiro: Sim, podia ser. Não vejo qualquer problema. Se acreditasse nesse partido e nos seus valores, aceitava. Ao longo da minha vida, já tive desafios que neguei por razões éticas, mas sendo um partido democrático e um partido com valores humanistas e de respeito por aquilo que são os meus valores, a diversidade e a liberdade individual, eu garanto que não tinha qualquer tipo de problema.

 

ComUM: Também foi diretor/coordenador de Comunicação da Reitoria da Universidade do Porto. Quais são os desafios de trabalhar numa reitoria?

Vasco Ribeiro: Eu já trabalhei há dez anos, saí em 2009. Já saí há muito tempo. Na altura tive a felicidade de haver pouca dinâmica na comunicação da Universidade do Porto. O Minho era para nós a referência, já na altura, e Aveiro também, até porque eram universidades mais pequenas, comunicavam melhor e nós fizemos esse processo de mudança de marca e de afirmação daquilo que era a maior e uma das melhores universidades do país.

 

ComUM: Considera que o ensino superior em Comunicação responde às necessidades atuais que são impostas nesta área?

Vasco Ribeiro: Acho que sim. Acho que nós temos as melhores formações quer em jornalismo, quer em saídas de comunicação estratégica, nos seus diferentes ramos. A academia portuguesa conseguiu conciliar não só o conhecimento de investigação de alta credibilidade, e vocês estão no melhor centro de investigação do país, como também consegue aliar-se às práticas profissionais e saber sempre captar profissionais para trabalhar na academia.

 

ComUM: No painel referiu também que devia existir uma forma de os meios de comunicação serem apoiados, pelo menos, financeiramente. O que sugere que seja feito?

Vasco Ribeiro: Pode ser, eventualmente, através de um apoio aos próprios arquivos. Ou seja, o Estado devia arranjar uma forma de desencadear processos de democratização, de acesso, de digitalização do próprio conteúdo, sendo que pagávamos por isso. E outra forma, do meu ponto de vista, é por exemplo permitir uma compra transparente, igualitária de vários órgãos, disponibilizando a universidades, instituições públicas, entre outros, essa informação de forma a que o conteúdo jornalístico circule de forma mais efetiva.

Ana Sousa, José Duque e Sofia Coelho