O projeto de voluntariado do Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho nasceu há um ano e três meses. Ajudar a comunidade é a principal missão.
Movido pela “vontade de querer ajudar e fazer mais”, o Porta Nova é uma secção autónoma do Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho (NEMUM). Conta já com cerca de 30 membros, entre colaboradores e voluntários, que dão vida às mais diversas iniciativas, incluindo o projeto de voluntariado internacional, que leva em missão alunos do curso a países desfavorecidos.
Quarta-feira foi um dia diferente para uma turma de alunos do 5º ano da Escola Camilo Castelo Branco, em Famalicão. Servindo-se da velha fábula d’A Pomba e da Formiga, o Porta Nova levou as crianças da curiosidade à reflexão. Num diálogo animado, todos responderam com soluções a perguntas como “O que podemos fazer para ajudar quem mais precisa?”.
A mesma pergunta vai ser novamente feita este sábado. O Porta Nova organiza o “II PN TALKS: Vizinhança Extramuros”, um congresso sobre voluntariado médico, aberto a toda a população. O debate “África precisa de ser ajudada?” é um dos painéis que compõem o evento.
A campainha tocou e as crianças permaneceram quietas, com um brilho no olhar e com a vontade de querer saber mais como ajudar. Para um dos mais pequenos, a moral da história d’A Pomba e da Formiga é que “devemos retribuir o que fazem por nós”. Assim como é contado na fábula, o Porta Nova procura ajudar o próximo.
Contudo, as iniciativas dos alunos de Medicina não se resumem apenas à região do Minho. Apenas no primeiro ano, em 2018, fizeram três missões internacionais. Passaram por Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, onde realizaram um estágio de cinco semanas.
“É um estágio normal: nós, os estudantes, fazemos as coisas com a insegurança do pouco que sabemos, mas lá somos bastante úteis nas pequenas coisas que podemos fazer”, diz Nuno Madureira, um dos responsáveis pelo Porta Nova e aluno do 5º ano. Para o estudante, o projeto é formativo. Em missão de voluntariado, os futuros médicos lidam com doenças comuns em África, o que leva a uma maior aprendizagem no terreno.
Alberta Baptista, estudante do 4º ano, esteve presente numa ação de voluntariado internacional no último verão, em Angola. A aluna confessa a maior dificuldade que teve: “Guardar para ti. Não falar tudo aquilo que te revolta. É ser médico e não ser ativista. Acho que há uma parte de nós, até por sermos muito novos, que quer chegar e quer contar e quer mudar o mundo a todo o custo. Mas, um médico, não denuncia, trata e resolve o problema”.
O Porta Nova surgiu a partir de uma conversa entre Nuno Madureira e a professora Margarida Correia Neves. Com base numa experiência de voluntariado em Cabo Verde, através do Projeto Sementes, o estudante sentiu vontade de fazer algo semelhante no curso de Medicina e juntou alguns colegas. Em setembro de 2017, o plano começou a ser construído e, quatro meses depois, nasceu o Porta Nova, como uma secção autónoma do NEMUM.
Para Margarida Correia Neves, tutora do projeto, o balanço é “espetacular”, principalmente por se tratar de uma iniciativa de alunos de um curso tão exigente como Medicina e pelo tempo de vida que ainda tem. “Claro que ambicionamos fazer muito mais, mas para este primeiro ano é uma coisa extraordinária. Nunca imaginei que eles chegassem onde chegaram”, diz, com orgulho. A professora destaca não só as missões em países africanos, mas também os projetos locais desenvolvidos pelo Porta Nova.
A Re-food é um desses exemplos.Trata-se de uma organização voluntária independente, que trabalha para combater a fome e o desperdício de alimentos. Todas as semanas, durante duas horas, dois colaboradores organizam os recipientes da comida e dividem as doses para cada pessoa.
Com missões feitas em vários países, Duarte Baptista, diretor do Departamento de Imagem e estudante do 5º ano, é um dos membros do Porta Nova com mais experiência. A última foi em Angola, a primeiro pelo novo projeto.
Aos que querem entrar no mundo do voluntariado, recomenda que tenham medo, mas não deixa de os encorajar.“Não tenham medo de saírem daqui, mas sim ao chegar lá. É preciso, sempre, pelo menos em cada grupo, uma pessoa que tenha medo. Não um medo concreto, mas alguém que se preocupa e pensa na segurança de toda a equipa”.
Este ano, o Porta Nova volta a organizar voluntariado internacional para os mesmos países que receberam os alunos de Medicina no verão anterior. Guiné-Bissau é o destino escolhido por Inês Martins, estudante do 4º ano, para partir em missão dentro de alguns meses. “Espero aprender a desenrascar-me, a saber o que fazer sob pressão – às vezes tenho esse receio, essa ansiedade de não saber se vou estar ou não à altura do desafio. mas tenho a certeza que vai ser uma experiência única na minha vida. Mal posso esperar”.