Unknown Pleasures é um dos álbuns mais marcantes da história da música moderna, por ser um álbum que flui perfeitamente e cria uma atmosfera muito surreal. Os Joy Division foram uma das primeiras bandas a criar música verdadeiramente deprimente que funcionasse lindamente, porém é lamentável que a dor simbolizada em muitas das canções de Ian Curtis fosse muito pior na realidade.

O ano era 1979, as pessoas ainda estavam a tentar descobrir como seguir com as suas vidas após o furacão chamado Punk Rock ter alterado bruscamente a superfície do universo musical. O efeito cataclísmico de Unknown Pleasures é sentido tão vigorosamente hoje como quando foi lançado.

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A faixa de abertura, “Disorder”, é uma das mais brilhantes do álbum, provocando no ouvinte uma sensação de esperança com um toque de desastre. A mistura de musicalidades atmosféricas, assim como a letra e a voz de Ian Curtis, são verdadeiramente fascinantes. “I’ve been waiting for a guide to come and take me by the hand / Could these sensations make me feel the pleasures of a normal man?” Esta canção é um clássico Joy Division: simples, eficaz e memorável.

A segunda faixa, “Day of the Lords” soa como se o mundo inteiro estivesse a acabar, pois o efeito de crescendo adiciona mais impulso ao momentum do tema. A letra é poderosamente enigmática, sendo que o vocalista fala sobre o sofrimento e a agonia de uma infância sangrenta e uma maior idade igualmente negra. Repetidamente, sussurra: “When will it end?

“Insight” é muito interessante do ponto de vista musical. Embora também beneficie de uma produção atmosférica, a continuação da linha de guitarra dá uma sensação de escalada que continua e se desenvolve por toda a faixa. Tanto a letra como os vocais de Curtis destacam-se muito quando ele diz “I’m not afraid anymore“, pois soa como se o facto de ele ter medo há imenso tempo o tenha feito perder a habilidade de ter medo, o que é muito inteligente.

É a meio do disco que encontramos os principais destaques, com uma sequência tripla brilhante de algumas das melhores músicas de toda a discografia da banda: “New Dawn Fades”, “She´s Lost Control” e “Shadowplay”.

“New Dawn Fades” é simplesmente uma obra de arte. Seja pelo baixo pesado de Peter Hook, a sombria percussão de Stephen Morris, a guitarra flutuante de Bernard Sumner ou pela escuridão das letras cantadas por Curtis enquanto, lentamente, começa a subir o tom dos vocais graves. “A loaded gun won’t set you free / So they say, so they say”. É a canção que todas as bandas querem escrever e poucas conseguem fazer.

“She’s Lost Control” é uma narrativa inquietante sobre o colapso físico de uma mulher com epilepsia que Curtis conheceu quando era adolescente. A bateria, embora seja repetida durante toda a música, não é irritante. Essencialmente, a faixa é impulsionada por um baixo extremamente cativante que toca alto e soa basicamente como uma guitarra, mas imbuída de uma batida levemente mais rítmica. O baixo é acompanhado por chiados de guitarra distorcidos que apenas causam um tumulto no fundo, com as notas do sintetizador a serem marteladas ao ritmo da bateria. Combinados, estes instrumentos adicionam uma camada ideal de desconforto à canção, uma vez que a sensação dançante do baixo é eficaz a representar a apreensão do corpo epilético a mover-se no chão. No entanto, é a instrumentação adicionada que realmente traz o desconforto na experiência da convulsão.

“Shadowplay” apresenta, talvez, o instrumental mais interessante do álbum. Quem conhece a música dos Joy Division sabe que a guitarra raramente contribui significativamente para a melodia, visto que são principalmente o baixo e a bateria que constroem a melodia nos trabalhos da banda. Nesta faixa, no entanto, a guitarra é genuinamente fantástica, muito diferente de uma guitarra Punk, mas mais Punk do que qualquer outra coisa.

Signo da passagem do tempo e da transformação do universo musical, Unknown Pleasures é perturbador do início ao fim. Mesmo ouvindo sucessivamente, podemos delinear as camadas de sons encapsulados no tempo, a querer deixar-se descobrir. Tão breve quanto a duração deste disco foi a vida de Ian Curtis e, com ele, a dos Joy Division. Com tudo o que sabemos sobre o misterioso e atormentado vocalista, podemos assumir que este álbum cumpre o papel de metáfora musical, já que sempre que pensamos ter decifrado o significado das letras e dos sons, abre-se um novo caminho para nos desconcertar.

O suicídio de Ian Curtis em 1980 contribuiu, sem dúvida, para a ampla mitologia gerada em torno da banda ao longo dos anos. Mas não há como negar que o lugar ocupado pelos Joy Division como lendas do pós-Punk é bem merecido, sendo que Unknown Pleasures permanece como um lançamento marcante e intemporal nos dias de hoje.