When We All Fall Asleep, Where Do We Go? é o primeiro álbum de Billie Eilish, tão ansiado pelos seus fãs mais fiéis. O projeto está envolto numa aura psicadélica, ainda que virado para o Pop com traços de Trap.

Na pequena introdução “!!!!!!!”, a cantora refere que tirou o aparelho ortodôntico e, por isso, o álbum é este, estabelecendo um contraste no mínimo interessante com a faixa que se segue. “Bad Guy” inicia o álbum de uma forma entusiasmante, que nos deixa absolutamente hipnotizados, pois a linha de baixo inicial envolve-nos de imediato no feeling da música.

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As harmonias ao longo de toda a quadra reforçam o transe para o qual Billie Eilish nos atirou, sem aviso prévio. A letra combina perfeitamente com o tom da canção, atrevido mas escuro. Quando pensamos que acabou, a cantora atira-nos para uma parte tenebrosamente bonita, quase desligada do resto do tema. São três minutos e 14 segundos de um masoquismo bem agradável.

“Xanny” remete para os temas old school da cantora, pelo menos nos primeiros segundos. Billie começa doce e suave, mas somos de novo surpreendidos pelo baixo distorcido e pelas vozes quase incomodativas. Por outro lado, as harmonias da quadra estão como que saídas de um filme da Disney. Esta é uma canção que demonstra muito bem os dois géneros mais conhecidos da cantora.

“You should see me in a crown” é o primeiro single que a cantora lançou deste álbum. Nada menos do que inebriante e de nos deixar arrepiados dos pés à ponta dos cabelos. É um single muito poderoso, tanto pela própria letra, como pelo instrumental muito bem conseguido. Os sintetizadores usados fazem com que o ouvinte seja invadido por uma energia macabra, mas que nos deixa num transe hipnotizante.

A quarta faixa, “all the good girls go to hell”, é mais atrevida e mais divertida. A linha de baixo é bem mais animada ainda que com uma progressão que não destoa do álbum, bem como os acordes que o piano faz soar. A cantora não deixa de fazer algumas referencias bíblicas ao longo destes minutos, já que se trata do inferno e do céu.

O mais recente single, “wish you were gay” era já conhecido pelos fãs mais assíduos, que sempre ouviram uma versão bem mais acústica cantada em bares. Bem mais calmo, confere ao álbum uma leveza talvez necessária para alguns.

“When the party’s over” é a faixa que ocupa o sétimo lugar nesta obra de Billie. Não é coincidência que esta seja de uma sensibilidade de outro mundo, pois a voz de Eilish, quase sussurrada, é como uma canção de embalar para os nossos ouvidos. Bem mais simples a nível de produção, mas nada que não seja extremamente bem conseguido, como a maioria das canções da cantora.

“8” é o tema que se segue. Começa com a voz da cantora alterada para parecer mais infantil ao som de um ukelele, que confere uma vibe mais doce. Ainda assim, o baixo continua a manter a coerência com as restantes peças. Não é um tema extraordinário por ser simples, mas é bonito.

Com “My strange addiction”, a artista regressa com a aura do subconsciente, do psicadélico. O tema surpreende-nos por começar com um trecho de um episódio de uma sitcom bem conhecida, The Office. A progressão melódica e harmónica são das mais cativantes que o álbum nos pode dar. A todos estes elementos, a subtileza e doçura da voz de Billie acrescentam um cariz típico dos irmãos O’Connell.

“Bury a friend” é, sem dúvida, o tema que representa todo o conceito do álbum, por ser místico, misterioso e sombrio. As harmonias, o baixo e os efeitos sonoros usados fazem-nos querer verificar se há monstros debaixo da nossa cama. A letra não fica atrás, nem é surpresa que a cantora use termos macabros. No fim do dia, o monstro somos nós.

“Ilomilo” é um dos temas mais aborrecidos do álbum. Não traz nada de novo ao projeto, são dois minutos e 36 segundos de transição para as três ultimas canções do disco, que a jovem cantora queria que se ouvissem como se de uma sequência se tratasse.

“Listen before I go” é o início da fase final do álbum. É uma faixa bastante calma, mais emocional e menos psicadélica. Não deixa de ter um cariz assombrado, principalmente na letra, onde a cantora fala em deixar de respirar e que vai sentir falta das pessoas à sua volta. No fim, ouve-se a sirene da ambulância a anunciar a tragédia que a cantora queria que prevíssemos. É um tema agridoce, acompanhado por um piano que raramente ouvimos no projeto.

Segue-se “I love you”, um dos temas mais bonitos do projeto. A voz sussurrada de Billie, quase de choro, puxa-nos para um mundo bem mais emocional. A letra, o dedilhado da guitarra e as harmonias, desta vez cruas, são do mais puro e duro que a artista nos consegue dar. “Goodbye” é um apanhado de várias partes do álbum, onde são inseridas letras de várias canções do projeto. Se ouvirmos estes três temas como a cantora idealizou, eles formam uma frase “Listen, before I go: I love you. Goodbye”.

Assim, esta pequena coletânea torna-se um pequeno reviver de memórias. Como se Billie Eilish estivesse a ver a sua vida diante dos seus olhos, e nós através dos ouvidos.