Em véspera de sexta-feira santa, os Black Bombaim e os HHY & The Macumbas levaram os bracarenses a um templo bem menos convencional.
Na passada quinta feira, o Gnration organizou um concerto duplo das bandas Black Bombaim e HHY & The Macumbas. Com casa cheia, foi impossível ficar indiferente à profundidade sonora e aos ritmos alucinantes das duas bandas.
A noite foi aberta pelos Black Bombaim, atrás da cerrada cortina de fumo que pairava na blackbox. Cerrada também foi a ambiência com que a banda de Barcelos, acabada de chegar de tour europeia, presenteou o público de Braga. Indo buscar influências a gigantes do rock como Pink Floyd, Black Sabbath e Jimi Hendrix, os Black Bombaim conseguem de alguma forma recuperar essa emoção dos tempos áureos do rock, reanimando-o no século XXI. Deste modo tornou-se possível que um baixo, uma guitarra e uma bateria soem como uma pesada nuvem caustica.
Não houve um segundo para respirar enquanto a banda barcelense apresentou temas de uma carreira que já leva 13 anos e em que se afiguram sete álbuns. Em relação ao panorama musical barcelense, Tojó, baixista dos Black Bombaim, afirma que “o aparecimento de bandas é por ciclos, agora está um bocado parado”. Em entrevista ao ComUM, o músico acrescenta que, em Barcelos, “há coisas como o Triciclo, a Linha TGV e a Casa Azul, que são organizados por pessoal das bandas de Barcelos, por isso está-se a trabalhar, não morreu”.
Depois do intervalo, o público voltou à sala para se confrontar com a estranha figura que encabeça os HHY & The Macumbas: um vulto de costas com uma máscara tribal, que serve de interface entre os artistas e o público, como disse Jonathan Uliel Saldanha ao ComUM.
O som do conjunto do Porto, que se afirma mais como um laboratório de som do que com uma banda, cria a sua singularidade sobre as bases do jazz, da club music e da música experimental. O projeto dá um foco único e especial à percussão, chegando a ter quatro fontes rítmicas distintas em alguns temas. É deste perfeito caos de ritmo que surge uma sonoridade tão urbana quanto tribal, ajustada ao mundo pós-moderno onde a super estimulação, o frenesim e o anacronismo, conseguem por vezes remeter para um estado de meditação fugaz e inesperada.
Quanto ao mais recente álbum, “Beheaded Totem”, o fundador do projeto, Jonathan Uliel Saldanha, admite a sua inspiração na “destruição de uma série de preceitos da humanidade e a construção de outros, uma espécie de mudança de era”.
Na próxima semana, o gnration volta a abrir portas para as artes em mais uma edição do gnration open day que celebra o sexto aniversário do espaço. A 27 de abril, o dia será de entrada livre com música, instalações artísticas e atividades educativas.