Os Dream Theater presentearam com naturalidade os fãs de Metal e Rock progressivo com um novo álbum estranhamente apelativo. Sem pôr totalmente de parte aquela tendência particular da banda de atribuir a cada música um caráter quase épico, devido ao virtuosismo dos músicos, Distance Over Time é um álbum de fácil escuta, sem aquela grandiosidade levada ao extremo em todos os sentidos no album anterior The Astonishing.

Vamos com nem meia dúzia de meses em 2019, e um montão de boa música e projetos inovadores continuam a brotar de todos os cantos do mundo, contrariando um pouco aquela ideia comodista generalizada de que boa música já não se faz nos dias de hoje. Exemplo disso é o 14º álbum, Distance Over Time, de uma banda composta por alguns dos melhores instrumentistas do mundo, os Dream Theater.

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Imaginar-se-ia que pouco haveria ainda para provar até aos fãs mais desconfiados. Mas a verdade é que vivemos num mundo em que, por bons e maus motivos, os nossos passados são-nos constantemente arremessados como termo de comparação e como motivo para desvalorizar o presente. Seja por termos feito algo considerado como muito mau anteriormente que nos desvaloriza enquanto pessoas e artistas, ou por termos feito algo visto como sendo tão bom que assombra o que possa ser feito no futuro.

De qualquer das maneiras, este novo projeto é difícil de dissociar do seu antecessor pela diferença de caráter e de tamanho, visto que este é dos álbuns mais curtos do grupo, e o outro tinha mais de duas horas de duração. A abordagem a cada faixa como uma peça única favorece o desenrolar do álbum e torna cada momento digno do seu tempo.

Repleto de momentos incrivelmente belos e de riffs brutais que nos mantêm agarrados e interessados em cada canção, desde a primeira à última faixa, podemos maravilhar-nos com a criatividade e o virtuosismo da banda. Aliás, convém dizer que este deve ser o primeiro projeto em que, pessoalmente, não senti a falta do baterista Mike Portnoy desde que deixou a banda, o que deve servir como ponto para valorizar o trabalho de Mangini, cujo talento nunca esteve em causa, mas nem sempre soou adequado às necessidades do grupo.

“Untethered Angel”, a primeira faixa, desenvolve-se com subtileza, começando num fraseado simples de guitarra, rapidamente substituído pelo lado mais pesado e dramático natural dos Dream Theater. “Paralyzed” é o exemplo de como até esta banda consegue soar convincente e intensa mesmo com estruturas mais simples, sendo esta uma canção capaz de agradar às pessoas menos apegadas à arte de dominar um instrumento e aos arranjos super complexos e elaborados.

“Fall Into the Light” é a primeira faixa a desenrolar-se assumidamente como uma peça de virtuosismo, cheia de espaços para os músicos brilharem. O tema termina a alta velocidade, não deixando de ser construído num esquema curiosamente ortodoxo.

Em “Barstool Warrior”, é o piano de Rudess que nos mostra primeiramente quão bela é a melodia central da música, até surgir um dos solos de guitarra mais bonitos e arrepiantes de Petrucci. Segue-se “Room 137”, provavelmente a mais pesada de todo o disco com uma instrumentalização mais ritmada e agressiva.

“S2N” é dos momentos altos do álbum, com várias fases e super variada, com “At Wit’s End” a seguir o mesmo caminho, abrindo como uma introdução absolutamente brutal e repleta de riffs e solos super tensos, tocados a uma velocidade vertiginosa por todos os instrumentos. Este é um dos momentos mais melódicos e arrepiantes do disco.

“Out of Reach” é uma faixa que exemplifica em alguns momentos as fragilidades ou defeitos mais comuns no grupo. Demsontra que a banda tende, por vezes, a cair na tendência do cliché, especialmente nas letras e nos refrões.

A canção “Pale Blue Dot” é intensa, dramática e complexa, fechando o projeto com uma demonstração de força e daquilo que os Dream Theater são capazes. Sem dúvida, é uma das melhores faixas de entre estas nove.

Distance Over Time é um álbum que, ao mesmo tempo, consegue ser acessível e poderoso, apesar de, por vezes, abusar um pouco no dramatismo, o que só lhe retira força. O brilhantismo deste conjunto de génios proporciona-nos, assim, mais uma hora de boa música e de rasgos daquilo que de melhor há no Heavy Metal e no Rock progressivo.

Não deixa de ter vários momentos facilmente esquecíveis, apesar de não haver nenhuma má faixa no disco. Claramente não se faz valer pela qualidade das suas letras, mas quando se tem este talento e se consegue desenvolvê-lo e aproveitá-lo assim em grupo, o difícil mesmo é fracassar.

Distance Over Time responde com sucesso às expectativas e à crítica, assumindo-se como mais uma obra de qualidade numa discografia cada vez mais rica.