Emboscada Final: uma perseguição americana

Emboscada Final, de John Lee Hancook, retrata a perseguição ao casal de criminosos mais popular dos Estados Unidos, Bonnie e Clyde. Porém, Hancook dá-nos uma perspetiva diferente do que estamos habituados a ver sobre este casal fora-da-lei. Acaba por dar o protagonismo aos dois reformados “Texas Rangers” responsáveis pela sua captura, Frank Hamer e Maney Gault, representados por Kevin Costner e Woody Harrelson, respetivamente.

O filme começa com uma cena de ação, a fuga do gangue de Bonnie e Clyde, o que assenta bem, acabando até por funcionar como “plafond” para o espetador nas cenas seguintes, menos motivantes e mais chatas, o típico enredo de um filme de crime e drama. Uma reunião, convocada pela então Governadora do Texas, Ma Ferguson, interpretada pela atriz Kathy Bates, onde um homem tem a brilhante ideia de sugerir o nome dos dois agentes reformados, conhecidos pelos seus métodos pouco ortodoxos, mas eficazes, numa confronta entre o velho e o novo tempo. E todas aquelas cenas seguintes, desde o reencontro de Hamer e Maney até à preparação da missão.

Finalmente na estrada, Emboscada Final começa realmente a contar a história que esperamos ouvir, a difícil perseguição. O casal a monte desfrui de uma imensa reputação popular e são os agentes, muitas vezes, vistos como os “maus da fita”. O povo não denuncia nem entrega os criminosos, acabando mesmo até por impedir e dificultar a sua captura.

Apesar de todo o filme ser marcado pelas inseguranças dos “Texas Rangers” em terminar com êxito esta missão, fruto da idade e dos demónios do passado, é aqui que os atores têm a sua mostra de talento. Kevin Costner protagoniza Frank Hamer, onde a sua linguagem corporal acaba por dar a essência à personagem, um velho agente com talento para o gatilho, principalmente, quando a missão é suja e pesada, um homem sério e melhor amigo de Maney Gault, que é interpretado por Woody Harrelson, um agente reformado falido e solitário depois de ter sido destituído, face a Frank era uma pessoa mais sentimental e humanista. Impossível negar a forte compatibilidade deste duo de atores. Kathy Bates tem um papel secundário, como Governadora do Texas, e mesmo assim é difícil apontar algum defeito à sua prestação, uma mulher de poder e calculista.

A fotografia é um ponto forte. É verdade que não vemos grandes planos capazes de nos tirar a respiração, mas para um filme dos anos 30 o objetivo está mais do que cumprido. A técnica e a alternância dos focos está conseguida de uma forma bastante profissional e capaz de satisfazer o espetador.

A banda sonora é muito simples e tem, quase sempre, presente o estilo do faroeste. Não será algo que o espetador dará conta, o que na teoria é um bom sinal. A música está no timing certo em cada cena e, mais uma vez, para a história que o filme narra, encaixa-se perfeitamente.

Na conclusão, Emboscada Final está bem dirigido e construído. A mudança de perspetiva só o tornou melhor, ficando a sensação que Hancook queria, de certo modo, desmitificar a figura deste casal como mártir na cultura americana, pois sempre se focou no terror que estes causaram. Notando que só na última cena é que é visível o rosto dos criminosos. Sem grandes emoções e enredos, é um bom filme para aprender algo, nem que seja em tom de curiosidade.