Apesar das pouco convidativas condições meteorológicas, o público, desperto ao desfrute do espetáculo, deixou escapar inúmeros sorrisos e aqueceu o coração com o calor proveniente do palco.
O Theatro Circo recebeu este fim-de-semana, uma vez mais, o Festival Internacional de Tunas Universitárias Bracara Avgvsta, organizado pela Tuna Universitária do Minho (TUM). A vigésima nona edição do festival ficou marcada pela diversidade cultural e pela tentativa de recriar a tradição através da música.
O festival foi inaugurado pela atuação da casa, a TUM. O palco coloriu-se de vermelho e preto e animou todos os presentes desde o primeiro acorde de guitarra. Após familiares aplausos, entrou em palco a Tuna de Medicina do Porto, que encantou e se deixou encantar pela boa disposição que pairava na sala.
Destaque para a performance da bandeira comandada pelo tuno que acabou por vencer o prémio de Melhor Bandeira. A fluidez do movimento aliada à comunhão entre o amarelo e o preto elevaram o instrumental “Palladio” para além da magnífica cúpula do Theatro Circo.
Após um breve intervalo, a Tuna TS – Tuna de Tecnologia de Saúde do Porto entra com uma vívida coreografia de pandeiretas, executada brilhantemente por quatro membros do grupo. Realce também para o tema “Último Acorde”, onde o solista surge de capa traçada entre dois instrumentos de percussão no centro do palco e canta com muita expressividade.
A primeira noite terminou com a atuação da Azeituna, afilhados da TUM. Os mais recentes membros do grupo, chamados de caroços da Azeituna, fizeram a sua estreia no FITU com uma atuação teatral que embalou o público para as últimas músicas.
O segundo e último dia viu um maior número de cadeiras preenchidas, com a presença de familiares, amigos e comunidades universitárias de várias regiões do país. Após um discurso de apresentação com repetidas piadas acerca da região de Lisboa e do seu sotaque, a Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico subiu ao palco e pôs o “V” no “marabilhoso” ao cantar “Santa Morena”, com influência latina. Já “A Marcha do Centenário” acompanhou um invulgar solo de pandeiretas, executado na perfeição.
A Tunadão 1998 – Tuna do Instituo Politécnico de Viseu arrastou díspar presença. A entrada aparentemente desordenada, guiada pelo som de uma voz brasileira, fez os membros, com grandes chapéus, cambalearem para as suas posições e começarem a tocar. Houve uma tentativa de modernizar o reportório da sua génese, assistindo-se a um medley com trechos do tema de “007”, entre outros, que terminou com um momento singular, com o recinto às escuras e com as iniciais de Tunadão gravadas nas costas de seis estudantes.
A última atuação emocionou todos os presentes com o poder vocal da Tunadão na música “Vira a Proa” dedicada a um professor que falecera no próprio dia. Todos os restantes temas apresentaram divertidas mudanças de ritmo e simples coreografias que corporizavam a letra, como na “Menina da Saia Preta”. A Tuna do Instituo Politécnico de Viseu Despediu-se com o “Põe a Mão na Cabecinha”, incentivando o público a dançar sem vergonhas.
Seguiram-se os Rolling Stones das tunas, vindos diretamente de Espanha, a Tuna de Derecho de Alicante, ou antes, a Tuna de las Piedras Rolantes, como foram apresentados num número de comédia protagonizado pela tuna minhota. Os trajes recheados de emblemas e fitas coloridas aveludaram a plateia, assim como a predominância de guitarras conferiu outro tom ao espetáculo.
O porta-voz da tuna tentou ao máximo falar português e acabou por dedicar uma serenata a todas as mulheres e a todos os homens que amam as suas mulheres como se fosse o primeiro dia. O solo final provocou um arrepio geral, com a voz de ópera ao microfone que entrou pelos ouvidos e despertou a nostalgia adormecida.
Após dez anos, a Estudantina Universitária de Lisboa regressou ao FITU e trouxe uma forma interativa de escolher o reportório da noite. Chamaram quatro voluntários para girar a roda da sorte que, através de símbolos, codificavam uma música. Começaram com o tema original “Boémio” e terminaram com um momento musical à capella, dirigido pelo maestro.
Os Jogralhos surgiram no festival para animar o público com uns versos cujo principal tema era a atualidade. Um humor para vários gostos que foi roubando sorrisos e outras reações genuínas ao público.
A tuna anfitriã atuou, uma última vez, antes da entrega de prémios. Para além do prémio de Melhor Bandeira, que foi entregue à Tuna de Medicina do Porto, a Melhor Pandeireta pertence à Tunadão 1998. A Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico arrecadou o prémio de Melhor Solista, Melhor Instrumental e terceira Melhor Tuna. O pódio foi preenchido pela tuna TS, no 2º lugar, e pela Tunadão, vencedora do festival, levando uma viola braguesa para Viseu.
Partindo de uma visão integral do evento, o preto dos trajes académicos não se refletiu no brilho das vozes e notas. Para além da panóplia de emoções que a música, na sua forma mais pura, proporcionou, as cores caracterizadoras de cada tuna surgiram inicialmente na tela e as alterações de tons dançaram ao ritmo das músicas, criando um ambiente de proximidade, quase de apropriação da arte.