Guia para ficar a saber ainda menos sobre mulheres, de Isabel Stilwell, esclarece desde logo aquilo a que se propõe fazer: criticar e criticar mais um pouco. Por um lado, aparenta repreender as intermináveis capacidades femininas por serem tão incompreensíveis aos olhos dos homens, generalizando as aptidões interpretativas dos mesmos. Por outro, admite que essa incompreensão também parte da necessidade feminina de estar sempre a complicar as coisas.

A primeira crítica é alusiva à típica espera contínua do príncipe encantado, da alma gémea. Demonstrando que a vontade de muitos não é de encontrar alguém que os complete, mas sim “uma imagem de nós próprios, quase sobreponível, como o sapato da Cinderela, pronto a escorregar-nos para o pé”. A partir deste momento em que toda a verdade sobre amar alguém é reposta, Isabel Stilwell explora os pré-requisitos dicotómicos do homem perfeito e os momentos em que as exigências femininas são contrariadas pelas suas próprias atitudes.

Isabel Stilwell

Essa contrariedade é explicada, de acordo com Isabel Stilwell: tudo se trata de um filme onde as mulheres são as realizadoras ou, até mesmo, de um jogo permanente. Ambos são fundados através de alguma manipulação, consciente ou inconsciente, e graças a alguma fragilidade e insegurança. A manipulação consciente ou inconsciente é justificada pelas mulheres terem “dois cérebros dentro da caixa craniana”. As duas fraquezas são legitimadas pela cultura instalada – “desde os 7 aos 77 anos falamos de amor” -, que resultam numa complexidade tal que só traz dores de cabeça para os homens e, por vezes, lágrimas (que são mesmo salgadas) às mulheres.

Não se assume como um livro de conselhos, mas com toda a certeza ajuda homens e mulheres a verem o panorama de fora e a perceberem aquilo que, eventualmente, está errado em ambos os lados. Para além disso, reveste-se de um humor irónico que faz qualquer pessoa sorrir e de um discurso muito quotidiano. A primeira edição conta com uma panóplia de ilustrações de Fernanda Fragateiro, que coincide com a simplicidade de escrita. Contudo, embutidas de uma delicadeza e beleza únicas.