A Universidade do Minho, a Fundação Bracara Augusta, a biblioteca Lúcio Craveiro da Silva e a Civitas Braga assinalaram os 50 anos da Crise Académica de Coimbra.
O Salão Nobre da Universidade do Minho recebeu, esta terça-feira, o debate “Que universidade queriam os estudantes, que universidade têm hoje?”. Sob o lema “Para uma universidade nova”, os convidados discutiram o estado atual do ensino superior português.
A propósito dos 50 anos da Crise Académica de Coimbra, Rui Vieira de Castro, na sua intervenção, destacou a visão dos jovens sobre o antigo ensino superior: “Queriam um Portugal diferente, queriam uma universidade diferente”. Antes, nem todos os alunos tinham acesso à universidade e os que tinham eram de “origem social bem marcada”. Hoje quase todos conseguem frequentar o ensino superior e isso deve-se ao “poder da democracia”.
Carlos Videira, ex-presidente da AAUM, falou da instabilidade governativa à data de 1969 e da importância dos órgãos que representam os alunos: “Há uma voz que os estudantes reconhecem”. Referiu ainda as inúmeras despesas de um estudante, desde os transportes à alimentação.
Já Nuno Reis falou da necessidade de um “ensino igual para todos”. Para o presidente da AAUM, a igualdade também deve ser conseguida do ponto de vista económico. “Os fundos de investimento que deveriam ter ido, por exemplo, para reabilitação de alojamento universitário, têm ido para o pagamento das bolsas de estudo”, afirmou. Segundo o representante dos alunos da academia minhota, “74% das bolsas de estudo são pagas através de fundos europeus” e isso levanta a questão de perceber “de que forma o Estado, nestes 50 anos, se desenvolveu para tornar o ensino mais acessível para todos”.
Referiu ainda que as propinas não assumiram o seu papel inicial de melhorar a qualidade do ensino. “Neste momento, não são uma melhoria, são uma dependência” e “as universidades dependem diretamente deste valor para o seu funcionamento”.
A única mulher que desempenhou o cargo de presidente da AAUM, Cacilda Moura, relembrou o quanto as coisas mudaram: “Eu fui presidente da AAUM numa altura em que havia 1024 alunos”. Nessa altura, Cacilda referiu que as salas tinham 15 alunos, não havia cantina nem transportes para fazer o percurso entre Braga e Guimarães. As reivindicações dos alunos, nesse tempo, prendiam-se com exigir fotocopiadoras para imprimir sebentas, porque existiam poucos livros na biblioteca.
Os representantes dos cursos de Administração Pública, Engenharia Informática e Psicologia, também convidados do debate, referiram que os desafios são muitos e que os estudantes não se devem render ao conformismo. Nuno Reis reforçou as lutas que a AAUM travou para melhorar a universidade, nomeadamente, para conseguir transportes entre Azurém e Gualtar.
Apesar de ficar patente que o ensino ainda não está previsto como na Constituição (gratuito e universal), Delfina Fernandes, presidente da Associação de Estudantes de Psicologia da Universidade do Minho, realçou que os estudantes reivindicam “com as pessoas certas no momento certo, sem desordem”.