Uma onda de sonoridades múltiplas invadiu a cidade de Braga com a atuação da banda portuguesa Sensible Soccers. Ritmo, precursões e sintetizadores foram elementos que marcaram uma noite dada à musicalidade.

O Gnration abriu as portas para mais uma edição do evento anual Gnration Open Day. Os Sensible Soccers foram uns dos artistas que subiram ao palco no dia de sábado, onde apresentaram “Aurora”, o mais recente álbum da banda. O ComUM esteve à conversa com o grupo natural de Vila do Conde.

Sensible Soccers

Sofia Vieira/ComUM

Num ambiente gerado pela boa disposição, o concerto iniciou-se ao som do lado mais pacífico de Sensible Soccers, dando ao público a oportunidade de desfrutar de um momento relaxante. À medida que o concerto ia decorrendo, o som calmo foi-se alterando para compassos agitados, capaz de fazer dançar a plateia. Em entrevista ao ComUM, Manuel Justo, membro da banda, revela o que o grupo pretende passar para a plateia, afirmando que os concertos “são sempre uma viagem progressiva”. O “ideal” enquanto banda “é tentar fazer com que o público entre numa viagem, que se perca por lá, e que no final acorde”.

Em palco foi notória uma nova constituição de Sensible Soccers, que agora se apresentam como um grupo de cinco elementos. “O nosso guitarrista, Filipe Azevedo, decidiu sair da banda e nós ficamos a pensar automaticamente no futuro. A primeira coisa que nós pensamos foi que íamos desistir da guitarra, íamos por outro caminho, porque não queríamos chamar outro guitarrista. Chamamos, então, o André Simão para ficar efetivo na banda. Chamamos também outros músicos, o Sérgio Freitas para tocar sintetizadores e o Jorge Carvalho para tocar percussões.”

Esta alteração teve impacto na criação do novo álbum: “aventuramo-nos a fazer um disco sem guitarra e logo essa premissa talhou um pouco as características do disco em si”. Com a saída do guitarrista, os Sensible Soccers viram-se na necessidade de arranjar novas formas de o substituir, com “mais sintetizadores, precursão e o som de marimbas: foram três ideias que ficaram ali no ar”. Foi com base neste seguimento de ideias que “Aurora” se foi construindo e formando.

Sensible Soccers

Sofia Vieira/ComUM

O início da noite fez-se acompanhar do som do novo álbum, o que permitiu ao público conhecer parte da nova faceta do grupo. Por detrás de “Aurora” existe uma inspiração que teve na base da sua criação. O teclista da banda diz, em nome do grupo, que “o álbum é um retrato da infância, das músicas que se ouviam nos anos 80. No fundo, o álbum é visto como o recomeço da banda”.

“Aurora” diferencia-se dos restantes trabalhos de Sensible Soccers por ter sido produzido por B Fachada. Manuel Justo revela que a experiência de trabalhar com o artista e produtor português “foi muito engraçada”. A banda convidou o músico por causa “da maneira que produz os discos dele, das músicas e das opções que ele tinha para elas”.

“Pensamos que aquele bolo sónico que ele tem nos discos nos agradava, tal como a maneira que ele usa os sintetizadores. Tendo em conta isto, pensamos que seria fixe trabalhar com ele e mandamos-lhe um email e ele mostrou-se disposto a trabalhar connosco”, afirma o teclista.

A última vez que a banda atuou em Braga foi precisamente no Gnration, em 2016. Segundo Manuel Justo, os Sensible Soccers estão muito ligados a Braga e veem a cidade, e todo o norte, como “uma segunda casa”.

O grupo é um dos nomes que consta no cartaz do Festival Paredes de Coura 2019, onde vai atuar pela terceira vez. O músico revela que a banda encarou a confirmação com felicidade: “Acho que todos estamos ligados ao festival e é engraçado o facto de irmos lá desde miúdos. É como se de repente passássemos de ouvintes ávidos, que íamos a Paredes [de Coura] todos os anos, para pessoas que agora vão lá tocar.”

Efeitos de luzes constantes, batidas fortes e ritmos acelerados tomaram lugar nos minutos finais do concerto deste sábado, acabando por se dar a revelar, por completo, a vertente mais agitada da “nova versão” de Sensible Soccers.

A banda assume-se como um grupo diferente, daí não ser incorreto chamar-lhe “nova versão”. “Com elementos diferentes não há forma de sermos iguais, até porque não pretendíamos isso”, revela o artista.

De maneira a esclarecer até que ponto “Aurora” se diferencia de todos os projetos passados da banda, Manuel diz que os Sensible Soccers sentiram que passaram um ano de trabalho intenso em redor do novo álbum, “foi um disco muito cerebral, na medida em que a maioria das coisas surgiam das ideias que alguém trazia e nós sobrepúnhamos coisas”. No meio desta construção “intensa e extensiva”, o músico afirma ainda que “começou a surgir, naturalmente, uma nova identidade” ao longo dos ensaios.

“O ‘Aurora’ é um disco que nunca se vai repetir, nunca se vai voltar a fazer uma coisa assim. Foi uma loucura completa, uma empreitada.” Manuel Justo confessa que, embora a exaustão se tenha apoderado dos membros da banda, todos sentem que foi “algo gratificante e, mais do que isso, no fim disto ficaram todos cheios de vontade de fazer música nova. Fazer este álbum foi algo revigorante”.

O concerto no Gnration terminou ao som de várias palmas direcionadas para o palco ao mesmo tempo que a banda agradecia de braços abertos. Os Sensible Soccers seguem em tour para o Festival Impulso, nas Caldas da Rainha, a 24 de maio.