Os sons do mundo, incarnados pela artista angolana, souberam conquistar o silêncio e a admiração da plateia minhota.

A pisar o Theatro Circo pela segunda vez, Aline Frazão apresentou, na última quarta-feira, a solo, o seu quarto álbum “Dentro da Chuva”. Com influências africanas e brasileiras, o novo trabalho é uma proposta intimista e poética.

Eram 21h35 quando um crioulo quente imediatamente transportou o público para o maravilhoso mundo de Aline. “Peit Ta Segura” deu o arranque para uma noite em que os sons do semba angolano, da bossa nova brasileira, da morna cabo-verdiana ou do jazz, da folk e da soul envolveram os presentes. Neste trabalho, gravado no Brasil, a artista contou com a participação de grandes nomes da MPB, nomeadamente, Jaques Morelenbaum.

Definir Aline Frazão como angolana seria redutor. Aline Frazão é uma artista do mundo, uma cosmopolita que viveu em vários países (entre os quais Portugal) e cujas experiências têm reflexo nas composições e interpretações deste novo trabalho. Prova disso foi a surpreendente versão de “Ces Petits Rien”, do francês Serge Gainsbourg, que ganhou suavidade e sonoridades brasileiras na revisita da artista. A suavidade foi-se intensificando com os temas, tais como “Chamado por Morfeu” ou “Sol de Novembro”.

O álbum “Dentro da Chuva” é considerado pura poesia, com pertinência na escolha das palavras e doçura na voz. A simplicidade dos instrumentos (violão e calimba/kissange) intensificou o mergulho no mundo intimista de Aline Frazão. “Poema ao sol poente” é o retorno a casa. E foi em casa que se sentiu, ontem, o público do Theatro Circo. Nem mesmo o recurso à guitarra elétrica desproveu a artista da suavidade e simplicidade que a caracterizam.

Foi com naturalidade e simplicidade que a artista demonstrou, ainda, as suas convicções políticas, entoando um “Depois do Adeus”, a capella, em homenagem à liberdade e à democracia. Para a cantora, “ a liberdade não é dada nem garantida”.

A atuação de ontem valeu à compositora uma standing ovation, que agradeceu o tempo, o silêncio e a atenção que o público bracarense lhe dedicou.

No dia 25 de abril, Aline Frazão assinalou o dia da Liberdade em Santiago de Compostela. Ainda na Galiza, no sábado, dia 27, atuou no Auditório Municipal de Ponteareas e, no domingo, dia 28, na Corunha, no Garufa Club, integrada no Ciclo “Elas Son Artistas”, do III Festival Metropolitano de Música e Artes pela Igualdade.