De uma junção entre os aspetos mais grutescos da sociedade e a natural evolução do ser humano nasce Appetite For Destruction. O primeiro álbum daquela que se viria a tornar uma das melhores bandas de Rock de todos os tempos estabeleceu uma conexão eterna com todos aqueles que se sentem frustrados, confusos e desiludidos com a vida.

A banda Guns N’ Roses surgiu em 1985 de um casamento entre dois grupos que estavam a tentar fazer-se ouvir, os L.A. Guns e os Hollywood Rose. Depois de muitas reformas, os integrantes finais do grupo consistiam em Axl Rose, Slash, Izzy Stradlin, Duff McKagan e Steve Adler. Foram estes membros impressionantes que assinaram, em 1986, com a Geffen Records, de onde surgiu o primeiro projeto Appetite For Destruction a 21 de julho de 1987.

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No ano em que foi lançado, o disco recebeu muito pouca atenção mediática, tendo sido apenas no ano seguinte que se tornou num enorme sucesso comercial. Tudo isto se deu devido à pressão dos diretores da gravadora com a MTV para passar o videoclipe da primeira faixa do álbum “Welcome To The Jungle”. De uma atitude de benevolência surgiu um movimento inesperado e a banda tornou-se alvo de aclamações.

Este primeiro single abriu as portas ao sucesso dos Guns  N’ Roses e reflete sobre a vida na rua de fugitivos urbanos que abrigam em si uma cínica desconfiança, algo com o qual os integrantes da banda estão familiarizados. Mas como qualquer bom álbum de Rock, um êxito não vem só. À selva juntam-se “Paradise City” e “Sweet Child O’Mine”.

“Paradise City”, inspirada num momento de convívio entre a banda quando voltavam de um concerto em San Francisco, é a clássica canção que dá um glorioso encerramento a todos os concertos dos Guns N’ Roses. A sua magia faz-nos realmente sentir como se estivessemos prestes a sair do paraíso já com uma enorme vontade de voltar.

Em seguida, vem uma das melhores faixas de Rock de todos os tempos, “Sweet Child O’Mine”.  A canção enverga um eterno potencial que deriva da sua ousada sentimentalidade, e é uma balada romântica cantada por Rose com uma emoção impossível de disfarçar. Quem diria que no meio de um trabalho cujo objetivo é contar histórias muitas vezes não valorizadas da parte “suja” da sociedade, surgiria tal sensitividade. Uma mistura perfeita entre a beleza de uma canção sentida e a verdadeira essência do Rock.

Não obstante, as restantes nove faixas da coletânea são de certo modo mais pesadas, não só a nível melódico, como também em termos das histórias que contam. Desde a relação e os consequentes problemas com a droga, como é o caso de “Mr. Brownstone”, até às problemáticas das políticas sexuais, sendo que exemplo disso é a letra de “It’s So Easy”.

O álbum finaliza-se com o orgasmo mais ouvido da história. De uma relação sexual entre Axl Rose e a então namorada de Steve Adler surgiram as bases para “Rocket Queen”. Segundo o vocalista, esta canção serviu para dar ao trabalho uma espécie de final feliz que viria depois de toda a escuridão.

Assim, é fascinante ver um projeto idealizado por um grupo de pessoas que experienciou cada pedaço dele, que faz tudo menos passar mensagens para agradar massas. A harmonia existente entre as histórias contadas e a subtileza com que a banda usa cada um dos seus instrumentos traz magia ao projeto. Dos inesquecíveis solos de Slash completados pelo ritmo agitado de Stradlin, passando pela lealdade ao verdadeiro Punk Rock de Adler e McKagan, chegando finalmente à memorável voz de Axl Rose que remata toda uma euritmia.

Foi desta forma que nasceu uma raiva intemporal. A partir de um trabalho que é hoje considerado um dos melhores de todos os tempos, cresceu uma legião de desajustados que se uniram para sempre através daquilo que é a verdadeira essência do Rock e do que realmente significa ser humano.