Braga recebeu, ao longo de cinco dias, a Braga Romana, recuando cerca de dois mil anos, até à altura em que esta tinha como nome Bracara Augusta e celebrando a forte marca que a ocupação romana deixou na cidade.

Desde a última quarta-feira até domingo, as ruas da cidade de Braga voltaram aos tempos de César Augusto, através de mais uma edição da Braga Romana, de modo a reviver o quotidiano da era de Roma, a época de um império que deixou um vasto legado na cidade.

O ponto alto do evento foi o cortejo triunfal, onde diversos grupos de animação, de percussão, escolas e instituições de Braga se juntaram para percorrer as ruas da cidade e espalhar a cultura do povo romano. Recriações do exército romano, de grupos de cidadãos das diversas esferas sociais, dos Deuses e até mesmo dos gladiadores foram o principal meio de difusão da grandiosidade e do poder cultural daquele povo.

A satisfação dos participantes no cortejo pela oportunidade de fazerem parte de tal marco nestas festividades foi notória. Pedro, de 13 anos, estudante no Colégio Teresiano, foi um exemplo disso. Participante há vários anos no cortejo, revelou grandes expectativas e admitiu gostar de voltar, caso a sua escola voltasse a participar. Beatriz, Rita e Mariana, alunas da Escola Secundária de Sá de Miranda, mostraram-se alegres pela participação no desfile, e em concordância exprimiram admiração pela Braga Romana.

Ao longo dos dias, foram diversas as performances que se sucederam nos vários palcos intitulados com nomes de deuses romanos, que se espalhavam por inúmeros pontos do centro da cidade. Espetáculos com fogo, como foi o caso de “As filhas de Nereu”, onde através de danças e acrobacias, acompanhados de tochas e arcos de fogo, foi espelhado o antagonismo entre a subtileza da água e o poder do fogo.

Os animais exóticos também marcaram presença em diversos shows, como por exemplo em “Barbadis e o seu ajudante”, uma narrativa sobre Barbadis, um mestre de animais exóticos e o seu cómico ajudante, que entre muito humor e interação com o público mostraram diversos tipos de cobras e tarântulas.

As atuações de teatro fizeram igualmente parte do roteiro, com peças como “Medici” ou “Família Vroculi”, sendo “Medici” um retrato satírico das técnicas rudimentares médicas que se utilizavam na altura, onde uma equipa formada por um médico, um cirurgião e uma enfermeira faziam diagnósticos e tratamentos a voluntários do público. No caso de “Família Vroculi”, esta é uma família de vendedores ambulantes, que para além do seu negócio são também contadores de histórias, tendo contado e interpretado a lenda de Baco, Deus romano do vinho e dos excessos. Ambas as caricaturas tiveram como base o humor, despoletando risos entre quem assistia às atuações.

A dança também marcou presença, com a academia Souldancers que protagonizou a “Dança aos Deuses”, onde vestidos a rigor protagonizaram diversas danças para os Deuses, sendo algumas destas dedicadas a Deuses em específico.“Saltato Orientalis”, ou seja, as danças do Oriente, que trouxeram o exotismo das músicas do médio oriente e do mediterrâneo ao palco.

Atuações de ginástica, com o grupo de ginástica da Escola Secundária Alberto Sampaio, e números musicais, como foi o caso de “Caeca Capra”, um grupo musical que através de gaitas de foles e bombos trouxeram sons típicos romanos, o que resultou numa carismática atuação que contagiou os presentes, foram também observáveis. Houve ainda espaço para os “Gladeadores de Bracara Augusta”, onde foi recriada uma luta de gladiadores, algo muito típico na época.

As encenações do banho romano, do casamento romano, ou até mesmo do funeral romano, em que o corpo do defunto era cremado e regado com vinho, de modo a dar-se a “apoteose”, tiveram também lugar nos palcos.

Fez parte do roteiro desta feira o acampamento militar, onde foi visível uma amostra de onde e como se organizava o exército, havendo visitas guiadas, uma demonstração de uma “urbe”, ou seja, do que era uma cidade naquela altura. Tendas com diversos produtos à venda e até mesmo uma zona alimentar estavam igualmente integradas no percurso desta Braga Romana. A animação de rua esteve presente em todos estes lugares, de modo a aproximar os visitantes ao espírito festivo que se fez sentir.

Teresa Paula, professora e ajudante numa barraca de venda de bijuteria que marca presença habitual neste evento, expressou um gosto em fazer parte da Braga Romana, tendo já participado no cortejo triunfal. A mesma defende que qualquer coisa que se faça relativamente à história é de valorizar, nomeadamente a Braga Romana. “Esta cidade nasceu em cima de uma cidade romana”, acrescentou a professora. Porém, como ponto negativo salientou a mudança de lugar de certos pontos da feira, revelando que pode ter prejudicado no que toca a uma diminuição do número de tendas face a outros anos.

Igualmente satisfeita com a iniciativa encontrou-se Carolina, uma estudante de 19 anos, estagiária do curso profissional de turismo. A jovem de Viseu, que fez parte da organização do evento, mostrou-se encantada com a iniciativa, pois nunca tinha ido a algo do género, salientando a importância de atividades como esta, como “meio de espalhar cultura”.