NU é o terceiro álbum da banda First Breath After Coma, assumidamente conceptual e inovador por ser o primeiro projeto auditivo e visual dos cinco artistas leirienses. Os membros pretendiam e tinham prometido algo diferente do que tinham explorado anteriormente e o resultado está à vista.

O projeto explora a natureza humana e as emoções de forma musical e visual, sendo capaz de cativar desde a primeira faixa e curta-metragem. Para além disso, não dá para ser ouvido nem visto apenas uma vez nem de forma individual. É um todo composto por oito narrativas construídas de forma cativante e que nos deixa com a pulga atrás da orelha.

“The Upsetters” é a primeira faixa, sendo que na curta-metragem é-lhe atribuído o significado fragility. Começa melancólica e termina forte, quer a nível sonoro quer a nível de imagem. A guitarra marca a diferença entre o tom de voz triste na música e a parte final mais forte no vídeo, quase que em grito, com a imagem de uma mãe a segurar o seu filho ao colo, a olhar diretamente para quem a vê. Fala do medo de perder as pessoas de quem gostamos e da dicotomia querer/precisar e relembra-nos de que o tempo passa e ninguém fica.

“Please Don’t Leave” é fondness, gostar muito de algo ou alguém. É cantado por várias vozes e fala do medo de perder alguém ou algo, uma vez que é um álbum onde a parte interpretativa é especial e extremamente pessoal. O ritmo lento faz com que todas as palavras e vozes sejam ouvidas como uma, o que torna a canção numa espécie de viagem psicótica, provocada por uma necessidade extrema de estar com ou ter alguém. Essa ideia é reforçada pela frase “please, don’t leave”.

Empowerment é o mote para a terceira faixa do álbum, “Change”. As back vocals, utilizadas em especial na parte do refrão, dão força à mensagem de agitação e incentivo à mudança. Aliada à música temos uma curta-metragem que, neste caso, dá um ênfase especial à palavra que “legenda” a canção. Mostra uma espécie de poder mágico de atração, que é a representação visual mais perfeita do conceito de empoderamento. Este tema torna-se assim especialmente significativa, especialmente no contexto em que foi feito para a banda, que se propôs e cumpriu a uma mudança com este projeto.

A quarta canção é “Howling for a Chance” e tem como significado visual a força pela qual as coisas são atraídas umas para as outras, attraction. Esta faixa destaca-se pela força com que o refrão é cantado, sendo um uivo no meio do tema, e pela mudança mais agressiva sentida na parte final, quer a nível musical quer visual.

Segue-se “Feathers and Wax”, uma faixa mitológica que narra a história de Ícaro. O mote é wreckage, o que sobra do que está seriamente danificado. Ícaro voou demasiado perto do sol, e as suas asas derreteram por isso e acabou afogado no mar. A metáfora, geralmente associada a este mito, é a de que demasiada ambição é prejudicial. First Breath After Coma, no entanto, dizem-nos que voar demasiado alto não é o problema, pois Ícaro devia ter aprendido a nadar.
As linhas de baixo subtis, assim como a utilização de sintetizadores e o ritmo acertado conferem, simultaneamente, simplicidade e profundidade à música. Os back vocals são novamente usados de forma a dar eco à música, tornando-a um pouco mais mítica.

“Uneasy” é helplessness, sendo conceito simples, assim como a curta- metragem. As teclas são talvez o elemento mais explorado nesta faixa, marcada pela subtileza que fica no ouvido. “Heavy” transmite a angústia através dos tons agudos com que é cantado. O ritmo constante com que a canção  é construída passa a ideia de algo repetitivo que se torna angustiante.

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O último tema, “I Don’t Want Nobody”, é melancólico e lento. É extremamente simples, tendo apenas voz, piano e uma suave batida, o que resulta particularmente bem tendo em conta que  trata uma temática mais complexa. A voz tem eco, como se viesse de dentro da igreja que aparece na curta-metragem. A palavra maze é a que encerra o álbum. e define um conjunto de regras, ideias ou temas que se consideram difíceis de lidar ou perceber. Aqui, First Breath After Coma trazem ao de cima questões existenciais e fazem-nos entrar num debate interior.

As imagens finais mostram uma pessoa deitada na terra, enquanto se arrasta. De cima, vemos na terra um labirinto desenhado, que pode representar o caminho que cada um percorre individualmente ou pode remeter para uma questão mais geral como o caminho que a banda tem vindo a percorrer, num sentido mais amplo.

Da música aos vídeos, passando pelos conceitos e pelo processo criativo por detrás da produção, o grupo mostra uma faceta nova e intrigante. Criam o seu próprio estilo ganhando destaque no panorama nacional e fazem-nos refletir sobre a condição humana e sobre a nossa própria natureza e emoções.

O que estamos cá a fazer, qual o nosso propósito, qual o nosso caminho e estamos a viver e a fazer o que queremos? Estas são algumas das questões que ficam após ouvir NU, que tornam este álbum, juntamente com as curtas-metragens, numa verdadeira obra de arte.