Steven Spielberg e Ridley Scott, dois velhos conhecidos dos grandes ecrãs juntaram-se na criação de Gladiador, “O general que se tornou escravo. O escravo que se tornou gladiador. O gladiador que desafiou um império”. Este sensacional e épico drama arrecadou, em 2001, cinco Óscares, entre os quais, o de melhor filme.
A primeira cena é brutal e prepara-nos, desde logo, para a essência da história: guerra e mais guerra. Em campanha no norte da europa, Maximus (Russel Crowe), um respeitado General do Império Romano, lidera o exército na defesa das invasões Bárbaras sob a autoridade de Marcus Aurelius (Richard Harris), o Imperador romano, que detém nele uma enorme confiança e orgulho. Aurelius sabe que está no fim da sua vida e revela a Maximus as suas intenções de o tornar Imperador depois da sua morte. Quem também percebe isto é Commodus (Joaquim Phoenix), o filho barão e herdeiro legítimo do trono, que ao sentir-se traído pelo o pai assassina-o e impede, assim, Maximus de se tornar Imperador de Roma, sentenciando-o à morte. E aqui começa o verdadeiro enredo.
Se já estávamos impressionados com Maximus, agora estamos mais. Escapando à sentença que o levaria à morte, o ex-general lança-se na penosa viagem até à sua terra, conhecida por Hispânia, onde vive a sua mulher e filho. Porém, apesar de todo o foco em chegar o mais depressa possível, o hispânico depara-se com o que mais temia: a morte do seu filho e da sua mulher sob as ordens de Commodus. Face a isto, Maximus acaba por sucumbir.
É encontrado por uma caravana de mercadores que o fazem prisioneiro, juntamente com Juba (Djimon Hounsou) um futuro amigo. Mais tarde, são comprados por Proximus (Oliver Reed), um ex-gladiador com amor ao sangue, que financia os seus próprios lutadores. Embora possuidor de um incrível talento para a espada, Maximus não vê logo aquele seu destino como uma oportunidade para se vingar e, inicialmente, recusa-se a lutar. E só quando levado para a arena, o agora gladiador, vê-se obrigado a manejar a lâmina da forma que tão bem sabe, deixando o publico entusiasmado e rendido ao seu talento. E é aí, tomando o exemplo de Proximus, que percebe que poderá usar os duelos como forma de chegar até Roma e vingar-se.
Luta após luta Maximus chega, finalmente, ao grande palco: o Coliseu de Roma onde a sua identidade é inicialmente ocultada, causando fervor pelo publico romano. E só quando obrigado por Commodus, o então imperador de Roma, o gladiador retira o elmo revelando a sua face. Sob a ameaça do seu pior pesadelo, Commodus envia Maximus para uma série de batalhas épicas com vista a eliminá-lo. Todavia, sem êxito. Para combinar ao ódio que ambos sentem um pelo outro, Commodus é apaixonado pela sua irmã Luccila (Connie Nielson) que, por sua vez, está apaixonada por Maximus, encontrando-se algumas vezes com ele na sua estadia em Roma.
A cena final é gloriosa, os dois homens enfrentam-se frente a frente, na grande arena e num grande duelo. Com toda aquela sede de vingança, Maximus acaba por derrotar Commodus. O gladiador é então Imperador, mas por pouco tempo, acabando por sucumbir logo depois.
Se a realização deve agradecer a Russel Crowe (Maximus) pelo Óscar de melhor filme do ano, Russel Crowe deve agradecer à realização pelo Óscar de melhor ator. Que combinação fantástica! Russel esteve imparável e pouco ou nada há a apontar para esta representação, desde a dinâmica de combate a terminar nas expressões corporais e faciais do ator. E podemos até acrescentar a sua contracena com Djimon Hounsou (Juba), que esteve bastante bem, como um ponto forte do enredo, dando ao final do filme um toque especial.
Richard Harris e Oliver Reed que interpretaram Marcus Aurelius e Proximus, respetivamente, fizeram exatamente aquilo que se pretendia, tornando as personagens seriamente genuínas, aumentando até o desempenho que seria esperado delas, mesmo apesar de Oliver ter falecido durante as gravações do filme. Outro ator que esteve beml foi Joaquim Phoenix com a sua encarnação de Commodus, o vilão da história. Uma prestação de respeito a todos os níveis, desde a capacidade de alternância de emoções à capacidade de nos transmitir o ódio que sente nas suas ações. O ponto menos forte deste elenco recheado de talento foi Connie Nielson, não pela prestação em si, mas sim pelo papel atribuído à personagem, Lucilla, um papel muito satélite e cru no enredo.
A fotografia tem um papel definitivo na realização e sucesso do Gladiador. Um trabalho com extrema qualidade, com planos assombrosos de guerras e duelos, paisagens, monumentos como o Coliseu e de toda aquela cultura arquitetónica romana. É capaz de nos levar numa viagem até ao mundo da Roma antiga. A comprovar isto, a Academia atribuiu a Gladiador o Óscar para efeitos especiais.
O som é mais uma característica que torna este filme épico, vencedor também na categoria Óscar de Melhor Edição de Som. O timing e os temas a condizer com as cenas em ecrã é brilhante, a música entoa na perfeição com a espada e movimentos de Maximus. A música oficial Gladiator – Now we are free é capaz de causar um arrepio.
Este é um filme que merece ser visto pelo menos uma vez na vida. E é daqueles que não cansa em repetir. Poderá haver defeitos a atribuir, claro. Mas, esta “pitada americana” não calhou nada mal. Com umas cenas mais aborrecidas, é certo. Porém, todos os aspetos técnicos do filme ultrapassam facilmente o simples grau de satisfação. É uma obra cativante, faz-nos pensar como Maximus, faz nos querer ser Maximus!