Albertina Machado, atleta olímpica em três ocasiões, deixou as pistas quando estava grávida de Mariana. Agora é a vez de a filha continuar o legado da mãe. No mesmo clube e com a mesma treinadora, Sameiro Araújo.
“Quem sai aos seus não degenera”. Que o diga Mariana Machado. Com apenas 17 anos, em junho de 2018, a filha da ex-atleta olímpica Albertina Machado bateu o recorde nacional de juniores dos 1.500 metros. O registo pertencia a Fernanda Ribeiro há três décadas e voltou a ser melhorado há pouco mais de uma semana pela jovem do SC Braga, também estudante de Medicina na Universidade do Minho.
A aventura teve início no desporto escolar, mas só através de um convite de Sameiro Araújo, a treinadora de sempre, para ingressar no clube minhoto é que Mariana começou a levar mais “a sério” a modalidade. O sucesso advém das principais características dentro e fora da pista. “Sou uma pessoa responsável, sou muito determinada, trabalhadora e defino sempre os meus objetivos e trabalho o máximo para alcançá-los”, afirma.
Mariana está no primeiro ano do curso de Medicina na Universidade do Minho e considera fundamental manter os níveis de exigência no máximo, pois “nem sempre é fácil conciliar o desporto com os estudos”. Enquanto estudante, sente que o apoio para os atletas de alta competição que frequentam o Ensino Superior não é suficiente.
Apesar da dificuldade que por vezes existe em conciliar os dois mundos, a atleta sente-se confortável na pista. Mariana é orientada desde 2015 por Sameiro Araújo, que faz parte da equipa técnica de atletismo do SC Braga há 44 anos e que marcou presença como treinadora em sete Jogos Olímpicos. Pelas suas mãos já passaram várias atletas de renome, incluindo Albertina Machado… a mãe de Mariana Machado. Estiveram juntas nas olimpíadas de Los Angeles 1984, de Seul 1988 e de Atlanta 1996 e nos Gverreiros do Minho durante quase duas décadas. Albertina Machado terminou a carreira quando soube que estava grávida de Mariana.
Os vários pontos em comum no caminho de mãe e filha levam à confusão. “Há muita gente que pensa que é a minha mãe que me treina”, confessa, sorrindo, Mariana, que acha “engraçado” o facto de Sameiro Araújo ter orientado ambas. A confiança e a conexão entre atleta e treinadora é crucial. “Existe uma boa ligação. Eu tenho confiança na minha treinadora e não duvido de nada que ela me transmite. Os resultados estão a aparecer, por isso só tenho que confiar no trabalho que estamos a desenvolver”.
Fora das pistas, a jovem promessa do ano de 2018, segundo a Confederação do Desporto de Portugal, não esconde que a experiência de Albertina Machado, mesmo não sendo sua treinadora, é importante para a fazer evoluir. “A minha mãe, em casa, dá-me dicas e sempre que estou a passar por momentos mais difíceis tenta ajudar-me, quer no atletismo, quer na minha vida pessoal”.
A atleta minhota conta já com 16 títulos nacionais, dois deles em termos absolutos, na vertente de corta-mato curto, obtidos ainda com idade de júnior (sub-20). Apesar de ter conseguido resultados de mérito em diferentes distâncias – 800 m, 1.500 m, 3.000 m e corta-mato curto e longo –, considera que os 1.500 continuam a ser “aquela prova”.
Foi precisamente “naquela prova” que Mariana bateu o recorde nacional de juniores, em junho do ano passado, no Meeting Iberoamericano, em Huelva, Espanha. Em 4:13:31 minutos, bateu o tempo fixado há 31 anos pela campeã olímpica Fernanda Ribeiro. Quase um ano depois, no dia 18 de maio, há pouco mais de uma semana, a jovem bracarense voltou a quebrar o recorde, tirando 13 segundos à marca anterior, no Meeting de Ourense, novamente em solo espanhol.
Também nos 1.500 metros, na distância de eleição, Mariana Machado considera que o quarto lugar no Campeonato do Mundo de Juniores em 2018, em Tampere, na Finlândia, foi o ponto mais alto, até ao momento, da sua curta carreira e que alcançar essa posição superou as expetativas.
Marcar presença nos Jogos Olímpicos “é o topo” dos objetivos que pretende alcançar. Na perspetiva de cumprir esse desejo, confidencia que não sabe se será em 2020, mas espera estar presente em Paris, quatro anos depois.
A mousse de chocolate que ‘valeu’ dois recordes nacionais
Se dentro da pista, as histórias são muitas, fora dela as curiosidades também existem. A atleta, agora com 18 anos, conta que, em juvenil, foi ao Campeonato Nacional de Clubes fazer as provas de 800 e 1.500 metros e, na hora do almoço, no restaurante, uma das sobremesas era mousse de chocolate. “Antes de fazer os 1.500 metros, pensei em pedir uma mousse para ganhar força. Comi a mousse e bati o recorde nacional. No dia seguinte, fui correr os 800 metros, voltei a comer mousse e bati, novamente, o recorde nacional”.
Assim, comer um “pedacinho de chocolate” passou a ser um ritual e uma superstição para Mariana Machado. Poderá ser este o segredo para marcar presença nos Jogos Olímpicos de 2020?
Imagem e edição: José Duque e Sara Sofia Gonçalves