A edição de 2019 do Enterro da Gata terminou esta sexta-feira. Nuno Reis destaca o "feedback positivo" dado pelos estudantes.
Após sete dias de atividade, o Enterro da Gata 2019 chegou ao fim esta sexta-feira. Nuno Reis, presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), em entrevista ao ComUM, faz um balanço “muito positivo” do evento que se realizou pela primeira vez no Forum Braga.
O representante máximo dos estudantes explica ainda que os copos reutilizáveis tiveram de ser pagos pelos alunos que compraram bilhete geral, ao contrário do que aconteceu na Receção ao Caloiro, porque a dimensão do Enterro da Gata implica outro tipo de custos. Já quanto à “pouca divulgação por parte da AAUM”, referida por Celeste Amorim, em relação ao movimento contra a violência sexual para o evento, Nuno Reis não concorda e garante que a associação esteve sempre disposta a ajudar.
No que diz respeito ao futuro do evento, garantindo que viu “muita gente a parabenizar” a organização, o presidente da AAUM ainda não sabe se o Enterro da Gata vai continuar a ser realizado no Forum Braga.
ComUM: O Enterro da Gata aconteceu, pela primeira vez, no Forum Braga. Que balanço faz a AAUM desta edição, comparativamente com as dos anos anteriores, que tiveram lugar na Alameda do Estádio Municipal de Braga?
Nuno Reis: Nos últimos dez anos, o Enterro da Gata teve uma casa diferente. Era na alameda do estádio. Antes disso foi em frente à universidade. Sendo um ano de mudança, as expectativas das pessoas são sempre o mais complicado de gerir porque criam logo uma ideia própria antes, até, de conhecerem o evento. Aquilo que achava que era a ideia das pessoas era que isto ia ser quase uma segunda Receção ao Caloiro e que íamos estar totalmente num espaço fechado e que iam haver muitas coisas que não iam gostar porque ia perder, de alguma forma, a mística do evento.
Estando no fim do Enterro e depois de ouvir o feedback das pessoas, a verdade é que tenho visto muitas pessoas a parabenizar a associação académica por esta mudança porque estavam, de facto, à espera que fosse bastante pior do que aquilo que efetivamente acabou por ser este resultado. É um espaço mais limpo, mais iluminado, com melhores características para receber eventos desta dimensão e com questões que foram completamente diferentes dos anos anteriores. Temos, por exemplo, a questão do Parque Alimentar, que tem uma estrutura diferente ou o facto de haver dois palcos com duas disposições diferentes, onde há, em ambos, qualidade muito boa para assistir a concertos.
Obviamente, existem, também, pontos negativos. Existe principalmente o ponto negativo de alguma daquela mística que existia relativamente às barraquinhas, em que cada uma tinha o seu som e tinham mais facilidade na decoração. Aqui, isso não pôde ser possível por causa dos timings de montagem e isso acabou por se perder, de alguma forma, com esta alteração de local. Esta foi uma alteração obrigatória, já que não tivemos propriamente disponibilidade nem da parte do Braga nem da Câmara Municipal de Braga para voltar ao local anterior porque o local anterior, de facto, está em obras e vai começar obras mais profundas, que já deviam ter começado.
Portanto, olhando para aquilo que foi a mudança e aquilo que resultou da mesma, eu tenho de fazer um balanço muito positivo. O evento ganhou uma dimensão diferente. Conseguimos receber as pessoas com mais qualidade do que aquilo que fazíamos antes.
Tendo isto acabado por resultar melhor do que as próprias pessoas pensavam, só posso fazer esse balanço positivo. Estou convicto que daqui a uns anos, quando as pessoas olharem para trás, como aconteceu quando passamos do Campus de Gualtar para a alameda do estádio, as pessoas vão olhar para estas vantagens como “ainda bem que a associação académica fez esta mudança”. Estou convicto disso e fico muito orgulhoso que tenha sido esta direção e que eu, obviamente enquanto presidente, tenha tido a capacidade de fazer esta alteração.
ComUM: Assim como na Receção, também no Enterro a iniciativa dos copos reutilizáveis esteve presente. No entanto, aqui, não se puderam usar os copos reutilizáveis da Receção, em Guimarães. Além disso, na Receção ao Caloiro, quem tinha bilhete geral não precisou de pagar copo. Porquê estas mudanças?
Nuno Reis: Na Receção também não era permitido devolver o copo. Aquilo que se fez na altura foi as pessoas comprarem o copo e poderem estar com o mesmo copo todos os dias do evento. É algo que vai acontecer também no próximo ano letivo. Ao que tudo indica, vamos manter esta iniciativa com a Vitrus e a Câmara Municipal de Guimarães. Portanto, o copo será igual e isso facilitará a que as pessoas já possam utilizar os copos que compraram no ano anterior.
Relativamente à questão de não se puder entrar com copos da Receção ao Caloiro no Enterro da Gata, a sustentabilidade, em si, tem várias vertentes. As pessoas muitas vezes olham para as medidas de sustentabilidade como puramente medidas ambientais, mas também se reflete ao nível social e económico. Isso é apresentado quer no nosso programa de sustentabilidade do evento, tal como também fizemos nos Campeonatos Nacionais Universitários, e que distinguia muito concretamente quais eram as medidas.
Uma das medidas de consciencialização social passa também por associar a marca “Enterro da Gata” à marca “sustentabilidade”. É uma das medidas mais importantes e é, por isso, que quando as pessoas assistem a um concerto, naqueles intervalos, estão a passar mensagens sobre qual é o impacto das pessoas e o que é preciso reduzir no nosso dia-a-dia para conseguirmos, de alguma forma, salvar o planeta. É muito por causa dessa associação que para nós é muito importante a marca “Enterro da Gata” estar associada ao evento em si.
Quanto à questão económica, as medidas de sustentabilidade também têm um custo. Antigamente, utilizávamos milhares e milhares de copos de plástico, mas não pagávamos por eles porque nos eram fornecidos por uma cervejeira. Agora, estamos a comprar o copo, a caracterizá-lo e temos, inclusivamente, uma logística de vendas que é bastante pesada porque temos muitas pessoas a trabalhar estes dias todos e que, obviamente, são pagas para estar a trabalhar nessa venda de copos e tudo isto tem um custo.
Portanto, se nós, de repente, deixássemos entrar, também, todos os copos que as pessoas têm em casa para poder substituir o copo daqui do evento, então íamos ter um problema em relação àquilo nós adquirimos e a nossa gestão ia ser muito complicada.
Sobre a questão do bilhete geral em si, nós, na Receção ao Caloiro, fizemo-lo por uma questão de ser a primeira vez que estávamos a fazer isto numa das nossas atividades. Aqui [ndr: No Enterro da Gata] não o fizemos porque a dimensão também seria maior e, portanto, os custos seriam outros, mas também porque acreditamos que isto é uma coisa tão natural, que acontece em todos os eventos, até no próprio Forum Braga. É mesmo política do Forum obrigar a que todas as pessoas que organizem aqui eventos tenham um copo reutilizável. Acreditamos naturalmente que as pessoas estão a contar comprar um copo para assistir a um concerto e reutilizá-lo, quer aqui, quer depois servir como recordação porque acho que é uma recordação gira para se ter do Enterro da Gata.
ComUM: Outra particularidade desta nova edição foi o surgimento de uma iniciativa na qual voluntários fizeram rondas para identificar situações de violência ou assédio sexual durante o Enterro. Ao ComUM, Celeste Amorim, responsável pelo movimento, disse que a criação de um Ponto Lilás no recinto não foi possível por questões económicas, temporais e humanas e por ter havido pouca divulgação por parte da AAUM. Como presidente da associação, qual é a opinião sobre o assunto?
Nuno Reis: Sobre a questão económica não creio que tenha sido esse o problema – só se eles se estiveram a dirigir a eles próprios – porque da parte da associação houve sempre disponibilidade para o fazer. Continuamos a assumir as mesmas ações de consciencialização com a Juventude da Cruz Vermelha, que são suportadas financeiramente pela associação académica porque consideramos que, de facto, é importante. Tivemos todo o à-vontade para aceitar tudo aquilo que foram as propostas deles. Inclusivamente, como se pode ver pelo recinto, todas as barraquinhas têm cartazes com toda a campanha que eles estão a fazer em parceria connosco.
Fizemos uma ação de consciencialização com as pessoas que estão a trabalhar connosco dentro do recinto e divulgamos as informações sempre que nos foi solicitado. Portanto, não creio que tenha existido pouca divulgação. Pelo contrário, acho até que foi uma coisa que teve bastante impacto nas redes sociais. Eu próprio recolhi o feedback de muita gente que ficou muito contente por estarmos preocupados com isto. Acho que teve resultados. Até ao momento, não surgiu qualquer problema relacionado com violência sexual nem nada relacionado com estas matérias que nos preocupam muito.
Sobre isso, acima de tudo, a mensagem que tenho passado é muita clara: apesar de tudo, as associações académicas são, se calhar, das entidades que mais prezam este tipo de atividades e são das poucas que, de facto, têm tentado consciencializar e implementar medidas ativas nas atividades que organizam. Se se comparar o Enterro da Gata, a Receção ao Caloiro, tudo o que diz respeito a este tipo de atividades, com outros grandes eventos – muitos deles municipais -, ninguém vê que há a mesma preocupação.
Às vezes, este assunto é colocado no foro público porque há muitas gente que sente algumas resistências àquilo que são as semanas académicas, uma vez que causam transtorno, fazem barulho e por muitas outras razões, mas esquecem-se que, de facto, os estudantes são os únicos preocupados e os únicos que estão efetivamente a tentar resolver o problema. Todas estas entidades que se associam a este tipo de programas, como a UMAR e a HeForShe, também são maioritariamente feitas por estudantes voluntários que estão preocupados.
Às vezes, passarem esta mensagem é um bocadinho ingrato para o esforço que fazemos e é usado muitas vezes para desviar a atenção e para se falar das semanas académicas por maus motivos, mas temos muitos bons motivos para nos orgulharmos daquilo que está a ser feito aqui, quer nessa vertente, quer noutras vertentes sociais, como todos os outros projetos que temos, como o Dia da Beneficiência e a Gata da Saúde. Todos eles são bons exemplos e que deviam ser muito mais repetidos noutros eventos, que têm objetivos mais lucrativos, nomeadeamente os municipais, em que a preocupação sobre este matéria não é muita.
ComUM: A aposta no Forum Braga como recinto do Enterro da Gata é para continuar nos próximos anos?
Nuno Reis: Essa é uma pergunta que eu ainda não sei responder. Há de ser feito um balanço sobre aquilo que correu bem e o que correu mal e há de ser feito novamente um balanço sobre que outro futuro teria o evento se não fosse realizado cá porque, até ao momento, não somos ainda capazes de responder a essa pergunta.
Como disse e assumi várias vezes, esta foi a única opção que nos pareceu viável para receber o evento este ano. No entanto, existem muitos momentos para os estudantes desta universidade, onde eles se vão poder pronunciar acerca deste assunto, como, por exemplo, nas Reuniões Gerais de Alunos e nas eleições porque vão existir, certamente, projetos que vão apresentar soluções para a localização do Enterro da Gata.
Se, de facto, esta é ou não a melhor localização, muito brevemente, espero eu, a academia já terá tomado uma decisão acerca desse assunto porque o Enterro da Gata não se prepara de um dia para o outro, muito menos mudar de sítio. São coisas que têm de ser muito bem planeadas e muito bem trabalhadas.
Diana Gomes e Pedro Serrasqueiro