Um filme com potencial para se tornar apaixonante, mas que progressivamente nos desencanta. “O professor e o louco” conta-nos a história de uma aliança improvável entre dois homens, um intelectual sem oficiais qualificações académicas e um assassino aparentemente insano.

O professor, James Murray, apesar da ausência de um curso superior, prova-se apto para a tarefa de escrever um dicionário da língua inglesa baseado na História das palavras e com exemplos ilustrativos, depois de impressionar um conjunto de académicos com os seus conhecimentos em inúmeros idiomas. O assassino, Dr. William Minor, antigo combatente na guerra civil americana e agora internado num hospital psiquiátrico por ter cometido um assassinato, torna-se o seu inesperado aliado na construção desta bíblia do saber, que será, um dia, o Oxford English Dictionary.

the professor and the madman

Este dicionário é, nada mais, nada menos, do que uma homenagem à língua inglesa, espalhada pelos séculos e pelo planeta, pelas culturas e pelas classes sociais como o vento, e que se tenta agora apanhar e prender, momentaneamente, num grosso livro que a descreve. Nas qualidades do filme podem incluir-se estas visões que se nos apresentam: de que qualquer pessoa que fala inglês é um contributo para a grande obra, de que não é preciso ter qualificações para sugerir definições de palavras, que o slang também é língua e que os idiomas evoluem e um dicionário é sempre um livro inacabado. Também o diálogo entre Minor e Eliza Merrett, a viúva do homem que este matou, sobre a leitura, pode ser considerado um dos melhores diálogos do filme. William, que vive atormentado “por aqueles que o perseguem na noite” afirma que, quando lê, ninguém o persegue.

the professor and the madman

Mas a banda sonora e a ótima prestação dos atores restam como as últimas qualidades do filme, que desilude em praticamente todo o resto. O trabalho de câmara não surpreende, a narração da história torna-se profundamente entediante e previsível e os cenários não são ambiciosos (apesar de também não se tratarem de uma desilusão total).

Mas o que mais desanima é o ritmo lento da história, os diálogos que tentam comover sem o conseguirem, em suma, um filme do qual nos fartamos a um certo ponto e uma história que conta a história destes dois homens, mas deixa cair por terra a biografia do próprio dicionário e falha nesta homenagem às palavras que aparentemente deseja fazer.

A única personagem que acaba por nos ser revelada mais intimamente e que nos consegue comover é a do próprio William Minor, mas não podemos ignorar que isto se deve, maioritariamente, à performance de Sean Penn e não à forma como a personagem foi escrita.

Em suma, a antecipada adaptação do livro de Simon Winchester, lançado em 1998, pouco nos traz de novidade, e acaba por ser um equivalente cinematográfico à leitura do dicionário de Oxford, encontrando, aqui e ali, uma palavra espetacular ou uma página mais interessante do que as outras, para cair no aborrecimento logo de seguida.