A terceira noite do ciclo de espetáculos Respira! 2019 foi bafejada pela voz da cantora e compositora escocesa, Kathryn Joseph, e abraçada pelo singular toque de Lubomyr Melnyk, considerado um dos pianistas mais rápidos do mundo.

A diversidade de estilos, atitudes e culturas que entravam na sala principal do Theatro Circo, foi visível para quem por lá se encontrava. Nesta desconexa amalgama de personalidades, Kathryn Joseph entra em palco, com passos seguros em direção ao simpático piano preto, com um copo de vinho na mão e um fluído vestido branco. Pousa o copo no chão, pressiona a primeira nota e a melodia da sua voz inicia, desta forma, a terceira noite do ciclo Respira! 2019.

A artista manteve contacto visual constante com o público, estabelecendo um elo emocional entre a sua música e o imaginário de cada um. Nas breves respirações entre as suas peças de obscura sedução, Kathryn interagiu com o público, lamentando a sua pronúncia possivelmente incompreensível e confessando o seu nervosismo em tocar na sala “mais bonita que alguma vez viu”. O seu sorriso simpático e discurso calmo, puxaram sorrisos e discretas gargalhadas nos presentes.

Interpretou a música “Weight”, acompanhada visualmente por luzes em tons azuis a fugir para o roxo. Seguiu-se a peça “Mountain”, “Tell me lover” e ainda “Blood”. Todas elas partilham um estilo de composição semelhante, mas possuem identidade própria, o que inspirou diferentes reações. Terminou a atuação com a música “From When I Wake The Want Is”, do seu mais recente álbum.

Após o intervalo, um piano de cauda preto ocupou o centro do palco. Lubomyr Melnyk começou por explicar a essência da sua técnica: a “Música Contínua”, que consiste em tocar sequências de notas complexas a uma desafiante velocidade, durante longos períodos de tempo. O pianista de origem ucraniana, de 80 anos, é detentor de dois recordes: toca 19,5 notas de piano por segundo em cada mão e consegue também tocar 13 a 14 notas por segundo durante uma hora. Pede ao público que se concentre apenas no som do piano, pois esse é o coração da sua música.

A primeira peça, que durou cerca de 20 minutos, serviu de introdução a este peculiar formato musical. Os dedos de Lubomyr dançaram pelas teclas do piano, com uma leveza e coordenação deveras impressionante, fruto do trabalho e dedicação levado ao extremo. O som é, para além de um milagre, amor, segundo o pianista.

Tocou a peça “The Love Song of Bonnie and Clyde”, “Son of Parasol” e “Butterfly”, cuja partitura foi disponibilizada junto dos CD’s, para quem sentisse “ousadia de tentar”. Despede-se com aquela que considera a melhor peça que alguma vez compôs, “Windmills”, com a duração de, aproximadamente, 40 minutos. A envolvência harmoniosa absorveu o público, colocando-o num estado perto de dormência, mas recetivo a qualquer estímulo.

Com uma ovação de pé, o provocador som do piano uniu os presentes numa experiência a recordar.