O ComUM esteve à conversa com o artista que fechou o terceiro dia de Enterro da Gata. Antes, no Forum Braga, B Fachada e Rusted Sun pisaram o palco.
A última atuação da noite ficou ao encargo de Samuel Úria. Em entrevista ao ComUM, Úria aponta as diferenças entre a escrita de música e a escrita de artigos de opinião, salientando que a música é uma expressão do próprio artista. O músico considera que “as canções têm um sítio certo para acontecer”.
No terceiro dia de Enterro da Gata, Samuel Úria pediu ao público que colocasse a voz junto à sua para entoarem “Carga de Ombro”. O artista interpretou, junto da sua banda, músicas como “É Preciso Que Eu Diminua”, “Dou-me Corda” e passagens de “Marcha Atroz”, último EP editado.
ComUM: Sentes que o facto de escrever músicas para outros cantores influencia a tua carreira a solo?
Samuel Úria: Eu gostava de imaginar que influenciava mais a carreira dos artistas para os quais escrevo. Normalmente quando me pedem canções estão à espera de que haja um pouco de cunho pessoal, algo que espelhe o artista. E de repente aquela música une o meu universo e o universo deles. O que eu faço, normalmente, é escrever canções para tonalidades e vozes que não são a minha e tento ter as vozes dessas pessoas na minha cabeça. Mas não quero despejar tudo o que são as minhas características, até porque o convite foi feito para as minhas características. É uma espécie de atividade paralela, mas que não afeta muito o meu processo criativo.
ComUM: Em 2009 escreveste um disco inteiro durante um dia e online. Achas que, dez anos depois, farias o mesmo?
Samuel Úria: Conseguir? Não faço ideia. Agora, querer? Não quereria [risos]. Aquilo foi uma experiência. Na altura eu estava para lançar um novo disco e, de repente, entrou uma editora que queria fazer um disco meu e isso atrasou o tal disco que eu queria fazer. Então, como eu ia ter um compasso de espera para fazer esse tal EP, eu decidi: vou fazer um disco num dia só e vou exorcizar a minha vontade de fazer canções. Hoje em dia eu tenho menos vontade emergente de fazer canções, mas se calhar é porque vivo exclusivamente disto. Acabou por se tornar o meu trabalho. E, neste momento, eu sinto-me mais um artífice do que um artista, até porque isto é o meu ofício. Acho que as canções tinham um sítio certo para acontecer e servem uma utilidade diferente do que aquela vontade voraz e adolescente. Eu já não era adolescente há dez anos [risos]. Havia uma espécie de emergência de escrever canções que eu hoje não sinto. Hoje escrevo canções e continuo a recriar muito na escrita de canções, mas não existe emergência.
ComUM: Em 2018 lançaste um “mini-álbum”. Para quando novos projetos?
Samuel Úria: Gostava muito de saber responder a essa pergunta. Eu vou tentar para o ano, se calhar início do ano, até porque era o ideal, um conjunto de coisas novas para lançar. Mas é só tentar, não prometo.
ComUM: Sentes que os artigos que escreves para o Sapo 24 podem influenciar o teu público?
Samuel Úria: Eu espero bem que não. Eu escrevo às vezes coisas muito impopulares. Eu gosto muito de receber reações negativas porque sinto que mexi com as pessoas e que se sentem visadas. Contudo, quando eu estou a escrever não o faço para ninguém em particular. E eu com a música não tenho esse desplante: querer escrever às vezes para chocar ou para granjear contraditórios um bocado inflamados. A minha música é um bocado uma expressão de mim próprio e o que eu escrevo nos artigos é uma reflexão sobre situações que se estão a passar.
ComUM: Ainda há pouco tempo estiveste em Braga. Como é voltar?
Samuel Úria: Eu adoro Braga. Acho que o Minho é fantástico. E sei que dizer “o Minho” é um bocado generalizar, ainda por cima cá no Minho há cidades rivais [risos]. Mas eu gosto do Minho no seu todo. Braga é um local especial, tem-me acolhido muito bem. Eu tenho cerca de 10 anos de carreira, se é que isto é uma coisa a que posso chamar carreira, e Braga tem sido um ponto recorrente. É uma felicidade voltar cá.