Metropolis Part 2: Scenes From A Memory é o quinto álbum da banda Dream Theater, lançado em 1999, e o primeiro com a participação de Jordan Rudess no teclado. É um dos melhores álbuns conceituais alguma vez produzidos, que conta a história de um homem que descobre, através da hipnose, a sua vida passada.

O álbum está dividido por cenas, sendo que algumas das canções se enquadram na mesma cena. A faixa que inicia esta bela peça de Rock progressivo é mais como o início duma história. Ouve-se o terapeuta a hipnotizar a personagem, até que este entra num estado inconsciente. É um tema bastante calmo, que inicia a jornada que a pessoa está prestes a fazer.

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A maioria destes temas estão interligados entre si. Após a introdução, passamos para outra canção: “Overture 1928 (Scene Two)”. Começa com um fade in de bateria e guitarra, como se fosse o crescendo para uma marcha na qual não sabíamos que participávamos. A canção, apenas instrumental, é uma inebriante conjugação de sons, onde as guitarras e a bateria são, sem dúvida, as estrelas. É importante mencionar que a canção termina e “Strange Deja Vu (Scene Two)”, a faixa que se segue, é a sua continuação.

É, sem dúvida, umas das obras primas deste disco. É onde começa a estória do projeto propriamente dita. Já não é novidade que os Dream Theater nos habituaram a nada menos do que extraordinário, mas “Strange Deja Vu (Scene Two)” é uma canção que toda a gente deve ouvir, pelo menos uma vez na vida. A progressão harmónica hipnotiza-nos lentamente, fazendo-nos entrar no mundo da psicanálise sem nunca precisarmos. Não precisamos, de facto, mas sabe bem. É uma faixa que se divide em vários subtemas, todos interligados, mas todos extraordinários. “Through My Words (Scene Three)” serve como ligação entre esta e a seguinte.

“Fatal Tragedy (Scene Three)” é justamente o que precisávamos depois do tema anterior nos ter dado um knock out metafórico, outro knock out. Os solos de guitarra conjugados com as teclas magistrais de Jordan Rudess, transformam estes sete minutos numa panóplia de emoções.

Segue-se “Beyond This Life (Scene Four)”, que marca o início e o fim da quarta cena do álbum. É um tema de 11 minutos, onde o que mais importa é a letra. Conta como Victoria foi assassinada, vítima de um crime passional: o seu companheiro matou-a porque ela tinha um caso com o seu irmão e, em seguida, tirou a sua própria vida, deixando um bilhete a explicar o sucedido. A dinâmica da letra e da canção estão sempre em sintonia, sendo mais calma quando a letra assim o pede e mais profunda e agressiva quando se fala do terrível homicídio.

“Through Her Eyes (Scene Five)”, expressa a dor e a mágoa do paciente, quando se apercebeu que Victoria foi vítima das circunstâncias. “I’m learning all about my life / By looking through her eyes”. É uma faixa bem mais calma do que as anteriores. Mais uma vez, Dream Theater adequam a letra à melodia, numa combinação angelical.

A sexta cena, “Home (Scene Six)”, é uma mistura de pontos de vista das diferentes personagens. Fala de como Julian, o companheiro de Victoria, tinha vícios, mas estaria disposto a largá-los para trazer de volta a sua amada. Porém, Nicholas, a personagem que está a ser hipnotizada, não se consegue desligar da sua vida passada. Assim, apesar de não ter amado Victoria, tornou-se tão obcecado por ela quanto as outras personagens. O tema é muito imprevisível, com várias nuances tanto a nível vocal, como instrumental. É de notar a guitarra e os teclados, num som quase arábico, que nos envolve cada vez mais na história.

“The Dance Of Eternity (Scene Seven)” é um instrumental que nos prepara lindamente para o fim desta mesma cena, “One Last Time”. A tensão criada pelo tema anterior e a introdução ao piano de Rudess é arrepiante. É uma faixa melodicamente muito agradável, já que se traduz numa combinação de melodias já apresentadas anteriormente, mas muito bem ligadas. Nicholas, no entanto, acredita que a estória que lhe foi apresentada não é totalmente verdadeira, sendo o final prestes a ser revelado.

“The Spirit Carries On (Scene Eight)” é uma das canções mais inspiradoras do álbum. Nicholas acredita, firmemente, que depois da morte há vida. Uma vida que vale tanto a pena ser vivida como a que ele vive no momento. A bateria de Mike Portnoy é bem mais calma, mais lenta e mais sentida, de certa forma. A voz de Victoria (interpretada por Theresa Thomason) confere ao tema um cariz bem mais realista e completo, como se também nós estivéssemos a sentir o seu espírito.

“Finally Free (Scene Nine)” é o tema chave para percebermos o desfecho deste álbum. As harmonias mudam de acordes maiores para menores, conforme a felicidade ou tristeza/agressividade da estória contada.

Ao ouvir a última canção, percebemos que a estória é a seguinte: Nicholas tem um sonho recorrente com uma rapariga, e consulta um profissional, que o hipnotiza. Nicholas começa a perceber que ele próprio é a reincarnação de Victoria e torna-se obcecado por perceber o que realmente lhe aconteceu. Começa por visitar uma casa, onde encontra um jornal com a notícia da rapariga. Victoria namorava com um homem chamado Julian, que tinha problemas com droga e apostas, motivos pelos quais terminou o relacionamento. Numa noite, ouvem-se barulhos e sons de luta e um bilhete de Julian a dizer que não consegue viver sem Victoria. Assume-se que Julian matou Victoria e de seguida se suicidou. Nicholas volta às memórias de Victoria e começa a perceber que o irmão de Julian, Edward, a confortou e se apaixonou por ela. Assim começou um caso sem que Julian soubesse.

Nicholas percebe a situação e a memória final é-lhe revelada: Julian confessou a Victoria que ia largar os vícios, porque a amava verdadeiramente e queria que voltassem a namorar. Combinam encontrar-se e, já que Victoria amava Julian, tencionava acabar com Edward. Eles pensavam que o encontro seria em segredo, mas Edward aparece, enraivecido por Victoria o ter abandonado. Pega na arma que trazia consigo e mata o irmão. Em seguida, Edward mata Victoria e escreve o bilhete de suicídio que foi encontrado no bolso de Julian. Nicholas finalmente sente-se livre e fica contente com a conclusão da estória. Porém, quando aparece o terapeuta, percebe-se que este é a reincarnação de Edward e mata Nicholas para continuar este ciclo.

O que acabei de descrever, muito brevemente, é uma das maiores obras primas do Rock progressivo. Atrevo-me a dizer que é uma das melhores obras primas de sempre. O conceito do álbum é brilhante. Desde os músicos brilhantes que o conceberam, às progressões fora deste mundo, Metropolis Part 2: Scenes From A Memory  é um álbum intemporal que promete ficar nas nossas memórias, já que não é apenas genial, musicalmente falando. É genial no seu enredo, na construção das personagens, na forma como conseguem contar uma estória através da músicas.

As nuances do timbre de James LaBrie, dependendo da personagem que a sua voz representa, a guitarra fabulosa de Petrucci, as teclas de Rudess, a bateria de Portnoy a conferir a dinâmica que tanto distingue este álbum e o incrível baixo de Myung, são características que apenas os Dream Theater conseguem trazer. Uma banda extraordinária produz, como seria de esperar, um álbum nada menos que transcendental. Um álbum que toda a gente deve ouvir.