Jimi Hendrix é um nome que mexe com qualquer fã de Rock. Poucos artistas fizeram tanto em tão pouco tempo como o lendário guitarrista norte-americano, sendo Are You Experienced onde tudo começou.

James Marshall “Jimi” Hendrix formou em 1966 os The Jimi Hendrix Experience, em colaboração com o baterista Mitch Mitchell e o baixista Noel Redding, lançando em apenas quatro anos três álbuns icónicos para a história do Rock. Todavia, em setembro de 1970, o guitarrista teve uma overdose, morrendo de uma consequente asfixia. Um fim demasiado horrendo e sucinto para um artista que se imortalizou como um ícone do género.

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Mesmo tendo sido reeditado e alterado inúmeras vezes, adicionando faixas ou alterando a sua disposição na listagem, Are You Experienced, lançado em 1967, encapsula a sua época e o nascimento do movimento hippie. É um projeto bastante ligado a toda uma nova revolução de mentalidades, sonoridades mais psicadélicas, o consumo de narcóticos e a promoção da paz.

Vemos isto representado por faixas como a intemporal “Purple Haze”, que é acentuada por toda uma panóplia de riffs incríveis saídos da guitarra de Hendrix. A loucura da experiencia psiconeurótica pela qual o narrador passa condiz com os solos atrás de solos de guitarra que rasgam a faixa.

Contudo, toda esta experiência não depende de um só homem. “Manic Depression” salienta todo o talento de Redding, enquanto permite à estrela principal da banda entregar toda uma performance vocal e ainda deixar tempo para um solo em pêras.

Em “Fire”, o baixista providencia vocais secundárias, enquanto Mitch demonstra ferozmente as suas habilidades na bateria. É um dos momentos nos quais todos os membros da banda têm uma hipótese de dominar o holofote.

Are You Experienced é também um álbum introspetivo, sendo uma ponte para a abordagem de temáticas mais tabu, como a saúde mental de Jimi. “I Don’t Live Today” ataca este assunto de frente, com o vibrato da guitarra a refletir a existência igualmente temporária do artista no refrão.

Durante o álbum, Hendrix procura uma libertação pessoal, como ouvido em “Stone Free”, pondera sobre a natureza das suas relações mais amorosas, como em “Love or Confusion”, e até procura lidar com a rejeição, em “Can You See Me”. Para além disso, ainda acha tempo para inventar novas técnicas que iriam revolucionar o mundo da música, como o uso invertido de guitarras e percussão na faixa “Are You Experienced”, anos antes da técnica de scratching ter sido inventada.

E verdade seja dita, o projeto retira bastante inspiração de artistas dos mais variados géneros. “Red House” é a faixa que mais expõe as significantes influências do nascimento do Blues, e “Remember” demonstra uma presença vocal ligada mais ao Soul.

Por exemplo, “Third Stone From The Sun” é um dos primeiros exemplos de fusão de Rock e Jazz, mesmo sendo uma das menos relevantes no álbum quando comparada ao lado de gigantes como “Foxy Lady” ou “The Wind Cries Mary”. A primeira estabeleceu-se no catálogo do grupo como uma das suas baladas mais sensuais e mais sonicamente enfatuadas, e a segunda por motivos precisamente opostos, com uma das baladas mais suaves e pautadas de todo este projeto.

“Hey Joe” iria tornar-se talvez a faixa mais associada ao artista, apesar de ter sido escrita por alguém completamente exterior à banda. Este fenómeno iria repetir-se com “All Along the Watchtower”, de Bob Dylan, cuja re-interpretação por Hendrix iria talvez ficar mais famosa que a versão original. Mesmo assim, em faixas como “May This Be Love”, “51st Anniversary” ou até “Highway Chile”, podemos presenciar que a escrita de Hendrix consegue ser repleta de exóticas analogias visuais, servindo sempre como veículo para a personalidade e para os próprios sentimentos dele.

Em conclusão, mesmo com 52 anos de vida, Are You Experienced é uma estreia musical como poucas o são. Catapultando todo o legado que Hendrix iria estabelecer nos próximos anos para uma escala deítica.

E, enquanto poderia passar toda uma eternidade a descrever a forma legitimamente orgânica com a qual Jimi atingia a simbiose com a sua guitarra (com a Fender Stratocaster a ser permanentemente associada ao seu nome), isso seria um desperdício daquilo que ele nos ensinou. Ao invés disso, recomendo a todos os fãs e não fãs de Rock a tomarem parte desta experiência preparada por aquele que foi, para muitos, o ”melhor instrumentalista de toda a história do Rock”.