No próximo domingo vai descobrir-se o novo campeão do Campeonato de Portugal. No entanto, a decisão mais importante desta competição já foi decidida no último domingo. Vilafranquense e Casa Pia são as equipas promovidas à Ledman LigaPro e vão juntar-se aos três clubes representantes da Associação de Futebol de Lisboa na segunda divisão nacional, o que perfaz um total de cinco equipas do distrito lisboeta.
Fazendo uma passagem pela localização dos emblemas da segunda liga, vemos a falta de equipas de várias regiões, nomeadamente do Minho. Pelo contrário, na Liga NOS, o distrito bracarense é um dos mais representados, tendo passado de três para cinco clubes. O caso na Ledman LigaPro mudava de figura se subissem os primeiros classificados de cada série no Campeonato de Portugal. Assim, a variedade aumentava de oito distritos para 11. Mas disto falaremos mais à frente.
Voltando ao assunto inicial, esta competição tem vindo a sofrer alterações todos os anos. No entanto, na época que se avizinha, não estão previstas quaisquer mudanças. Em 2018/2019, passou a haver quatro séries com 18 equipas cada, o que dá um total de 72 clubes. O único fator em comum ao longo das últimas temporadas é o número de emblemas a subir de divisão: dois.
Este campeonato desagrada a bastante gente pela forma como está organizado. Há poucas subidas para tantas equipas e muitas descidas. Outro problema relativamente às promoções de divisão é os primeiros classificados serem prejudicados.
Imaginemos que isto acontecia na Liga NOS: uma equipa acabava em primeiro lugar e por dois jogos, disputados num playoff, não subia de divisão. No Campeonato de Portugal acontece isto e este ano, inclusive, as duas equipas promovidas ficaram na segunda posição na respetiva série.
Vejamos agora os números das equipas que ficaram na primeira posição. Em 34 jogos, o FC Vizela venceu 23 e conseguiu qualificar-se para o playoff e ficar no primeiro lugar da Série A, a duas jornadas do fim. Na B, o campeão foi o Sp. Espinho, que somou 20 vitórias e ficou em igualdade pontual com o segundo classificado. O União de Leiria, da Série C, já tinha o playoff garantido quando entrou para a última jornada e com a vitória nessa partida conseguiu ficar no primeiro posto.
A primeira equipa a a assegurar a passagem à fase seguinte e o primeiro lugar foi o Praiense da Série D, no final da jornada 31. Nenhuma destas quatro equipas, que fizeram mais do que os outros na fase regular, já que ficaram em primeiro, subiu de divisão. Por exemplo, este é o segundo ano consecutivo que o U. Leiria e o FC Vizela são campeões da respetiva série e não asseguram a presença na Ledman LigaPro. É caso para dizer que não vale a pena lutar tanto pelo primeiro lugar porque no fim têm os mesmos direitos que os segundos classificados.
Como se não bastasse os campeões das séries não subirem diretamente, este ano, na Série A, em todas as jornadas havia duas equipas que faziam ‘jogos-treino’. O Gil Vicente integrou esta prova já com a garantia que ia participar na Liga NOS na época seguinte, não somando qualquer ponto, independentemente dos resultados obtidos. No entanto, o problema é que as partidas contra os minhotos atrapalhavam as contas dos clubes que lutavam pela passagem ao playoff e pela manutenção.
Mais problemas também houve na série D. O jogo da jornada 30 entre Olhanense e Casa Pia deixou a dúvida no ar no final da primeira fase, tendo a situação sido resolvida a 15 de maio, um mês depois da partida. De forma resumida, os adeptos algarvios ameaçaram invadir o relvado depois de, alegadamente, terem sido provocados durante os festejos dos dois golos dos lisboetas, que deram a reviravolta no marcador.
Ora, ao minuto 81, com o resultado em 1-2, o árbitro decidiu suspender o jogo e adiá-lo para o dia seguinte por não haver condições de segurança. No entanto, o Casa Pia não compareceu. A Federação Portugal de Futebol (FPF) só apresentou a decisão no final da fase regular e as opiniões entre os adeptos, não só dos clubes envolvidos, mas do Campeonato de Portugal, em geral, foram várias e divergentes.
Se a decisão foi a correta ou não, o certo é que a vitória foi dada ao Casa Pia, tendo beneficiado desse resultado para assegurar o segundo lugar da Série D. Depois, no playoff, a formação de Pina Manique garantiu a subida de divisão.
Mais um caso é a mudança à última hora do regulamento da competição. No início da época, o ponto 12 da alínea 6 dizia: “nas finais jogadas a duas mãos, se no final do tempo regulamentar do segundo jogo o resultado estiver empatado no conjunto das duas mãos, é realizado um prolongamento de 30 minutos, dividido em duas partes de 15 minutos, sem intervalo, mas com mudança de campo”.
Ora, depois do sorteio realizado que definiu os jogos dos quartos de final do playoff, com os dois primeiros classificados de cada série, a FPF mudou as leis e os golos marcados fora de casa passaram a contar. Com isto não quero dizer que uma das regras está mal. O que está mal é a alteração ser feita apenas uma semana antes das partidas decisivas começarem.
Estes foram apenas alguns exemplos de situações insatisfatórias das muitas que vão surgindo nesta divisão. Isto tudo leva-nos a pensar que o Campeonato de Portugal é desprezado e merecia mais atenção da FPF e também da comunicação social, que poderia ajudar na divulgação de todos os casos.
Os adeptos não merecem este tipo de futebol. Agora é esperar que na próxima época as coisas corram pelo melhor. Para já, a preparação está atrasada, visto que ainda não se sabe a divisão das séries, o que pode causar transtorno, principalmente às equipas das ilhas.