A voz dominante dos estudantes afirma: “Não existe uma avaliação contínua no ensino superior”. Para além disso, a avaliação sumativa é superior à formativa.

“Existem dois a quatro momentos de avaliação, ponto. Isto não é contínuo”. Esta é a opinião maioritária dos estudantes que participaram no projeto “Avaliação no Ensino Superior”. As conclusões resultam do estudo sobre a “Avaliação no Ensino Superior: Conceções e Práticas” das investigadoras Assunção Flores e Clara Coutinho, da Universidade do Minho, que foram apresentadas esta quarta no Meliã Braga Hotel & Spa.

A sessão contou com a presença e comentários de Jorge Adelino da Costa, vice-reitor da Universidade de Aveiro, de Patrícia Rosado Pinto, pró-reitora da Universidade Nova de Lisboa, de Ana Margarida Veiga Simão, professora da Universidade de Lisboa e do secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Sobrinho Teixeira.

Para o vice-reitor da UA “há um potencial muito interessante de como podemos agir melhor em várias áreas com ajuda destes dados”. Jorge da Costa sublinha a importância dos dados para serem tomados “quer como informação, mas também como apoio à tomada de decisões (nas instituições)”

“A dicotomia entre a investigação e prática pedagógica no ensino superior é uma falácia”, afirma a pró-reitora, Patrícia Pinto, que admite a relevância da investigação na abertura de “uma agenda de reflexão no ensino superior”. O estudo prova que “outras metodologias de avaliação podem ser tão securizantes como utilizar um teste”. Acrescenta ainda que a mudança “tem de estar alinhada entre modificar práticas pedagógicas e modificar práticas de avaliação”.

João Teixeira, secretário de estado, deixa um apelo à influência da autoestima nos jovens no sucesso escolar. Considera que “um processo de avaliação que se destina apenas a selecionar os melhores e a promover apenas o mérito é em si próprio uma forma de avaliação que exclui e desanima”.

A partir do livro “Avaliação no Ensino Superior: Conceções e Práticas” pode concluir-se que os estudantes associam “mais o propósito sumativo à avaliação” (notas, testes/exames e verificação de conhecimento) “do que o propósito formativo” (reflexão, aprendizagem, participação, ajuda e sucesso). Ou seja, a avaliação sumativa tem uma prevalência sobre a formativa.

No mesmo sentido está o discurso dos professores participantes na investigação que alinham em narrativas do género “No meu caso, como nos meus colegas, a avaliação é sempre baseada em exames (…) eu continuo com a avaliação por exames porque acho que dentro do contexto e da formação que temos é a única forma de conseguirmos que o sistema funcione” conforme afirmação de um dos professores participantes.

O estudo das investigadoras da academia minhota revela ainda que para a maioria dos docentes inquiridos, Bolonha não alterou a forma como estes avaliam os alunos. Apuraram que o tempo de curso é cada vez menos suficiente dado que muitos alunos terminam o curso com menos qualidade e menos conhecimento do que as anteriores licenciaturas.

Na apresentação dos dados foi ainda destacado que o processo de Bolonha infantilizou o ensino e, por consequência, a aprendizagem. Conduziu assim à necessidade de novas estratégias de ensino e aprendizagem e de avaliação. Para alguns participantes Bolonha não passa de uma “formalidade administrativa”.

Coordenado por Assunção Flores e Clara Coutinho, o projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), decorreu nos últimos 3 anos em 5 universidades públicas junto de estudantes e professores de todas as áreas do conhecimento e ciclos de estudo. Contou com respostas ao inquérito por questionário de 5549 estudantes e 185 professores, e participação nos grupos focais de 250 estudantes e 99 professores.