Spider-Man: Far From Home surge como uma suave passagem para a nova era do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). São ainda esclarecidas algumas das questões deixadas em aberto em Avengers: Endgame.
Em contraste com o tema pesado de Endgame, Far From Home opera mais como um filme juvenil. Chegam até a ser feitas várias piadas com algumas das cenas e desfechos mais avassaladores do anterior.
É neste espírito que Peter Parker (Tom Holland) embarca numa viagem de estudo pela Europa com os colegas, com a intenção principal de confessar o que sente por MJ (Zendaya). No entanto, o aparecimento de um vilão (cujo o nome não posso dizer sob a pena de revelar spoilers) coloca os planos de Peter em risco, até porque Nick Fury não pretende dar as tão merecidas férias ao Homem-Aranha, proclamado sucessor do Homem-de-Ferro.
Ao longo de todo o filme acompanhamos as tentativas falhadas de Peter em confessar à personagem de Zendaya o que sente por ela, com sucessivas interrupções relacionadas à faceta de herói ou por meros colegas da turma que poderão vê-lo como um rival. É graças a este lado romântico que conhecemos um pouco melhor MJ, bem como o porquê desta ser tão fechada e distante. Para além disto, o romance dá origem a algumas das cenas mais hilariantes da obra, protagonizadas pelo melhor amigo do protagonista, Ned (Jacob Batalon).
Mas Far From Home está longe de ser apenas uma leve comédia romântica sobre o mais jovem herói da Marvel. A elevada carga emocional não nos deixa esquecer os acontecimentos dos dois últimos grandes filmes do MCU. Tudo aquilo por que Peter passou desde Infinity War até ao final de Endgame deixou cicatrizes profundas.
É assim que nos apercebemos que ele é apenas um adolescente de 16 anos que tomou o cargo de adulto de proteger a Terra – uma responsabilidade que não lhe permite tirar férias e ainda o sobrecarrega com as consequências. A perda do mentor é, talvez, a mais evidente, e chega até a deixar dúvidas e inseguranças na mente do herói acerca da capacidade de realmente ser um Vingador.
Ainda que não esteja fisicamente presente no filme, Tony torna-se um ponto fulcral no desenvolvimento da história. Em primeiro lugar, pelo impacto emocional e psicológico em Peter. Para além disto deixou possíveis motivações ao vilão desta sequela. Finalmente, pela responsabilidade que é assumir o legado que largou.
A pressão posta sobre os ombros do jovem de suceder ao mentor torna-se não só um dos pontos fracos do herói, mas demonstra aos espectadores a profundidade da relação dos dois, o que dá origem a algumas das cenas mais sentimentais do filme. Esta pressão agrava-se com o facto de ser crucial para o rapaz manter o anonimato, algo que se prova extramente difícil, especialmente tento em conta que Stark nunca escondeu a identidade como homem de ferro.
Tudo isto é, claro, aproveitado pelo vilão que (sem dar grandes spoilers), numa das melhores sequências de efeitos especiais, joga com a mente do Homem-Aranha. Este jogo acontece tanto com pela exploração das fraquezas emocionais, bem como ao tocar em pontos que abriram feridas que haviam sido ignoradas. O herói fica perdido entre o que é ou não realidade e como navegar dentro dela, visto que o oponente é ótimo na arte da manipulação. A icónica linha de Thanos – “Reality can be whatever I want” (“A realidade pode ser aquilo que eu quiser”) – quase poderia reaparecer neste pós Endgame.
A evolução em relação ao seu antecessor – Spider-Man: Homecoming – é notável. O desenvolver do filme, desde o início até ao verdadeiro desenrolar da ação, não nos deixa de todo aborrecidos nem apresenta um ritmo lento como foi observado no anterior. Há sempre algo a acontecer, seja do lado heróico, romântico, ou uma introspeção aos sentimentos de Peter. Apresenta também imensa ação – algo que faltava ao antecessor -, com sequências mais longas e complexas, dignas de uma obra de um Vingador.
A aposta nos efeitos especiais e CGI (imagens geradas por computador) deu todo um outro relevo à história, com cenas admiráveis que não ficam atrás de Endgame. É percetível que o diretor arriscou mais nos planos e movimento de câmara em Far From Home, e visto que o Homem-Aranha é um herói com tanta dinâmica física, era importante explorar as diferentes posições e pontos de vista que nos traz, até para aumentar o realismo.
Mas as surpresas não acabam. Para os mais atentos há uma abundância de “eastereggs” e referências por todo o filme, pequenas chamadas de atenção às bandas desenhadas e projetos anteriores como mencionado acima. São ainda relembradas as versões do Homem-Aranha de Tobey Maguire e Andrew Garfield e até à animação Spider-Man: Into the Spider Verse.
Far For Home é assim uma introdução ao novo e promissor universo da Marvel, com Peter a liderar, ainda que de forma incerta, a nova era de super-heróis. Com tudo o que aconteceu nos últimos dois grandes filmes do MCU, será interessante ver se os Vingadores mais jovens estão à altura de grandes ameaças. Peter Parker parece estar, ainda que a ausência de Tony o abale, é também uma motivação para continuar a evoluir, do amigável Homem-Aranha da vizinhança para um verdadeiro Vingador.
Título Original: Spider-Man: Far From Home
Realizador: Jon Watts
Argumento: Chris McKenna, Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Samuel L. Jackson, Zendaya
USA
2019