O álbum False Alarm é uma junção suave entre vários estilos musicais que culmina numa experiência sonora desafiante. Assumindo-se como o quarto projeto de estúdio de Two Door Cinema Club, este é o projeto da banda que prova que correr o risco na aposta de algo inovador, por vezes, tem tudo para correr bem e para não perder a essência.

Ritmo, energia, entusiamo e sensacionalismo são algumas das qualidades que a banda irlandesa deixa impressas na maioria das produções e atuações que faz, e este aspeto não se altera no trabalho feito em False Alarm. No entanto, há elementos que trazem mais cor a este álbum, fazendo dele um potencial destaque na discografia de Two Door Cinema Club.

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A maneira irregular como as músicas se encontram produzidas, a introdução de sintetizadores, tal como elementos de Funk, Soul, Pop e Disco, e a escolha de um discurso mais enriquecido nas letras são caminhos que se entrelaçam, com destino a um projeto bem-sucedido.

Constituído por dez faixas, False Alarm representa uma abordagem geral dos tópicos mais alarmantes que têm vindo a ser discutidos, atualmente, pelo mundo inteiro. É o caso dos problemas ambientais, a prisão que as redes sociais conseguem ser e a preferência da vida virtual à realidade. A forma satírica e sarcástica com que os versos estão escritos mostra que este não se trata apenas de um disco para se ouvir e ganhar vontade de dançar, mas também para refletir sobre aquilo que faz chegar aqueles que o ouvem.

Once” é a faixa de abertura do álbum, sendo também o primeiro passo para o universo elaborado de False Alarm. A música inicia com um som acelerado, dando a sensação de que o tempo está a ser puxado para a frente, para depois colidir com o ritmo base.

Batidas e sintetizadores são o que mais se faz ouvir ao longo da faixa, o que serve de uma constante ritmada e sólida para a letra que arrasta consigo. Aqui é retratada a forma como uma pessoa se torna dependente de mostrar tudo o que faz, necessitando da aprovação dos outros e sendo incapaz de guardar algo no seu íntimo (“Once in a lifetime / You give it away soon as you found it). A melodia alegre e frenética que a música tem permite ver até que ponto esta faixa consegue estar dotada de ironia. Contudo, apesar de bem produzida, a música acaba por cair na monotonia.

O alinhamento prossegue com “Talk”, a faixa que dá acesso ao lado mais energético do álbum. Com um som já característico de Two Door Cinema Club, esta é uma das músicas que pode ser considera o hit do disco.

Marcada por linhas de baixo bem presentes, guitarras abafadas e batidas fortes com mistura de sintetizadores, “Talk” consegue penetrar nas cabeças daqueles que a ouvem. A letra também ajuda nesse aspeto, nomeadamente o refrão, por ser bastante ritmado e por estar construído com frases simples mas impactantes.

Satisfaction Guaranted” e “Nice To See You” inserem-se neste lado mais eufórico de False Alarm. A primeira conta com a participação da banda Mokoomba, um grupo do Zimbabué, que traz à música um toque de Funk. Toda ela representa uma crítica à sociedade de consumo, que se oculta nas melodias dançantes que apresenta.

Já “Nice To See You” conta com a participação do artista Open Mike Eagle. Uma mistura consistente entre indícios de Rock e Rap, esta é uma faixa que prova que envolvência de ritmos e melodias desalinhadas conseguem ter uma sonoridade agradável. Em semelhança com as faixas anteriores, esta também é uma música que aborda um dos problemas sociais: viver constantemente atrás de um ecrã.

A música que mais se destaca do álbum é a “Think”. Relativamente à musicalidade foge completamente daquilo a que Two Door Cinema Club têm vindo a habituar os seus fãs. A intensidade frequente da banda dá lugar a uma atmosfera mais pacífica e introspetiva, não sendo arriscado dizer que o Indie Rock é substituído por toques de R&B.

A letra põe de lado a ironia sentida nas músicas anteriores e dá lugar a um desabafo sincero para se encarar a realidade tal como ela é e como deve ser vivida. A distorção vocal de Alex Trimble também contribuiu para distinção de “Think” relativamente às restantes faixas, pois confere-lhe um tom mais feminino. Esta é capaz de ser uma das melhores, senão a melhor composição de todo o álbum.

Na reta final do álbum encontram-se duas faixas, uma destaca-se pela positiva e outra pela negativa. “Satellite” apresenta muitas qualidades sonoras no que toca à sua dinâmica e à mensagem subliminar que traz com a letra. Esta é uma das músicas que ouvida, facilmente se identifica que é da autoria da banda irlandesa. Feita à base de ritmos acelerados misturados com melodias mais tranquilas, a ideia aqui presente é a de que todos nos devemos unir para solucionar os problemas que incidem no mundo atual.

Por outro lado, “Already Gone”, a faixa que encerra o disco, é uma música que cai na monotonia. Apesar de a letra apresentar um romantismo interessante não deixa vontade para ser ouvida até ao fim. Para além disso, a música é cortada a meio da última frase o que dá a sensação de algo incompleto, deixando o final da música num ponto de interrogação.

Em considerações finais, False Alarm pode ser mesmo encarado como um falso alarme. A expectativa de um álbum previsível foi contrariada. É nas transições entre as dez faixas que se torna notório que Two Door Cinema Club tiveram como intuito pintar novas cores no seu reportório, conseguindo deixar uma tela inovadora e agradavelmente satisfatória de se apreciar.

No fundo, e anaforicamente falando, assiste-se aqui ao parcial abandono de uma banda que produz músicas com a intenção de fazer atuações de maneira a encher os grandes palcos, para uma banda que se virou mais para si mesma e explorou o desconhecido. Neste seguimento de ideias, o álbum reflete o poder criativo da banda, tal como evidencia a capacidade da mesma em continuar a criar o efeito surpresa nas suas produções.